Desde a operação Carbono Oculto, que mirou um esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, a Reag encolheu cerca de R$ 140 bilhões em valor de mercado, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. Passando a ser visto pelo mercado como ativo tóxico, a companhia deixou de valer mais de R$ 530 milhões para atuais R$ 390 milhões.

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Após ser um dos alvos da operação da Polícia Federal, a Reag viu suas ações derreterem mais de 26% desde o dia em que agentes de segurança pública adentram o escritório da companhia, localizado na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, na região da Faria Lima, em São Paulo (SP).

Nesse contexto, a empresa tem se movimentado para vender seus ativos, reorganizar operações e trocar sua gestão.

No dia de setembro, a empresa comunicou que seus controladores – a Reag Asset Management Ltda. e Reag Alpha Fundo de Investimento Financeiro em Ações – assinaram um contrato de venda de 87,38% do capital social para a Arandu Partners, em operação de R$ 100 milhões.

A Arandu é um fundo formado por alguns dos principais executivos da Reag: Dario Graziato Tanure, Felipe Oppenheimer Pitanga Borges e Rubens Zogbi Filho.

No seu comunicado, a companhia disse que essa venda mira ‘proteger a integridade e a reputação’, e que foi submetida à ‘infundadas especulações’.

Junto com essa operação, uma série de executivos renunciaram, incluindo João Carlos Mansur, figura central da companhia, que então deixou a presidência do Conselho de Administração.

Além dele, Altair Tadeu Rossato também renunciou à sua cadeira no colegiado, de conselheiro independente. Ele também tinha postos no comitê de auditoria. Fabiana Franco, por sua vez, deixou a diretoria financeira.

A nova gestão aprovou Felipe Oppenheimer para o cargo de presidente e Edson Inácio da Silva como diretor financeiro.

Contatada pela IstoÉ Dinheiro, a Reag não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para o posicionamento da companhia.

Venda da Empírica e Ciabrasf

No dia 10 de setembro, a Reag fechou acordo para vender a Empírica Holding para a Smart Hub Participações e, simultaneamente, está fechando a venda da Companhia Brasileira de Serviços Financeiros S.A. (Ciabrasf) para a B100, holding da Planner Corretora.

O memorando de entendimento sobre a venda da Empírica prevê que a empresa receberá R$ 25 milhões divididos em seis parcelas.

O acordo também prevê assunção integral das parcelas contingentes da aquisição, estimadas entre R$ 36 milhões e R$50 milhões. Essas parcelas serão apuradas no futuro.

A venda da Empírica ocorre sob a gestão da Arandu Partners Holding – entidade detida pelos principais executivos da Reag – após a empresa anunciar no domingo que o então presidente do conselho João Carlos Mansur renunciou ao cargo e vendeu sua participação para um grupo de sócios liderados por Dario Tanure.

Vale destacar que o preço da operação poderá sofrer ajustes a depender da receita líquida da Empírica.

Em simultâneo, a B100, holding da Planner Corretora, anunciou um protocolo de intenções para comprar a Ciabrasf, atualmente a maior provedora independente de serviços fiduciários do Brasil – que pertence à Reag Capital.

Esse acordo prevê que a B100 terá 6o dias de exclusividade para aquisição da Ciabrasf e, caso a operação seja concluída, os atuais controladores deixam a companhia. A conclusão da operação está sujeita à verificação de condições precedentes usuais.

Atualmente a Ciabrasf é listada na bolsa de valores, com ações negociadas sob o ticker ADMF3. A empresa possui mais de R$ 340 bilhões em fundos administrados, com serviços de administração de fundos, custódia de valores mobiliários, escrituração, securitização e agente fiduciário.

Venda de negócios com Roberto Justus

Além destes negócios, a Reag era vinculada à SteelCorp, empresa do ramo de construção civil – mais especificamente de Light Steel Frame (LSF), segmento da construção industrializada.

A companhia explorava obras modulares, nicho relativamente novo no Brasil mas que vem ganhando espaço com casas de alta renda e empresas.

A SteelCorp foi fundada há pouco mais de uma década e passou a ser controlada pelo publicitário Roberto Justus ainda em 2024. Em outubro de 2024, a Reag passou a ser sócia da empresa, com 30% do capital.

A companhia tinha planos de fechar este ano com faturamento na casa de R$ 1,5 bilhão e já teve no seu quadro societário Daniel Gispert, que tem mais de duas décadas de experiência no setor, e Marcelo Pieruzzi, que comanda o Steel Bank, braço financeiro da empresa.

A fatia societária da Reag nessa companhia foi vendida, conforme apurado pela IstoÉ Dinheiro. Todavia, detalhes e valores sobre a venda ainda não foram revelados.

Quem é a Reag Investimentos?

A gestora Reag Investimentos foi fundada há mais de uma década, em meados de 2012, e ganhou notoriedade pelo seu crescimento expansivo e vertiginoso dentro do ambiente de mercado de capitais.

Desde maio de 2021, a gestora tem ações listadas na bolsa de valores, negociadas sob o ticker REAG3.

A gestora de recursos é certificada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e controlada pela Reag Capital Holding S/A, que também controla outra holding independente, a Ciabrasf, além de seguradoras e financeiras.

A companhia se apresenta como a maior gestora independente do país – ou seja, a maior que não está atrelada a nenhum banco ou instituição financeira – com uma cifra de R$ 299 bilhões sob gestão.

Na plataforma da própria gestora, são apresentados um total de 625 fundos administrados com R$ 238 bilhões de patrimônio líquido, sendo 579 fundos ativos com R$ 204 bilhões.

A companhia cresceu no mercado, em certa medida, ao avançar com aquisições – incluindo a das gestoras Quasar, Empírica, Hieron, Berkana e outras.

Nesse sentido, a Reag ampliou sua atuação com fundos multimercado, de crédito estruturado, private equity e gestão de fortunas.

Afora isso, a companhia também ganhou holofotes ao se tornar a maior patrocinadora do Belas Artes, um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo.

Em janeiro de 2024 a gestora adquiriu os naming rights do cinema, que passou a se chamar então REAG Belas Artes.