O policial saca a pistola, faz a mira e atira contra o alvo seguidas vezes. Após ser imobilizado, o suspeito é conduzido à delegacia. Esta cena lembra uma das tantas ações policiais que ocorrem a cada hora, nas principais cidades do mundo. Não fosse por um detalhe: a arma em questão não dispara balas de metal ou borracha. Sua munição é composta de uma carga de 50 mil volts, capaz de jogar ao chão até mesmo um rinoceronte, sem, no entanto, colocar sua vida em risco. A engenhoca, carro-chefe do catálogo de produtos da americana Taser International Inc., está ganhando as ruas e, literalmente, eletrizando as receitas da empresa. Na última edição da Feira de Produtos Eletrônicos de Consumo, realizada no mês passado em Las Vegas a pistola Advanced Taser M-18L, que custa US$ 389, roubou a cena. Atraiu a atenção de centenas de curiosos e também dos executivos de várias companhias. A United Airlines encomendou 1,3 mil exemplares. Os departamentos de polícia de mil prefeituras americanas fizeram o mesmo. Resultado: as vendas da fabricante de equipamentos eletrônicos de defesa pessoal ? que atingiram a cifra recorde de US$ 6,9 milhões em 2001 ?, devem saltar este ano para US$ 12 milhões, segundo estimativa apresentada pelo presidente da Taser, Rick Smith, a analistas de Wall Street. Outro filão importante são as empresas aéreas. Para concretizar o pedido feito pela United Airlines e incluir as demais na lista de clientes no portfólio, a direção da Taser aguarda apenas que a agência que regula a aviação comercial, nos Estados Unidos, autorize o uso da engenhoca. A busca por novos clientes não se restringe ao solo americano. ?Estamos de olho nas companhias da América Latina?, disse a DINHEIRO Stephen Tuttle, diretor da Taser.

O sucesso da Taser International está intimamente ligado ao clima de insegurança que tomou conta dos americanos, após os atentados de 11 de setembro. Para aproveitar a maré favorável, a empresa não fez por menos e usou como ?vitrine? a principal feira de produtos eletrônicos do mundo. Com isso, a empresa quer ampliar seu raio de ação. ?Até então, nosso foco eram as forças policiais e as empresas de segurança?, explica o diretor da Taser. Na última semana, foi assinado acordo com a rede americana de varejo Turner?s Outdoorsman. A ?arma? tem o formato de uma pistola e possui mira a laser para ajudar na precisão dos tiros. Ao acionar o gatilho são disparados minúsculos dardos, conduzidos por finíssimos cabos, que se prendem à roupa ou à pele do alvo a ser ?abatido?. São esses cabos que transmitem a carga elétrica. A eficiência é garantida a uma distância de até três metros. A venda para civis, no entanto, enfrenta resistências. Gerald Le Melle, da Anistia Internacional, alega que a ?arma? é um instrumento de tortura e que deveria ser banida. O fabricante se defende, argumentando que a idéia é preservar a vida de potenciais vítimas da violência urbana. Polêmicas à parte, o certo é que a direção da Taser International tem motivos de sobra para comemorar. Fundada em 1993, a companhia obteve, em 2001, o primeiro lucro desde sua história, cujo montante vai ser divulgado na terça-feira 12. Com a M-18L a expectativa é repetir o feito nos próximos anos.