21/03/2022 - 8:42
Desde o início da ofensiva russa sobre a Ucrânia, a rádio local “Lvivska Khvylya” substituiu seus programas de entretenimento por uma edição especial permanente para informar sobre o conflito a seus dezenas de milhares de ouvintes no oste do país.
“Somos uma rádio musical e de entretenimento, mas também trazemos muita atualidade porque as pessoas necessitam de informação, sobretudo, neste momento”, explica Voldymyr Melnyk, locutor e apresentador de 28 anos em um pequeno estúdio em Lviv, a 80 quilômetros da fronteira com a Polônia.
Entre sucessos do rock ou música patriótica ucraniana, Melnyk e seu colega Andryi Antoniuk, de 41 anos, comentam a atualidade com humor nesta rádio local, uma das primeiras criadas após a caída da União Soviética.
– Cadeia de informação –
“Em tempos de guerra, temos a necessidade de transmitir algo positivo, podemos rir do Putin, das tropas russas que não conseguem tomar as nossas cidades, mas não podemos nos divertir como antes da guerra”, comenta Melnyk, que trabalha desde os 8 anos na rádio Lvivska Khvylya (a onda de Lviv, em ucraniano).
No dia 24 de fevereiro, quando começou o ataque russo, a equipe de 40 pessoas, incluindo 5 jornalistas e uma dezena de apresentadores, se colocou em pé de guerra pela segunda vez em sua história.
Em 2014, após a anexação da Crimeia e o início do conflito com os insurgentes pró-russos apoiados por Moscou no leste da Ucrânia, a rádio diversificou seus programas.
“A guerra afetou muito nosso trabalho porque também há um fator psicológico que, no início, nos impediu de trabalhar”, conta Marta Oliyarnyk, uma jornalista de 27 anos que esconde sua emoção atrás de seus grandes óculos redondos. Inclusive como profissionais, “os acontecimentos não nos deixam indiferentes”.
Depois de 24 dias de guerra, a rádio se converteu em um vínculo importante entre as autoridades e a população. A emissora informa entre 300.000 e 400.000 ouvintes por dia, um número que se duplicou desde o início das hostilidades.
O fechamento de escolas em Lviv, necessidades de ajuda humanitária, a situação no sul e oeste da Ucrânia e declarações internacionais: na agenda do boletim das 17h00, Oliyarnyk encontra um equilíbrio entre as notícias locais e nacionais.
A emissora transmite seus próprios programas das 7h00 às 19h00, quando passa o bastão para o canal de informação criado no início do conflito pelas redes de televisão e rádio nacionais que unem seus recursos.
Isso parte do princípio de que os meios de comunicação, em tempos de guerra, possuem um papel crucial para manter a moral da população e apoiar o esforço de guerra.
As baixas militares ou civis são divulgadas a conta-gotas.
“Estes números nos dão medo, vivemos isso pessoalmente porém tentamos dar também muitas informações positivas, como as perdas humanas e materiais do inimigo”, assegura Oliyarnyk. Segundo a jornalista, o verdadeiro balanço humano só será conhecido quando a guerra terminar.
– “Infraestruturas críticas” –
Várias vezes por dia, as sirenes interrompem as transmissões. Na manhã de sexta-feira, o diretor técnico Vassil Pakouch, 31, teve que dar o alarme de sua casa, chamando a população a ajudar os refugiados.
Nesse dia, os “mísseis russos” atingiram o bairro do aeroporto de Lviv, sem deixar mortos, segundo as autoridades locais.
De seu pequeno escritório, Vassil monitora o estado das dezenas de torres de telecomunicações que retransmitem os programas da rádio em todo oeste da Ucrânia até o leste de Kiev.
A mais próxima da capital foi danificada duas vezes pelos bombardeios.
“As torres são infraestruturas críticas. Quando são atacadas é perigoso para a população porque se perde a conexão”, adverte Vassil, mostrando a torre de Lviv ao lado da emissora.
O engenheiro, que sobe na torre regularmente para fazer reparos, disse estar disposto a tudo para restabelecer a linha em caso de bombardeio.
“Rezamos para que isso não aconteça, mas se for destruída, eu subiria uma antena em uma árvore se fosse necessário”, assegura.
