No filme Quero ser grande, estrelado pelo ator americano Tom Hanks, um menino sonha em crescer rápido para ter as vantagens de um adulto. O enredo de Hollywood bem que poderia se aplicado no mercado brasileiro de fundos de investimento. Estudo exclusivo realizado pelo economista Marcelo d’Agosto mostra que os pequenos poupadores investem em fundos que cobram altas taxas de administração e rendem bem menos do que os destinados aos grandes aplicadores. Nesse exemplo de capitalismo selvagem ocorre um subsídio às avessas: os pequenos pagam mais e lucram menos que os grandes. Segundo o levantamento, de cada R$ 1.000 que um cotista de pequeno porte ganha em uma aplicação, R$ 410 ficam com o gestor. Para os grandes cotistas, a mordida é de apenas R$ 50. No ano passado, os bancos ganharam R$ 3,7 bilhões só com a cobrança de taxas de administração sobre os fundos de renda fixa, os mais populares do mercado. Desse volume, R$ 2 bilhões foram pagos pelos pequenos investidores (aplicação mínima de R$ 5 mil), contra R$ 500 milhões desembolsados pelos grandes (contas com mais de R$ 100 mil). A diferença nos custos é gritante. Enquanto os menores pa-
gam, em média, 4,15% ao ano de taxa de administração, os maiores arcam com apenas 0,70% ao ano. ?Não faz o menor sentido cobrar 4,15% de um correntista que já paga várias outras tarifas para o banco?, afirma d’Agosto, autor do livro Como escolher o melhor fundo de investimento (Editora Letras & Lucros). ?Em todo lugar, quem tem mais ganha mais e paga menos, mas aqui no mercado brasileiro essa relação está exagerada?.

A comparação com o mercado americano é um bom exemplo. Segundo o ICI, o órgão que reúne os gestores de fundos de investimento dos Estados Unidos, a taxa média de administração dos fundos de renda fixa vem caindo. Era de 1,53% ao ano em 1980 e chegou a 0,88% ao ano em 2003 ? bem mais baixas que as cobradas no Brasil. Procurada por DINHEIRO, a Anbid, associação que reúne os bancos de investimento brasileiros, não se pronunciou sobre o tema. Na avaliação do professor William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos de Finanças da FGV-SP, as taxas cobradas nos chamados fundos de varejo (oferecidos pelos bancos para sua massa de clientes) são altas em função dos custos e do volume de trabalho. Entre eles está o grande número de cotistas, que geram despesas tanto de relacionamento quanto de fluxo de caixa. ?Em um fundo de varejo, a gestão de entrada e de saída de recursos é bem mais complicada do que em um fundo exclusivo, com pouquíssimos investidores?, compara Eid Júnior. Mesmo assim, o professor reconhece que as taxas cobradas pelos bancos poderiam ser bem menores. ?Uma taxa de administração de 2% ao ano seria um valor justo?, sugere. Só falta convencer os bancos. Definitivamente, quero ser grande.