04/09/2019 - 7:29
“Quero ver quem vai calar a minha boca”, esbravejou o deputado Boca Aberta (Pros-PR) no plenário da Câmara, no dia 15 de agosto, enquanto era contido por seguranças. Toda vez que ele se dirige para usar o microfone, os agentes se preparam. O jornal O Estado de S. Paulo presenciou duas vezes, no mês passado, os policiais legislativos se aproximarem do parlamentar antes mesmo de ele começar a disparar a sua metralhadora verbal.
Em primeiro mandato, Boca Aberta é o único deputado da atual legislatura com duas representações no Conselho de Ética da Casa. Até agora, queixas de colegas resultaram em dois processos que podem render de censura à cassação. Outras duas representações estão para serem formalizadas.
O estilo eloquente de Boca Aberta levou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a lhe dar um aviso, quase em tom paternal: “Calma. Assim você vai acabar tendo mais de cem representações”. O deputado atacava colegas que tinham deixado a sessão para ir ao Supremo Tribunal Federal protestar contra a transferência do ex-presidente Lula para São Paulo.
Ao jornal, Boca Aberta se autodefiniu. “Sou a trilha sonora dos excluídos. Terrorista verbal. Sanguinário na fala e eloquente no discurso.” O estilo boquirroto conquistou eleitores, mas desagrada a colegas. “É um golpe. Querem me calar porque falo o que eles não querem ouvir. Mas não vão. Nunca!”, afirmou.
Eleito com 90.158 votos, Boca Aberta tem sua carreira política marcada por processos judiciais desde o tempo em que percorria as ruas de Londrina com uma bicicleta motorizada – “Gracie Kelly, a bike terror” – denunciando problemas na segunda maior cidade do Paraná.
“Não estou aqui para fazer amigos. Já fui cassado por não sentar com os porcos para comer a lavagem e não vou sentar com eles aqui no Congresso, não”, disse ao Estado ao comentar a cassação que sofreu na Câmara Municipal de Londrina, em 2016.
O estilo o levou ao isolamento. Na sessão do Conselho de Ética que analisou seus casos, nenhum parlamentar o defendeu. O relatório do deputado Alexandre Leite (DEM-SP), pelo prosseguimento do processo, foi aprovado por unanimidade.
Hospital
O processo mais avançado envolve uma invasão de hospital público em Jataizinho (PR). Boca Aberta chegou ao local às 4h30, numa ação que batizou de “blitz da saúde”. Ao ser avisado de que o médico de plantão estava na sala de descanso, invadiu o local e acordou o médico. Filmou a cena e postou na rede social.
Na justificativa do processo que pode levar à sua cassação, o relator Alexandre Leite disse que Boca Aberta “abusou” das prerrogativas de deputado. “Se é público é meu. Entro e saio na hora que quiser. Não há invasão no que é público.”
A confusão mais recente foi em 15 de agosto. Incomodado com o colega, o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP) reclamou. “O que está virando isso, pelo amor de Deus. Nunca vi nada igual.” Boca Aberta não gostou. “Só vou calar a minha boca no dia em que meterem bala”, disse, fazendo som de disparos com a boca.
O Conselho de Ética tentou duas vezes notificar Boca Aberta sobre a abertura de processo disciplinar. Sem sucesso, a notificação foi publicada no Diário Oficial do último dia 30. Agora, ele tem dez dias úteis para se defender. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.