01/08/2007 - 7:00
ELCIONI, A VIÚVA DE QUEIROZ: para ela e os filhos, os documentos de transferência da empresa foram forjados
Acidentes aéreos como o do vôo 3054, da TAM, deixam marcas indeléveis, tanto na alma dos familiares e amigos das vítimas como no coração dos negócios. Até hoje, os acionistas do grupo CTIS, fornecedor de serviços de tecnologia de Brasília, convivem com os fantasmas da queda de outra aeronave da TAM, um Fokker 100, em São Paulo em 1996. Entre os cerca de 100 mortos estava Elias Alves de Queiroz, um dos sócios da empresa. Hoje, sua família e seu antigo sócio, Avaldir Oliveira, brigam na Justiça pelo controle do negócio, cujo faturamento em 2006 bateu na casa dos R$ 370 milhões. Oliveira conta que pouco antes da morte de Queiroz, eles haviam feito um acerto: as duas empresas ficariam com Oliveira, que pagaria apenas R$ 18 mil, já que uma das companhias estava muito endividada. Depois da morte, porém, Elcioni, a viúva de Queiroz, manifestou o desejo de manter uma das empresas. A outra ficou com Oliveira. Mas, ao verificar a situação financeira, Elcioni desistiu. Oliveira, então, aceitou a companhia de volta. A partir daí, o empresário reestruturou os negócios. Fundiu as duas companhias, injetou US$ 2 milhões (fruto da venda de uma participação na CPM) e equacionou o endividamento. “Os resultados foram muito bons”, diz ele. “Nossa rentabilidade atingiu 80% sobre o patrimônio.”
“Só agora, com o sucesso da CTIS, ela diz que é sócia”
AVALDIR OLIVEIRA, PRESIDENTE: ele diz que comprou a totalidade do capital, antes da morte do sócio
Tempos depois, a família Queiroz voltou a procurá-lo reclamando uma indenização pelo uso da marca CTIS. “Para não entrar numa disputa infindável, aceitei fazer um acordo judicial e paguei R$ 1,41 milhão em dez parcelas”, diz Oliveira. “Assim que acabei de quitar a última prestação, eles voltaram à carga exigindo um pagamento pela suposta participação acionária deles na empresa.” Segundo ele, tanto no primeiro como no segundo acordo, Elcioni aceitou que não havia qualquer outra pendência. Elcioni afirma que as coisas não foram bem assim. Logo após a morte do marido, ela teria sido procurada por Oliveira, que apresentou uma alteração contratual na qual Queiroz cedia a sua parte por livre e espontânea vontade. Ela teria aceitado o argumento. Dois anos depois, porém, os filhos decidiram desarquivar a papelada apresentada por Oliveira, desconfiados da veracidade da assinatura de Queiroz. O laudo pericial pedido pela Justiça atestou que a firma era verdadeira. Mas havia indícios de montagem, em que nomes e assinaturas foram colocados em momentos distintos à confecção de todo o documento. “Foi muito estranho o Avaldir aparecer com um documento datado de um mês antes da morte do meu pai”, afirma Bruno Queiroz, 30 anos, filho mais velho de Elias Queiroz. “Parecia até que ele tinha tramado a própria morte em um acidente aéreo.”
R$ 14,7 milhões era o faturamento da CTIS quando a disputa começou
Para Oliveira, o verdadeiro motivo para o interesse da família está no desempenho da CTIS. Da morte de Queiroz para cá, o faturamento da empresa saltou de R$ 14,7 milhões para R$ 370 milhões, no ano passado. O número de funcionários cresceu 325%. Nessa mesma época, começaram a surgir contratos polpudos com o governo. Em 2002, por exemplo, a CTIS foi a empresa escolhida pela Justiça Eleitoral para imprimir os cerca de 230 milhões de comprovantes de votação das eleições daquele ano, quando a rentabilidade da empresa aumentou 65%. Atualmente, a CTIS tem 91 contratos, em todos os Estados do País. No setor público, são 38 órgãos atendidos. No setor corporativo, são outros 53, entre os quais o Banco do Brasil, a Petrobras e a Gol. O negócio vai tão bem que a CTIS pretende estrear na Bolsa de Valores. Uma briga societária neste momento não ajuda em nada.