19/05/2004 - 7:00
O Brasil é um país de tradição no mercado bovino. É maior exportador mundial da carne ? vendeu US$ 1,5 bilhão no ano passado. O rebanho nacional totaliza 183 milhões de animais. Há, no entanto, uma reação no campo. Os criadores de caprinos e ovinos decidiram brigar por espaço e alcançar o mesmo status que os fazendeiros de gado. Seus números ainda são acanhados: aproximadamente 10 milhões de ovinos e 6 milhões de caprinos no País. O setor, no entanto, passa por uma fase de crescimento: somente o número de caprinos aumentou 55% entre 1980 e 2000, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. Estima-se que a produção atingirá 100 milhões de cabeças nos próximos 10 anos e o segmento se firmará como boa alternativa de aplicação. ?Em pequena e média escala, a caprino e ovinocultura podem ser mais lucrativas que a criação de gado?, diz o criador Ricardo Falcão, um dos maiores da Bahia. Segundo ele, a produção é adequada ao perfil da zona rural brasileira: exige áreas pequenas e tem baixo custo, já que os bichos consomem apenas capim.
A exemplo do setor de bovinos, a criação de ovelhas e cabras pode ser dedicada a três atividades: produção leiteira, extração da pele ou corte da carne. O rebanho de cabras leiteiras está concentrado nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. As ovelhas para produção de lã estão prioritariamente no Rio Grande do Sul. As deslanadas habitam o Nordeste e o Centro-Oeste do País. Cerca de 90% das cabras de corte estão na região Nordeste. Para quem está começando a investir, essa é a prática mais indicada. Exige menos investimento em estrutura: a construção de instalações para abrigar cerca de 100 animais custa entre R$ 12 mil e R$ 15 mil. ?Além disso, a produtividade por hectare é 5 vezes maior que a do segmento de gado de corte?, explica Falcão. A diferença é que o rebanho bovino demanda um intervalo maior para nascimento dos bezerros. A gestação de uma vaca demora nove meses ao passo que a gravidez de uma cabra é de cinco meses.
O consumo da carne caprina e ovina pelos brasileiros ainda é baixo: 800 gramas por ano, em média. Ainda assim, 50% dela é importada ? um sinal do grande potencial do mercado. De acordo com o professor Gabriel Oliveira, da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, a criação de ovelhas de corte no País movimenta R$ 360 milhões ao ano (considerando o preço do quilo da carne a R$ 5). Em relação aos caprinos, o mercado é estimado em R$ 800 milhões. Para iniciar um rebanho, o investidor precisa iniciar pela aquisição de uma ?matriz? ? animal que dará início à linhagem das crias. O preço dessa matriz varia de acordo com a raça escolhida. Entre os caprinos, a principal espécie é a anglonubiana, resultado do cruzamento de uma raça brasileira com uma canadense. Na semana passada, foi realizado em Salvador o 12º leilão do Tingui de caprinos e ovinos, no qual foram negociados 200 animais e comercializados R$ 400 mil. ?A produção nacional de carnes bovina, suína e de frango é voltada para o mercado externo?, diz Falcão. ?A carne de cabra e ovelha é que irá movimentar o agronegócio no futuro.?
CAPRINOS/OVINOS X BOVINOS
Rentabilidade em um ano, numa fazenda de 20 hectares
100 animais
150 crias
RS 90
R$ 13,5 mil Capacidade
Produtividade
Lucro por animal
Lucro por rebanho 10 animais
8 bezerros
RS 350
R$ 2,8 mil
O VALOR DA HERANÇA GENÉTICA
As três principais raças para reprodução
de caprinos de corte no Brasil
ANGLONUBIANO
Origem:
Canadá
Macho:
R$ 1,5 mil
Fêmea:
R$ 800
Participação no rebanho:
70%
MAMBRINO
Origem:
Ásia Menor
Macho:
R$ 1 mil
Fêmea:
R$ 250
Participação no rebanho:
20%
BOER
Origem:
África do Sul
Macho:
R$ 3 mil
Fêmea:
R$ 5 mil
Participação no rebanho:
10%