Entrar no concorrido mercado global de smartphones não é tarefa simples. Coragem é um dos predicados fundamentais para encarar gigantes do setor, como a colossal americana Apple, com R$ 12,3 trilhões de valor de mercado registrado nesta semana e faturamento na casa de R$ 1,6 trilhão em 2020. Essa virtude não tem faltado à chinesa Realme (a empresa utiliza o nome realme, em minúsculo), que iniciou sua operação independente há pouco mais de dois anos, em 2018, a partir de uma divisão da Oppo Electronics Corporation. Mais do que bravura, tem tido desempenho de destaque. Em novembro do ano passado, a companhia foi considerada a marca com crescimento mais rápido da história, segundo dados da consultoria Counterpoint, ao atingir 50 milhões de vendas de smartphones em apenas nove trimestres, desbancando a própria Apple, que atingiu a marca em 14 trimestres, e a também gigante e antiga dona do recorde, a sul-coreana Samsung, que havia alcançado o feito em 10 trincas mensais. Segundo dados da Counterpoint, os resultados da Realme no quarto trimestre de 2020 foram 65% superiores ao mesmo período de 2019.

Some-se ao impressionante feito da Realme o fato de registrar 1 milhão de reservas na pré-venda o mais novo flagship da empresa, o modelo GT. Na mesma velocidade em que vende seus produtos, a companhia chinesa se espalha pelo mundo. Já está em 61 mercados – eram 35 há um ano – e figura entre as sete maiores marcas de celulares do planeta. Acaba de desembarcar no Brasil, com escritório em São Paulo, onde iniciou operação em meados de janeiro, como porta de entrada da corporação na América Latina. Por aqui, chega com apetite. “Nosso lema é ‘dear to leap’, ouse ir além. A gente carrega isso no nosso dia a dia, na nossa cultura. Aqui seremos ousados também”, disse à DINHEIRO Marcelo Sato, executivo de desenvolvimento de negócios da Realme no Brasil. Ousadia que tem objetivo claro: ser Top 3 no mercado nacional em até cinco anos. “Vamos agitar um pouco o mercado”, afirmou.

No plano de expansão da companhia está a implementação de uma fábrica no Brasil, segundo Sherry Dong, diretora de marketing global da Realme. “Nós planejamos produzir no Brasil como uma estratégia de crescimento na América Latina. O Brasil é um hub estratégico.” Enquanto estudos e projetos são realizados, o time brasileiro da Realme é formado por, hoje, reduzidos seis profissionais. O principal parceiro comercial é a B2W, com vendas pelas Lojas Americanas e Submarino. São apenas quatro produtos no portfólio: os smartphones Realme 7 (R$ 1.999) e Realme 7 pro (R$ 2.499), os wearables fone de ouvido Realme Buds Q (R$ 225) e o smartwatch Realme Watch S (R$ 699). Os canais de venda serão diversificados, com mais pontos e parcerias. A criação de lojas físicas é uma possibilidade muito provável, mas os locais de implantação e a quantidade estão em análise. “É assunto que está na mesa para definimos como trabalhar melhor”, disse Sato.

Por enquanto, a empresa é mais plano e desejo que ação efetiva. E a disputa pelo mercado brasileiro de celulares será um desafio grande para a Realme. A liderança está com a Samsung, que possui 45,2% de market share, seguida da Motorola, com 21,4%. A Apple aparece na terceira posição, com 16,6%. A também chinesa Xiaomi tem quase 10% de fatia e já está por aqui há 20 meses – desde julho de 2019. “Sabemos que o mercado brasileiro é difícil, possui muitas nuances que só acontecem aqui. Mas estamos preparando nosso caminho”, afirmou o executivo, que teve passagem pela Claro antes de ingressar na realme.

“Nosso lema é ‘dear to leap’, ouse ir além. A gente carrega isso no nosso dia a dia, na nossa cultura” Marcelo sato, executivo da Realme Brasil.

DIFERENCIAIS Um dos principais diferenciais dos produtos realme é o custo-benefício. Assim como a concorrente e conterrânea Xiaomi, traz em seus aparelhos alta tecnologia a preços abaixo de fabricantes como Apple, Motorola e Samsung. Uma das apostas da marca é o lançamento do modelo GT, sigla relacionada a Grand Turismo, de carros de corrida. Com revestimento em couro ecológico, é amarelo com uma faixa preta, ao estilo de veículos esportivos, cujo design agrada ao público jovem. Tem embarcado o novo processador Qualcomm Snapdragon 888, com até 12GB de RAM. A expectativa é de que chegue a menos de R$ 3 mil no Brasil. Um dos pontos importantes que atraem a busca por aparelhos Realme é o carregador ultrarrápido superdart 65w, que completa a bateria em apenas 35 minutos – disponível nos modelos 7 pro e GT, por exemplo. Enquanto os principais rivais Apple e Samsung têm comercializado smartphones sem o acessório. “É uma inovação, ligada à experiência do usuário, que é um dos nossos pilares, ao lado dos designs arrojados”, disse Marcelo Sato.

A Realme também está de olho na evolução do 5G no Brasil e no mundo. À medida em que a quinta geração de internet se desenvolver no mercado nacional – leilão das faixas deve sair anda neste semestre –, e a demanda aparecer, os aparelhos da marca com essa tecnologia serão enviados ao País. “Uma das missões da Realme é fazer a disseminação do 5G em nível mundial. Estamos avaliando as necessidades de cada mercado”, afirmou o executivo.

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Apesar de alguns atrativos e perspectiva de rápido crescimento no território brasileiro entre as ambições da Realme, é preciso cautela, principalmente no quesito segurança, avalia Marijus Briedis, CTO da NordVPN, especializada em proteção de dados. “O Brasil é atualmente considerado um hotspot para ataques cibernéticos, ele ocupa o segundo lugar entre os países mais atingidos por ameaças de ransomware, é por isso que uma investigação cuidadosa dos termos e condições do Realme não deve ser ignorada pelos consumidores.”

Para Marcelo Sato, a desconfiança em produtos chineses dos mais variados setores já foi superada, principalmente no Brasil, onde grandes empresas asiáticas estão estabelecidas. Inclusive iPhones da Apple são fabricados na China, com tecnologia americana embutida. “Esse tipo de pensamento sobre os produtos chineses já se perdeu”, disse o gerente da Realme, com a confiança que se mostra no mesmo nível da coragem de ingressar nesse nicho voraz. A velocidade com que a companhia vai avançar no País serão mensurados com passar do tempo. E o tempo voa.

ENTREVISTA: “O BRASIL É UM PAÍS CHAVE PARA NOSSA EXPANSÃO GLOBAL”
Sherry Dong, diretora da realme

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Como a Realme observa o mercado brasileiro estrategicamente diante do cenário mundial?
Como a marca de smartphones que mais cresce no mundo, nós vemos o Brasil como um hub estratégico e uma porta de entrada para a América Latina e, portanto, um país chave para continuar nossa expansão global. Oferecemos tecnologia de ponta com preços acessíveis para a nova geração, que busca não só performance, mas também design e bens que impactem seu lifestyle. Essa abordagem foi testada em outros países e se mostrou um sucesso. A Realme já está entre as cinco maiores marcas de smartphones em 15 regiões do globo.

Quais são as características do consumidor e do mercado brasileiros que atraem a Realme?
De acordo com um relatório da GFK, os consumidores brasileiros valorizam a fotografia, a duração da bateria e a performance, o que é muito alinhado ao que a Realme oferece. Um exemplo: nós acabamos de anunciar nossa nova geração de câmeras de 108mp, que resulta em fotos incríveis, mesmo quando feitas à noite. A série realme 7 é excelente no carregamento rápido da bateria e qualidade de imagem, além de ter design moderno e uma câmera traseira de 64MP. A Realme segue focando em trazer produtos com essas características que têm um apelo para o consumidor brasileiro. Estamos deixando que os produtos falem por si, estamos confiantes.

Como é a distribuição dos smartphones da Realme no Brasil atualmente? Quais os parceiros e quais os canais?
Nesse começo estamos focados no e-commerce, como fazemos ao redor do mundo. A razão para isso é que leva a menores custos, o que permite a Realme oferecer melhor custo-benefício para os consumidores. Essa estratégia disruptiva resultou em um alto crescimento em outros mercados e nós esperamos que algo parecido aconteça no Brasil.

Há planejamento para instalação de uma fábrica da Realme no Brasil?
Faz parte do planejamento da Realme produzir no Brasil como uma estratégia de crescimento na América Latina.