Este ano os clientes começaram a notar algo muito estranho nas prateleiras da loja Ralph Lauren da rua Oscar Freire, em São Paulo. De repente elas tomaram um visual mais ?clean?. As pilhas de camisas e malhas finas foram baixando, baixando… até serem substituídas por vasos de flores. Decoração nova, pensaram alguns. Mas, quando numa segunda-feira apenas um dos oito vendedores apareceu para trabalhar, não deu mais para esconder a realidade atrás das plantas: a Ralph Lauren do Brasil estava quebrando. Na verdade, não a grife americana, que celebra 35 anos em 2002 e esbanja saúde financeira ? faturou US$ 10 bilhões em 65 países no último período fiscal. O problema é com a sua representante oficial no País, a argentina International Brandgroup (IBG).

 

Até o final de novembro, as sete lojas Ralph Lauren (4 em São Paulo, 2 no Rio e uma em Belo Horizonte) estarão fechadas. Longe de ser uma situação definitiva, porém. De Nova York, Lauren avisou que vai assumir o negócio e até já acionou um headhunter para contratar executivo craque no mercado local. A idéia é deixar a IBG afundar de vez e sair de circulação. Só então a Ralph Lauren chegaria para recomeçar tudo do zero, no início do ano que vem. Fala-se também que o grupo americano estaria disposto a manter uma ou duas lojas da IBG.

Enquanto isso, o pessoal da IBG começa a limpar as gavetas. Na última semana, os empregados foram informados de que o salário vai atrasar. Mas que em compensação eles podem aproveitar o ?bazar da pechincha? interno: jaquetas de R$ 500 por R$ 5, sandálias de R$ 240 por R$ 1. Na segunda-feira 4, todas as lojas entram em liquidação, com descontos de até 50%. Mas as coleções são antigas, pois a matriz não manda peças novas há mais de um ano, desde que a IBG parou de pagar os royalties da licença (já cassada, por sinal). A ordem na empresa argentina é raspar o cofre para pagar as dívidas, que somam mais de R$ 15 milhões, metade em ICMS. Até os pontos comerciais estão sendo negociados às pressas.

Começo do fim. A bancarrota da IBG teve início quando a sua holding, o Exxel Group, começou derreter por causa da crise da Argentina. Há dois anos o Exxel registrou receitas de US$ 3 bilhões. Mas teve que entregar diversos negócios aos credores, entre eles a rede de sorveterias Freddo e as lojas de CDs Musimundo. A IBG, que chegou a vender Kenzo e Lacoste em alguns paíse da América do Sul, faturou US$ 110 milhões em 2001. No Brasil, começou a atuar em 1998. E as coisas iam bem até o ano passado, quando o faturamento foi de R$ 5 milhões ao mês. Em julho último, no entanto, caiu para R$ 800 mil. O crédito para importar, avalizado pelo Exxel, desapareceu.

Sua saída do Brasil será melancólica. O último funcionário não poderá nem sequer apagar a luz do belo escritório que ocupava um andar inteiro num prédio do Itaim, bairro chique de São Paulo. Faz tempo que o setor administrativo da IBG foi transferido para um galpão na decadente região do Brás. Aos fãs da marca, resta torcer para que o próprio Ralph Lauren reconstrua a grife por aqui.