O chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, apresentou-se nesta terça-feira como garantidor do Estado de Bem-estar diante da “demagogia”, com vistas a um frenético ano eleitoral que poderá confirmar a forte eclosão dos antiliberais do Podemos.

“Com demagogia não se mantém o Estado de Bem-estar, se destrói”, declarou na Câmara dos Deputados o líder conservador durante discurso sobre o Estado da Nação, onde atacou aqueles que falam “de graça”, em alusão ao Podemos e seus aliados gregos do Syriza.

“Se não tivéssemos conseguido reduzir à metade os juros da dívida, teríamos tido que reduzir as contribuições sociais”, afirmou Rajoy em seu balanço dos três anos no poder do Partido Popular (PP, direita), que poderia ser ameaçado pelo Podemos nas legislativas do fim do ano.

“É muito perigoso pensar (…) que uma política social que não está sustentada por uma sólida política econômica é possível”, afirmou o líder conservador, um dos mais fiéis defensores das políticas de austeridade na Europa, apesar dos muitos protestos gerados em seu país.

Mas depois de três anos de legislatura pedindo paciência e sacrifícios de seus cidadãos, Rajoy vangloriou-se perante a Câmara de Deputados da mudança de tendência registrada na quarta economia da zona do euro: em 2014, pôs fim a cinco anos de recessão ou estagnação, com um crescimento de 1,4% e foram criados mais de 400.000 empregos.

“Conseguimos o que muitos não pensavam possível”, comemorou, lembrando que no final de 2011, quando chegou ao poder, diariamente 3.200 pessoas perdiam seus empregos.

No entanto, este diagnóstico otimista não é compartilhado por todos na Espanha, onde o desemprego afeta 23,7% da população economicamente ativa, a segunda cifra mais elevada da União Europeia, depois da Grécia (25,8%).

“Nunca como hoje houve tanta precariedade laboral neste país”, reagiu o líder da oposição socialista, Pedro Sánchez. “O senhor fez com que o que era um pesadelo antes da crise, ganhar mil euros por mês, se tornasse o sonho inatingível para milhares de espanhóis”, acrescentou, criticando a liberalização do mercado de trabalho.

“É muito perigoso pensar que o Estado de Bem-estar pode ser erguido sobre hipotecas ou, pior ainda, que se pode sair adiante com dinheiro alheio”, insistiu, tentando neutralizar os ataques contra sua política de austeridade, marcada por severos cortes na saúde, educação e serviços sociais.

“A grande medida social desta legislatura foi evitar o resgate” da economia espanhola, ao que tiveram que recorrer Grécia, Irlanda e Portugal, afirmou Rajoy que, no entanto, solicitou uma ajuda europeia de 41,3 bilhões de euros em 2012 para salvar seu setor bancário.

“A realidade é que a Espanha foi resgatada (…) como consequência de sua péssima gestão do Bankia”, o quarto banco espanhol, cuja nacionalização, em maio de 2012, precipitou a intervenção europeia, afirmou Sánchez.

Em seu último debate sobre o Estado da Nação, Rajoy defendeu sua gestão econômica ante um ano repleto de pleitos eleitorais – eleições municipais, regionais e legislativas -, razão pela qual seu discurso ganhou tintas de pré-campanha eleitoral.

Assim, o líder conservador anunciou uma melhora no crescimento econômico, de 2,4%, e a criação de mais de 500.000 empregos em 2015, ao mesmo tempo em que lançou uma série de medidas destinadas a ajudar as classes médicas como um mecanismo para permitir aos particulares superendividados administrar sua dívida.