O que você faria se em 2004 um amigo lhe pedisse US$ 1.000 emprestados para desenvolver um site que compara a beleza dos alunos de uma faculdade? O brasileiro Eduardo Saverin passou por uma situação como essa ao ser abordado por seu colega da Universidade Harvard, um certo Mark Zuckerberg, e topou a empreitada. O resultado é que hoje Saverin é dono de 4% do Facebook, o resultado da ideia do nerd americano, o que lhe garante uma fortuna estimada em US$ 3,4 bilhões. Para quem ficou morrendo de inveja, saiba que há centenas de candidatos a Zuckerberg no Brasil pedindo investimentos para darem partida em seus negócios. 

 

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Aposta barata: Victor Sadalla, do BNI, quer baixar cada vez mais o valor

mínimo para investir em start-ups

 

E nem é preciso tanto dinheiro: dá para ajudar com aportes menores que o de Saverin, bastam apenas R$ 100. Para fazer essa ponte entre investidores e empreendedores, surge no Brasil uma nova modalidade de investimento apelidada de ?crowd equity? (investimento de multidão, em tradução livre). O processo é rápido e sem burocracia. O Brasil conta com pelo menos quatro projetos que podem fazer o País tomar a dianteira mundial dessa tendência. O crowd equity é uma derivação do crowdfunding, que, em troca da verba para concretizar um projeto, dá prêmios únicos e exclusivos aos apoiadores. É comum, por exemplo, que os financiadores de um projeto de livro ganhem o direito de constar na lista de agradecimentos da obra. 

 

Caso o valor arrecadado não atinja o objetivo proposto inicialmente, os doadores recebem o dinheiro de volta. O crowd equity é parecido, só que o prêmio é a participação acionária na empresa. Ao empreendedor interessado, basta cadastrar sua empresa ou seu projeto em uma das plataformas esclarecendo quanto precisa arrecadar e o que vai fazer com o dinheiro. A empresa que faz a intermediação do investimento coletivo fica com uma fatia do valor arrecadado, que varia de 5% a 9%. Um benefício colateral para o empreendedor é saber, de acordo com o interesse suscitado, se na avaliação da ?crowd? seu negócio vale a pena. ?Se a ideia é boa, vai bater a meta proposta?, diz Paulo Deitos, fundador da gaúcha Empreenda.VC, primeiro crowd equity a iniciar a operação no País, no primeiro semestre deste ano.

 

As pesquisas de mercado para o Empreenda.VC começaram em 2010. De lá para cá, o segmento ganhou uma referência internacional: a britânica Crowdcube. Desde que foi fundada, em 2011, a empresa já intermediou a injeção de mais de US$ 15,5 milhões. Após expandir-se recentemente por meio de licenciamento na Suécia, o próximo país a receber um escritório da Crowdcube é o Brasil. Por aqui, a plataforma vai ganhar o nome de EuSócio e será operada pelo empresário João Falcão. ?A empresa vai estar completamente adaptada às regras brasileiras, porém usando o know-how e a tecnologia do Crowdcube?, afirma. As primeiras ofertas devem ser publicadas a partir do final deste mês. 

 

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A hora é essa: Adolfo Melito, da Fecomércio, vê condições favoráveis

para o Brasil na nova modalidade de fomento às PMEs

 

Segundo Falcão, o modelo deve atrair inicialmente mais start-ups, em princípio mais dispostas a experimentar. Porém, à medida que o crowd equity for se popularizando, a ideia é atrair outros tipos de negócios. O Banco de Negócios Inclusivos (BNI), start-up vinculada à incubadora da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, vai estrear no final do ano sua plataforma em cinco segmentos, social, tecnológico, web, economia criativa e tradicional. A meta do BNI é expandir a base de microinvestidores derrubando a participação mínima necessária. ?Vamos começar com R$ 100, mas com o passar do tempo queremos diminuir para até R$ 2?, afirma Victor Sadalla, fundador do BNI. 

 

?Trabalharemos sempre com pequenos negócios, pois há regras complicadas quando se envolve investimento em grandes companhias?. Por serem pequenas empresas, as companhias participantes do crowd equity são isentas de registro na Comissão de Valores Mobiliários. Entretanto, o órgão informou em nota que está ?permanentemente modernizando a regulamentação do mercado de capitais?. Não há estudos sobre o crowd equity no momento. Para Adolfo Menezes Melito, presidente do conselho de criatividade e inovação da Fecomércio, estão dadas as condições para o Brasil tomar a frente desse segmento. 

 

?Lá fora a coisa está devagar, enquanto aqui no Brasil há um ambiente favorável para a disseminação do crowd equity.? O próprio Melito vai lançar ainda neste ano uma plataforma, que conta com apoio da Fecomércio. O diferencial será uma curadoria de investidores profissionais, fruto de um convênio com a Anjos do Brasil, entidade de fomento de investimentos-anjo. ?Esse investidor líder vai avalizar a ideia?, afirma Melito. Ele acha viável um ritmo de duas start-ups novas por mês em seu crowd equity. ?Os brasileiros nunca tiveram acesso a isso, nunca ninguém veio oferecer um Facebook para investir?, diz Melito. ?Agora estão dadas as condições para isso.? Quem se anima?

 

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