A manutenção de uma bicicleta não era coisa simples lá pelos idos de 1950 em Pedregulho, interior de São Paulo. O produto era importado e as peças de reposição, artigos raros. Os proprietários, então, se desfaziam delas quando algum componente quebrava. Mas o menino Orestes Quércia e um amigo recolhiam as bicicletas rejeitadas, consertavam e as revendiam por um bom dinheiro. Desde então, o porte dos negócios de Quércia multiplicou-se e a área de atuação estendeu-se para todo o País, mas, de certa forma, a filosofia de negócios permanece. Quércia adora comprar empresas com passado glorioso mas decadentes, recuperá-las e vendê-las por preços algumas dezenas de vezes superior ao de aquisição. ?Estou sempre disposto a adquirir ou me desfazer de um negócio desde que a proposta seja boa?, resume ele à DINHEIRO.

Foi assim que ele montou um grupo empresarial cujo patrimônio atinge hoje R$ 250 milhões. Todos conhecem Quércia, o político, o ex-governador de São Paulo. Poucos sabem de Quércia, o empresário. Só no setor de mídia, ele avançou com grande força nos últimos tempos e está ampliando horizontes. Já tem seis estações de rádio FM, uma AM, além de duas emissoras de tevê retransmissoras do SBT e um jornal, o DCI. O portfólio do grupo ainda inclui quatro shopping centers e fazendas com 1,1 milhão de pés de café e cinco mil cabeças de gado nelore ? além de centenas de imóveis e terrenos, cujo número exato ele não revela. Juntas, as empresas garantem faturamento anual declarado de R$ 50 milhões.

Sua mais recente tacada é a recuperação do Hotel Jaraguá, no centro de São Paulo. Na década de 50, o hotel era um ponto de referência na cidade, até que a queda de prestígio da região o levou a fechar as portas. Quércia está investindo R$ 40 milhões para erguer no local um pólo de negócios, com centro de convenções, teatro, escritórios, restaurantes, além, é claro, de um hotel com
415 apartamentos. O empreendimento será batizado de Holiday Inn Select Jaraguá. ?Quero aproveitar o projeto de recuperação do centro de São Paulo?, diz Quércia.

O dinheiro utilizado no renascimento do Jaraguá foi arrecado em outro lance de sucesso. Em 2001, ele vendeu o Diário Popular para o grupo Globo, controlado pela família Marinho. O valor da operação não foi divulgado, mas fala-se em R$ 200 milhões ? o ex-governador embolsou R$ 100 milhões e a Globo assumiu dívidas no mesmo valor. Anos antes, o jornal, mergulhado em problemas, havia sido adquirido por R$ 5 milhões. ?Foi o melhor negócio de minha vida?, diz Quércia. Meses atrás, ele repetiu a dose. Arrendou por 50 anos o título DCI ? Diário do Comércio e Indústria, que já teve seu período de apogeu e definhou durante anos até sair de circulação.

Apesar da intensa atividade política, sobretudo este ano,
quando pretende disputar o Governo do Estado ou uma vaga no Senado, Quércia controla seus negócios ?com olhos de lince?.
As quintas-feiras são reservadas para esse assunto. À frente de cada uma das atividades, coloca um executivo de sua confiança. Parente, nem pensar. Uma equipe de auditoria, que trabalha um andar abaixo de seu escritório, faz relatórios periódicos sobre as empresas. De tempos em tempos, contrata uma firma de auditoria externa para refazer o trabalho. Não satisfeito, uma vez por mês debruça-se sobre os números das companhias. ?Sou um centralizador danado?, admite ele.