19/07/2000 - 7:00
O italiano Giovanni Razelli, 56 anos, destoa do estereótipo dos seus compatriotas. Gesticula pouco, dificilmente altera o tom de voz e consegue controlar suas emoções. Também é um homem de poucas palavras, especialmente quando o assunto é Fiat, empresa à qual dedicou 30 anos de sua vida. Desde sua saída da multinacional italiana, Razelli manteve-se longe dos flashes e da vida pública. Embora afirme que não guarda ressentimentos, a voz e o olhar o denunciam quando é perguntado sobre o episódio. ?Quanto menos falarmos de Fiat, melhor. Não quero criar polêmica com a empresa.? Razelli foi demitido em plena festa de comemoração do centenário da montadora, em julho do ano passado. Naquele momento, o executivo não conseguia imaginar seu próximo passo. Havia se preparado durante anos para assumir a cadeira principal da fabricante de Turim. Passou pela Ferrari, pela Alfa Romeo, criou o projeto Palio, enfim, fez história dentro da Fiat. Ainda assim, caiu.
Um ano depois, já refeito, o engenheiro genovês recebeu a reportagem da DINHEIRO em seu novo escritório, ainda provisório, no município de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. Do alto da Serra do Curral, Razelli fala sobre seus novos sonhos. Decidido a ficar em Minas Gerais por mais uma temporada, ele acaba de assumir a vice-presidência técnica da subsidiária brasileira da Protótipo, empresa italiana que realiza o teste de veículos de várias marcas. Em Nardó, na Itália, a Protótipo tem uma pista de 12 quilômetros de circunferência ? a maior do mundo. No Brasil, além de fazer os testes finais dos produtos, em uma pista a ser construída na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, a empresa vai oferecer também o estudo de design, em parceria com o grupo IsoRivolta. Juntos, vão construir um galpão de 1.600 metros quadrados em Itabirito (MG), orçado em R$ 2 milhões. ?Estamos na fase de prospecção de clientes no Brasil?, diz Razelli. Os primeiros da lista são Fiat, Ford, Pirelli e Mercedes-Benz. ?Nossa meta é competir, em valores, com a Protótipo italiana?, diz Razelli. O objetivo é ousado: a matriz prevê um faturamento de R$ 105 milhões em 2000.
Escola. Das pistas de testes, Razelli pula para as salas de aula. O engenheiro quer oferecer, em parceria com a faculdade mineira UNA, um curso on-line de administração voltado para pequenas e médias empresas. A Protótipo vai participar do investimento inicial, estimado em US$ 1 milhão. Razelli procura outros parceiros, entre eles universidades e investidores estrangeiros. Um de seus modelos é a Unext.com, consórcio formado pela universidades Chicago, Stanford e The London School of Economics. Esta não é a primeira vez que o engenheiro se aventura no mundo acadêmico. Quando trabalhou na Ferrari, ajudou a Universidade de Módena a criar a Faculdade de Engenharia Automotiva. ?Estou revivendo aqui a Itália de trinta anos atrás?, comenta.