Um homem de 58 anos se tornou esta semana o segundo paciente do mundo a receber o transplante de um coração de porco geneticamente modificado, o último feito de um campo que vem crescendo na pesquisa médica.

Transplantar órgãos de animais em humanos, o que é conhecido como xenotransplante, pode ser uma solução para a escassez crônica de doações de órgãos humanos. Apenas nos Estados Unidos, mais 100.000 pessoas esperam por um doador na lista de transplantes.

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Tanto o primeiro transplante envolvendo um coração de porco como o atual foram realizados por especialistas da Escola de Medicina da Universidade de Maryland.

No primeiro procedimento, realizado no ano passado, o paciente acabou morrendo dois meses depois da cirurgia devido “a uma multiplicidade de fatores, incluindo seu pobre estado de saúde” antes da operação, informou a universidade em comunicado nesta sexta-feira.

O segundo transplante ocorreu na última quarta-feira (20), com o paciente Lawrence Faucette, impedido de receber uma doação humana por conta de uma doença vascular pré-existente e complicações hemorrágicas internas.

Sem o transplante experimental, este pai de dois filhos e veterano da Marinha enfrentaria um quadro de insuficiência cardíaca.

“Minha última esperança era o coração de porco, o xenotransplante”, disse Faucette antes de passar pelo procedimento. “Pelo menos agora eu tenho uma esperança e uma chance”, acrescentou.

Após o procedimento, Faucette respirava sem a ajuda de aparelhos e novo coração funcionava bem, “sem qualquer assistência externa”, informou a universidade.

Ele estava recebendo medicamentos convencionais antirrejeição, bem como uma nova terapia com anticorpos para evitar que seu corpo danificasse ou rejeitasse o novo órgão.

Os xenotransplantes são complicados porque o sistema imunológico do paciente vai atacar o órgão estranho. Os cientistas têm tentado contornar esse problema através do uso de órgãos de porcos modificados geneticamente.

Em anos recentes, médicos transplantaram rins de porcos modificados geneticamente em pacientes com morte cerebral.

O Instituto de Transplante do hospital universitário NYU Langone em Nova York anunciou este mês que um rim de porco transplantado em um paciente com morte cerebral funcionou pelo recorde de 61 dias.

As primeiras pesquisas sobre xenotransplante tinham como foco órgãos de primatas. Em 1984, um coração de babuíno foi transplantado para uma recém-nascida conhecida como “Baby Fae”, mas ela sobreviveu por apenas 20 dias.

Atualmente, as pesquisas têm se concentrado em órgãos de porcos, que são considerados doadores ideais para os humanos devido ao tamanho de seus órgãos, por seu crescimento rápido e grandes ninhadas, e pelo fato de já serem criados como fonte de alimento.