14/10/2021 - 21:27
A B3 divulgou em agosto um levantamento que mostra que houve 43% de aumento no número de investidores no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2020: foram 3,8 milhões de contas. Grande parte dos novos investidores são pessoas físicas com investimentos em renda variável que somaram R$ 545 bilhões, 55% a mais que no ano anterior.
Novos investidores, no entanto, enfrentam dúvidas sobre onde, como investir e quais são seus próprios perfis: arrojados, conservadores, se buscam rendimento a curto ou longo prazo. Para tirar essas dúvidas, a IstoÉ Dinheiro conversou com dois especialistas em investimentos que forneceram dicas básicas para quem está começando.
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Perfil de investidor
Em primeiro lugar é preciso saber qual estratégia adotar em relação a risco, prazo de resgate, carência, capital inicial investido, tributação e contexto econômico e político.
“Normalmente, o iniciante deseja ser mais conservador. Existem aplicações de muito risco que o iniciante não quer aplicar e está relacionado à educação financeira. No ambiente econômico em que estamos, temos claramente a tendência de alta do IPCA e da Selic, então aplicações indexadas a essas variáveis são relevantes”, explica Agostinho Celso Pascalicchio, professor de economia da Mackenzie.
Geralmente, quem está pouco disposto a correr riscos aplica na tradicional caderneta de poupança, que se torna atrativa com a alta da Selic. No entanto, como o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar novamente, ainda neste mês, a taxa básica de juros, o cálculo de rendimento da poupança volta a ser como era até 2012:
Selic até 8,5% ao ano: poupança rende o equivalente a 70% da Selic mais a variação da Taxa Referencial (TR), que hoje é zero. Uma aplicação de R$ 100 reais terá rendimento de R$ 3,68 ao longo de 12 meses.
Selic maior que 8,5% ao ano: poupança vai render 0,5% ao mês mais a TR, rendimento de 6,17% ao ano. R$ 100 rendem R$ 6,17 em um ano.
CDI e títulos isentos de imposto
Já Vinicius Machado, economista e gestor de investimentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), afirma que aplicações isentas de tributação podem ser boas opções a novos investidores, como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
“Títulos isentos são ótimas opções porque o imposto de renda para títulos como o CDB é decrescente: começa em 22% e cai até 15% em dois anos. Isso faz com que o título isento seja uma grande vantagem para pessoas físicas que irão investir. De modo geral, esses títulos têm investimento a partir de R$ 1 mil, acessível em todas as corretoras, um investimento seguro que conta com o fundo garantidor de crédito da LCI e LCA”.
O Banco Central determina que todos os bancos devam fechar positivamente diariamente. Quando isso não acontece, o banco toma um empréstimo para fechar o dia superavitário. Os juros desses empréstimos são definidos pela Taxa CDI. O CDI também determina o rendimento anual de diversos tipos de investimento – em 2020, a taxa CDI foi de 2,75% ao ano.
Títulos tributáveis
Os impostos são cobrados de forma regressiva: quanto mais tempo o dinheiro fica investido, menor o imposto cobrado.
A regra geral aos títulos tributáveis, como o Tesouro Direto, Tesouro IPCA, Tesouro Selic, Tesouro pré-fixado, CDI, CDB é:
– Até 180 dias: 22,5%;
– Entre 180 e 360 dias: 20%;
– Entre 361 e 720 dias: 17,5%;
– Acima de 720 dias: 15%.
Portanto, é essencial fazer um planejamento que permita o investimento no longo prazo, sem precisar de resgate para resolver problemas de liquidez.
Títulos pré-fixados e pós-fixados
Quem compra um título público através do Tesouro Direto adquire títulos da dívida pública do governo federal, ou seja, torna-se credor do governo. O título pode também pertencer a alguma empresa – de preferência que você confie. O retorno deste investimento é o valor da aplicação mais os juros acumulados e as correções. Todos esses títulos têm liquidez diária – são depositadas na conta do investidor no dia seguinte ao pedido de resgate.
Os títulos prefixados têm rentabilidade/juros predefinidos quando o investidor compra o título. Eles são mais interessantes quando o investidor tem a necessidade de resgatar um valor específico a cada período menor de tempo. Uma LTN (Tesouro Prefixado), por exemplo, permite saber quanto irá receber por mês. Eles são atrativos quando o investidor acha que os juros irão cair – o que não é o contexto atual.
Já os título pós-fixados têm a rentabilidade anexada a um indexador, como o Tesouro IPCA, atrelado à inflação (rendem acima da inflação e ideais a longo prazo) ou o Tesouro Selic, atrelado à taxa básica de juros (indicada a curto prazo e com baixo risco em caso de venda antecipada).
Pós-fixado: rentabilidade por indexador – mais seguro;
Prefixado: rentabilidade predefinida – mais arriscada, pois sofre variação.
Pascalicchio diz que “estamos na época das aplicações indexadas, pós-fixadas na variação – tanto da Selic como do IPCA – mais uma taxa de juros”.
Educação financeira
O professor do Mackenzie ainda lembra o que chama de regra de ouro:
– 50% da renda com gastos de rotina;
– 35% para imprevistos (presentes, lazer);
– 15% para poupança, sendo 10% para realizar sonhos, como viajar, comprar um carro, e outro 5% para investimentos a longo prazo.
“Dependendo da faixa etária é interessante também pensar na aposentadoria, em fundos de investimento ou fundo de previdência. Apesar do fundo de pensão, temos isenção de Imposto de Renda a esses recursos, mas a rentabilidade oferecida pelo sistema financeiro está aquém das alternativas de fundos de investimentos que estão no mercado”, aponta Pascalicchio.
Grandes atalhos
Machado ressalta também a importância de desconfiar de grandes oportunidades financeiras para evitar tanto fraudes como maus investimentos.
“Os melhores investimentos do mundo dão retorno de inflação mais 8%, algo realmente espetacular. Temos que ser realistas: ganhar 30% ao ano não é muito justo, uma expectativa muito além do que é plausível. Dois terços dos fundos rendem menos que o IPCA mais 3%, sem o Imposto de Renda”.
Descubra qual o seu perfil de investidor:
Investidor conservador
Resgate do dinheiro em 1 ano: todo recurso em uma conta remunerada de banco a 100% do CDI.
Resgate do dinheiro em mais ou menos 3 anos: 30% em títulos isentos de 1 ano pré fixado; 20% em IPCA + isento de 3 anos; 50% em conta remunerada de banco a 100% do CDI.
Sem perspectiva de resgate: faz sentido buscar investimentos moderados para longo prazo.
Investidor moderado
Resgate do dinheiro em 1 ano: 50% em títulos isentos de 1 ano pré fixado; 50% na conta remunerada de seu banco a 100% do CDI.
Resgate do dinheiro em mais ou menos 3 anos: 40% em fundos multimercado; 40% em IPCA mais isento de 3 anos; 20% em conta remunerada de banco a 100% do CDI.
Sem perspectiva de resgate: no curto prazo, a melhor opção é ser conservador.
Investidor agressivo
Resgate do dinheiro em 1 ano: 10% em fundos de ações; 30% em fundos multimercado; 40% em IPCA + isento de 3 anos; 20% em conta remunerada de banco a 100% do CDI.
Resgate do dinheiro em mais ou menos 3 anos: 10% em fundos de ações; 30% em fundos multimercado; 40% em IPCA + isento de 3 anos; 20% em conta remunerada de banco a 100% do CDI.
Sem perspectiva de resgate: 30% em fundos de ações; 40% em fundos multimercado; 15% em IPCA + isento de 3 anos; 15% em conta remunerada de banco à 100% do CDI.