31/03/2004 - 7:00
?As teles são arrogantes. Fizeram um filme com a Gisele antes de ganhar a briga?
O Carlos Slim é brilhante. Ele valorizou todas as empresas que comprou
DINHEIRO ? A Embratel acaba de ser comprada pela mexicana Telmex. Isso é bom para o Brasil?
JORGE RODRIGUEZ ? A resposta tem que levar em conta a outra alternativca, que era a venda para as três operadoras fixas, para ?os três amigos?. Diante disso, o resultado da venda foi bom para a empresa, para os seus acionistas e para os seus funcionários.
DINHEIRO ? Por quê?
RODRIGUEZ ? A venda para a Telmex significa continuidade e fortalecimento das operações. É uma empresa do ramo de telecomunicações, que entende o negócio, conhece a posição da Embratel no mercado e já tinha interesse na empresa. Além disso, a Telmex é um dos principais investidores do mercado brasileiro de telefonia celular. E assim como a Telefônica tem a Vivo e a Telemar tem a Oi, a Embratel agora estará junto da Claro.
DINHEIRO ? Mas a proposta das três operadoras era maior. Por que a MCI, dona da Embratel, aceitou receber apenas US$ 360 milhões da Telmex se poderia ganhar US$ 550 milhões das teles?
RODRIGUEZ ? O preço é só parte da proposta. Você tem de considerar a possibilidade de, efetivamente, fechar o negócio.
E a proposta das três operadoras tinha um risco regulatório
muito claro. Quem garante que seria aprovada pelo governo
e pelos órgãos antitruste?
DINHEIRO ? Os executivos das teles pareciam confiantes.
RODRIGUEZ ? Eu li um depoimento do Otávio Azevedo, da Telemar, e ele disse que se a proposta não fosse aprovada pelos órgãos de defesa da concorrência, a MCI receberia apenas US$ 50 milhões. Sendo assim, eu acho que o acionista fez o que lhe parecia mais prudente. Até porque o dano para a Embratel seria enorme em caso de venda para as teles.
DINHEIRO ? Como assim?
RODRIGUEZ ? Se as três operadoras podem pagar apenas US$ 50 milhões para garantir um monopólio, num setor que movimenta bilhões, eles também poderiam deixar a Embratel no limbo. Imagino que isso criaria muita incerteza.
DINHEIRO ? A percepção externa é de que o governo Lula apoiava a proposta das teles.
RODRIGUEZ ? Eu penso que o governo brasileiro agiu de forma muito correta, ou seja, sem apoiar ninguém. Pelo menos, foi isso que eu ouvi de vários ministros e autoridades da República. Sempre disseram que era uma transação de partes privadas, que deveria ser resolvida sem influência externa.
DINHEIRO ? Com quem o sr. tratou dessa questão em Brasília?
RODRIGUEZ ? Não quero nomear os ministros. Mas foram vários. E a mensagem era sempre a mesma.
DINHEIRO ? Mas o BNDES admitiu que entraria com US$ 220 milhões na proposta das teles.
RODRIGUEZ ? Esse apoio só aconteceria depois de confirmado o resultado. Não era uma disposição prévia de ajudar. Eles poderiam até apoiar o consórcio do Telos, o fundo de pensão dos funcionários.
DINHEIRO ? Por que o sr. considera tão ruim a proposta das teles fixas?
RODRIGUEZ ? A estratégia dos três amigos é enfraquecer a Embratel. Eles queriam fatiar e esquartejar a empresa. Os serviços de longa distância, os do 21, ficariam com a empresa Geodex. O mercado corporativo e de transmissão de dados, que é o mais importante, ficaria com as três teles ? e se isso acontecesse, pobres das empresas brasileiras que ficariam reféns de um monopólio. Por último, haveria a separação das atividades de satélite. O final seria o enfraquecimento da empresa. Dizer que eles iriam estimular a concorrência é bobagem.
DINHEIRO ? No dia do negócio, as ações ordinárias da Embratel caíram 25%. Por
que isso aconteceu?
RODRIGUEZ ? Há vários acionistas. Existem os donos de ordinárias e os detentores de preferenciais. Estas últimas subiram. No caso das ordinárias, as ações caíram porque houve gente especulando sobre o valor que teria a oferta. Talvez até alguns analistas tenham tido informações fornecidas pelas três operadoras fixas. É uma pena que alguns investidores tenham sido levados a acreditar em projeções falsas.
DINHEIRO ? Por quê?
RODRIGUEZ ? Veja o caso da Geodex. Na nossa visão, decorrente do que apareceu nos registros comerciais, a Geodex tem um vínculo muito estreito com a GP e a lei é clara. Não permite que um mesmo acionista controle duas concessões. Depois, apareceu a história de que o Unibanco controlaria a Geodex. O banco veio e desmentiu. Disseram que eles têm apenas um ?trust?, que é uma construção feita quando os donos não querem aparecer. É brincadeira. É a mesma coisa que fizeram há um ano, quando tentaram criar um fundo estrangeiro, disfarçando os donos, para comprar a Embratel. Por trás dessa operação, estão os suspeitos de sempre, como os acionistas da Telemar e o Opportunity, que controla a Brasil Telecom. A Telefônica entrou de forma defensiva, porque não poderia ficar de fora de uma operação como essa.
DINHEIRO ? No mercado de serviços para as empresas, quais seriam os efeitos da venda da Embratel para as teles fixas?
RODRIGUEZ ? O mercado de transmissão de dados é muito competitivo e a Embratel é a única empresa que concorre nacionalmente. Enquanto nós somos sempre atacados no mercado
de longa distância, as teles fixas protegem suas áreas e têm
um acordo de cavalheiros entre si. Dividem o filão entre eles e
cobram um custo de interconexão altíssimo, dificultando a
entrada da Embratel. Somos a única ameaça.
DINHEIRO ? A Embratel passou a atuar também na telefonia fixa. Quais são os resultados?
RODRIGUEZ ? Apesar de todas as dificuldades, nós nos focamos num grupo de grandes empresas e, nessa fatia, conseguimos de 11% a 15% do mercado. Já atendemos companhias como Fiat, Unibanco, Citibank e White Martins. Eram empresas que antes estavam presas ao monopólio. Pela primeira vez depois da privatização, esses clientes tiveram a chance de fazer grandes economias.
DINHEIRO ? Por que a competição só beneficia as empresas?
RODRIGUEZ ? Esse é o primeiro passo. Nós, que compramos a Vésper, já começamos a testar um novo produto de telefonia fixa em cinco pequenas cidades do Brasil. É um produto que se chama Livre e permite fazer chamadas locais e interurbanas. Não tem assinatura e também não tem custo de instalação. Imagine a ameaça que isso representa para os três amigos das operadoras fixas. E isso mostra que é importante ter uma Embratel forte, com serviços residenciais, de longa distância e corporativos. Todos analistas dizem que a estratégia de atuar só em longa distância é suicida.
DINHEIRO ? O sr. se refere à Intelig?
RODRIGUEZ ? É um bom exemplo. Veja o que aconteceria
com a Embratel se as fixas a comprassem nessa brincadeira
da Geodex. Dividiriam o que dá dinheiro entre eles e a em-
presa depois desapareceria.
DINHEIRO ? O governo brasileiro diz ter interesse estratégico na operação dos satélites militares, que hoje é feita pela Embratel. Como será resolvido esse problema?
RODRIGUEZ ? O governo tem preocupações legítimas. Mas as comunicações militares já são operadas pelas Forças Armadas. Já era assim com a MCI e nunca houve nenhum problema desde a privatização. De todo modo, sempre existe espaço para negociar e essa conversa irá envolver os acionistas.
DINHEIRO ? Haveria uma ação com direitos especiais, uma golden share, para o governo?
RODRIGUEZ ? Pode ser. Mas na prática isso já existe. A Embratel tem a obrigação de prestar bons serviços para os militares e, se assim não fizer, a empresa perde a concessão.
DINHEIRO ? Cinco anos atrás, a Embratel foi vendida por US$ 2,3 bilhões. Hoje, o preço caiu para US$ 360 milhões. Por que tamanha queda?
RODRIGUEZ ? Os ativos de telefonia em 1998 e 1999 valiam mais. Outras empresas de telecomunicações, como Deutsche Telekom e France Telecom, também se desvalorizaram.
DINHEIRO ? Quer dizer que os ministros Sérgio Motta e Luiz Carlos Mendonça de Barros venderam caro a antiga Telebrás?
RODRIGUEZ ? Eu diria que venderam bem.
DINHEIRO ? O que o Brasil deve esperar da Embratel sob a gestão de Carlos Slim, da Telmex?
RODRIGUEZ ? O Slim é um empresário brilhante, que tem a reputação de valorizar todas as empresas que adquire, assim como seus clientes. Isso será feito. Ouvi dizer que a Rede Globo era contra a operação com a Telmex. Mas eles são grandes clientes da Embratel, assim como nós da Embratel somos clientes da Globo. Vai continuar assim. Além disso, a venda da Embratel para as fixas seria muito ruim para a publicidade.
DINHEIRO ? Como assim?
RODRIGUEZ ? A Embratel hoje compete no mercado. Por isso, é uma das empresas que mais investe em propaganda no Brasil. Mas não é comum ver propagandas da Telemar em São Paulo ou da Telefônica no Rio de Janeiro. As teles chegaram até a fazer um filme com a Gisele Bündchen para anunciar a compra da Embratel, mas seria um fenômeno pontual, que só demonstra a arrogância deles. Filmaram antes de ganhar. Depois, a publicidade sumiria porque a lógica deles é o monopólio, não a competição.
DINHEIRO ? Vocês, executivos da Embratel, foram criticados por supostamente sabotar a proposta das fixas. O certo não seria manter a neutralidade?
RODRIGUEZ ? No nosso dia-a-dia, mantivemos apenas a preocupação de valorizar a empresa e criar valor para os acionistas.
DINHEIRO ? Nesta semana, vocês levaram documentos aos órgãos antitruste acusando as teles de formação de cartel. Que documentos são esses?
RODRIGUEZ ? Veja, todas as negociações para a compra da Embratel nessa brincadeira da Geodex deixaram claro que eles estavam agindo de forma coordenada. Isso pode?
DINHEIRO ? Há alguns mexicanos no comando da Embratel. Vocês tiveram contatos prévios com o Carlos Slim?
RODRIGUEZ ? Bom, eu sou cubano. Temos executivos mexicanos, mas isso não diz nada. Não houve qualquer contato.
DINHEIRO ? Slim já lhe deu alguma instrução?
RODRIGUEZ ? A transação não foi concluída. E caberá aos
acionistas decidir se mantêm ou não a atual gestão. Por aqui, a
vida continua. Renegociamos a dívida, a empresa voltou a lucrar
e está investindo R$ 700 milhões. Nosso papel é sempre buscar o melhor para a Embratel. E, no que diz respeito à venda, aconte-
ceu o melhor também para o Brasil.