Antagonismo político, valores milionários, paixão no mundo inteiro… O clássico entre Real Madrid e Barcelona, que tem sua 231ª edição marcada para este sábado, deixou de ser apenas uma simples rivalidade esportiva.

Lionel Messi x Cristiano Ronaldo: quatro Bolas de Ouro para o argentino, três para o português.

Gareth Bale x Neymar: 91 milhões de euros desembolsados pelo Real para tirar o galês do Tottenham, EUR 83 milhões pelo Barcelona para contratar o brasileiro junto ao Santos.

Sergio Ramos x Gerard Piqué: duelo entre os dois pilares da zaga espanhol campeã mundial em 2010.

Isso sem mencionar a presença de outros astros, como Luis Suárez, James Rodríguez, e muitos coadjuvantes que ganhariam destaque absoluto em outros grandes clubes europeus.

Com tantos craques em campo, é difícil imaginar uma partida mais atrativa em termos esportivos. Detentores dos últimos títulos da Liga dos Campeões Real (2014) e Barça (2015) são claramente os melhores times do planeta, e apenas o Bayern de Munique parece capaz de jogar de igual para igual com eles.

Com tanta coisa em jogo, o clássico é o ápice da carreira do atleta. “São jogos que me excitam”, afirmou Piqué no início do mês. “Não sei se posso dizer se isso realmente nos deixa excitado, nunca cheguei ao orgasmo, mas quase!”, brincou Sergio Ramos para responder ao rival.

Os dois clubes têm mais de cem anos de história, mas a rivalidade ganhou mais peso depois da guerra civil que abalou a Espanha (1936-1950).

“A partir da década de 1950, principalmente com a transferência de Di Stefano, a rivalidade entre Barça e Real começou a ganhar contornos políticos”, explica à AFP Carles Santacana, doutor em histórica contemporânea na Universidade de Barcelona.

O craque argentino Alfredo Di Stéfano poderia ter jogado no Barcelona, mas acabou indo para o clube ‘merengue’, graças à ajuda da federação espanhola, que era dominada pelo regime franquista (1936-1975). O antagonismo se perpetuou com o passar dos anos, entre o Barça, símbolo da identidade catalã, e o Real, vitrine de uma Espanha em busca de respeitabilidade.

Nos últimos anos, o crescimento do movimento independentista na Catalunha colocou ainda mais lenha na fogueira.

Real e Barça integram há anos o top-5 dos clubes mais ricos do mundo, com o clube madrilenho em primeiro lugar, com 549,5 milhões de euros arrecadados na temporada 2013-2014, e os catalães em quarto (484,6 mi), atrás de Manchester United e Bayern, de acordo com um estudo da Deloitte.

“Em termos econômicos, é mais que um simples jogo de futebol”, explica à AFP professor na Universidade de Barcelona e especialista José Maria Gay de Liébana, professor na Universidade de Barcelona e especialista do esporte espanhol.

O economista ressalta que a Liga Espanhola movimenta entre 10 a 15 milhões de euros, 1,5% do PIB do pais.

As autoridades de Madri usam o clássico como ameaça contra a independência da Catalunha, que impediria a realização da partida no campeonato nacional.

“Se isso acontecer, a Liga Espanhola perderia muito valor, seria totalmente desnaturada. O clássico representa 50% da Liga”, alerta José Maria Gay de Liébana.

Sábado à tarde, às 18h15 locais (14h15 no horário de Brasília), as ruas de Madri e Barcelona serão totalmente desertas.

“Já andei por Barcelona ou Madri durante um clássico, e realmente não tinha ninguém nas ruas. Todo o país fica paralisado”, lembra José Maria Gay de Liébana.

“Este jogo apaixona todo mudo, até quem não está acostumado a acompanhar o futebol”, concorda Carles Santacana.

O clássico tornou-se um elemento fundamental da cultura popular espanhola, como as festas religiosas (o Dia de de Reis, em janeiro, e a Semana Santa), os eventos ligados à realeza ou as tradições como a loteria de natal (espécie de mega-sena de virada chamada ‘El Gordo’).

O clássico é a partida de clubes que reúne o maior número de telespectadores no mundo: cerca de 500 milhões, mais de dez vezes a população espanhola.

No último duelo Barça-Real, em março, mas de 800 jornalistas de 35 países foram credenciados.

Nas redes sociais, os dois clubes somam milhões de seguidores, um sucesso que pode se explicar pelo grande número de nacionalidades representadas entre os jogadores, da Colômbia à Croácia, passando por França, Portugal e muitos outros.

Ambos os clubes somam quatro atletas nascidos no Brasil. O Real tem Marcelo, Danilo e Casemiro. além do alagoano Pepe (naturalizado português). Já o Barça aposta no talento de Neymar, Daniel Alves, Adriano e Rafinha Alcântara (lesionado)

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