16/10/2015 - 0:00
Mais uma agência de classificação de risco rebaixa o Brasil. A americana Fitch Ratings colocou o País na perspectiva negativa, a um passo da perda do selo de bom pagador. Dias antes, o ministro Joaquim Levy havia avaliado que o rebaixamento promovido pela agência Standard & Poor’s tinha sido “devastador” para as empresas nacionais. E de fato, na sequência do comunicado, grupos como Petrobras, Eletrobras, Comgás e outros sentiram diretamente nos seus papéis a investidores o efeito da nota negativa. Com o mundo atento às variações para baixo da economia brasileira, qualquer ruído causa grande estrago.
O País já lidera a fuga de capitais entre emergentes. O volume de inversões estrangeiras caiu cerca de 30% somente no terceiro trimestre do ano. A forte saída se deu principalmente entre fundos de pensão e investidores institucionais. A busca por segurança e a percepção de crescimento do risco interno, com os ajustes andando em banho-maria, têm agravado ainda mais o quadro. O endividamento das companhias brasileiras ao longo de 2015 aumentou mais de 7%. Em parte devido à subida desproporcional do dólar e à necessidade de compras externas de matéria-prima com o câmbio desfavorável.
A recessão que deve empurrar o PIB para um registro negativo da ordem de 3% já é computada como a pior dos últimos 25 anos e, nessa toada, pode chegar a um recorde histórico. As revisões dos números têm sido constantes. Sempre para baixo. E o mercado segue à deriva, em busca de respostas que tardam. Para 2016, a agência Fitch, assim como seus pares, ameaça com cortes ainda mais significativos da avaliação, caso as coisas não mudem. É nesse cenário que não dá para entender como o Governo escolhe seguir por caminhos erráticos, perdendo relevância técnica enquanto aposta no preenchimento político de postos-chaves de estatais e ministérios.
A discussão de saídas da crise está travada ou limitada pelo baixíssimo número de interlocutores capazes de entender a gravidade da situação e propor alternativas. Para alimentar seus acordos espúrios, a presidente Dilma optou por substituir os melhores quadros. Levy e seus assessores pregam propostas em meio a um deserto de interessados e é torpedeado por todos os lados, quase como uma pária, enquanto os frios analistas internacionais acompanham tudo e condenam, com vigor, a contaminação política. Daí para a desclassificação do grau de investimento é um pulo.
(Nota publicada na Edição 938 da Revista da Dinheiro)