18/03/2009 - 7:00
NO INÍCIO DA TARDE DE 18 de fevereiro deste ano, um grupo de credores da Botucatu Têxtil se reuniu no Teatro Municipal da cidade de Botucatu, no interior paulista. Ali, eles aprovaram o plano de recuperação judicial da companhia. Na semana passada, a CVM também deu sinal verde à implantação do plano, baseado principalmente na venda de ativos para saldar as dívidas estimadas em R$ 50 milhões. Pode ser a derradeira chance de recuperação para um ícone da moda jeans na década de 70, a Staroup, marca pertencente à Botucatu. Para quem não se lembra, a Staroup se tornou na ocasião uma grife desejada por nove entre dez jovens da classe média brasileira. A empresa chegou a ter 1,2 mil funcionários e subsidiárias nos EUA e na extinta União Soviética. Hoje é uma sombra da potência que foi. Com 416 funcionários ativos e outros 164 afastados, a Botucatu fabrica e distribui produtos em lojas multimarcas, além de produzir pequenos volumes sob encomenda para outras marcas, como Levi’s, Lee, Hering, Cavallera, Carmim e Luigi Bertolli. Nada suficiente para colocá- la no clube de grandes empresas. Nos nove primeiros meses de 2008, a companhia faturou apenas US$ 6,3 milhões. O prejuízo no mesmo período foi maior do que o faturamento: US$ 6,6 milhões. “É uma pena que um nome como esse não tenha valor algum hoje em dia”, comenta Roberto Chadad, presidente da Abravest, Associação Brasileira do Vestuário. Procurada, a Botucatu não se pronunciou.
Nos últimos 15 meses, a empresa passou a produzir peças para terceiros, o chamado mercado de private label. Agora, investirá no reposicionamento das duas marcas próprias, a Staroup e a Eurojeans. Para analistas de mercado, a venda da companhia não pode ser descartada. “Há indícios de que a Santista é uma candidata a adquirir a totalidade ou parte da Botucatu”, afirma Ivan Pricolli, professor de finanças da Brazilian Business School. Coincidência ou não, o atual presidente da Botucatu, Vicente Moliterno Neto, foi diretor da Santista por muitos anos. “O mandato dele vigorará até abril deste ano, quando os acionistas majoritários deverão decidir o futuro da companhia”, diz Pricolli. Hoje, 97% do controle acionário da Botucatu Têxtil está nas mãos do fundo brasileiro Atra Participações e de Jaqueline Gordon, viúva do fundador da empresa, o húngaro Jànos Gordon. Com 53 anos de existência, a história da Staroup se confunde com a trajetória da moda jeans no Brasil. A empresa iniciou suas atividades no bairro paulistano do Brás. Na época, contava com 19 máquinas e 40 funcionários para confeccionar cinco mil calças de brim por mês, com a marca Farwest. No embalo do sucesso da jovem guarda, nos anos 60, lançou calças com etiquetas Calhambeque e Tremendão, nomes de sucessos de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Também estava presente na novela mais famosa dos anos 80, a Dancing Days. A partir daí, a empresa profissionalizou a gestão, abriu o capital e passou a produzir em Portugal e na União Soviética. “Deram um passo maior que a perna”, comenta Chadad. Gordon enxergou na União Soviética um mercado em potencial, mas a iniciativa fracassou. “É provável que os soviéticos não tenham pagado as peças encomendadas”, diz Chadad. A companhia voltou-se então para o mercado nacional nos anos 90. Mas encontrou um cenário diferente do anterior. “Marcas brasileiras de jeans, como a Zoomp e Forum, dominavam o setor”, explica o analista Caio Pires, da Lafis. A chegada de produtos asiáticos ao Brasil foi outra pancada. “Quando a Staroup notou a perda dos consumidores brasileiros, não havia mais tempo para recuperá-los”, comenta Pires. Resta saber se agora, anos depois do sucesso da marca, haverá espaço para ela ou não.