30/11/2005 - 8:00
O alerta começou na terça-feira 22, na Itália: uma agência de notícias divulgou que a polícia italiana havia apreendido cerca de 30 milhões de litros de leite para bebês produzido pela Nestlé, depois que testes mostraram indícios de contaminação por tinta. Na mesma hora, a empresa divulgou que estava recolhendo o produto não só na Itália, o quinto maior mercado da empresa, mas também na França, Espanha e Portugal. A operação deu prejuízos de 2,5 milhões de euros (R$ 6,6 milhões) à companhia. Segundo o presidente Peter Brabeck, a crise na verdade é uma ?tempestade em copo d?água?. A confusão, entretanto, pode custar muito mais caro para a marca, que em junho passado viveu situação semelhante na China, onde também houve recall de leite em pó para bebês. E em fevereiro, na Venezuela, quando mais de 500 cães morreram após comer ração Nestlé contaminada.
Nos dois primeiros casos do ano, a empresa assumiu a culpa pelos episódios e tentou se retratar. Na China, onde órgãos de saúde locais descobriram que o leite em pó para bebês da marca continham níveis de iodo acima do permitido, a companhia além de promover o recolhimento do produto pediu publicamente desculpas por seu erro. Na Venezuela, onde cerca de 500 donos de cães, gatos e pássaros mortos depois de comer ração Purina contaminada por um fungo saíram às ruas em protesto contra a empresa, a gigante mundial de alimentos também pediu perdão por sua falha e ofereceu indenizações aos proprietários.
No episódio europeu, a Nestlé fez dois movimentos. O primeiro foi retirar o produto do mercado, em caráter de prevenção. O segundo foi discutir com sua tradicional fornecedora de embalagens, a Tetra Pak, a responsabilidade no caso. Explica-se: A empresa suíça afirma que o leite foi contaminado com traços de ITX, um componente da tinta utilizada no processo de impressão das embalagens Tetra Pak. Por sua vez, a companhia sueca divulgou, por meio de nota oficial, que ?a migração de ITX para os produtos contidos nas embalagens não representa nenhum risco à saúde humana?. A Nestlé também disse que não há perigo de doenças ou intoxicação. O episódio Nestlé/ Tetra Pak lembra a batalha travada entre duas outras gigantes, a Ford e a Firestone. Em 2000, acidentes com a picape Explorer provocaram vítimas fatais. A Ford dizia que o problema eram os pneus e a Firestone jogava a culpa nos carros. O caso foi parar nos tribunais e houve acerto entre as companhias e as vítimas.
No Brasil, a filial da Nestlé preferiu não tomar posição alguma no recall do leite. Disse apenas que o produto não é comercializado no Brasil Na Itália, o produto leva as marcas Latte Mio, Mio Cereali, Nidina 1 e Nidina 2; na França, Nidal Novaïa 1 e 2; na Espanha, Nidina, e em Portugal, Nan 1 e 2 ? mesmo nome usado no Brasil. No entanto, a versão sob suspeita é a líquida. A vendida no Brasil é em pó e não é embalada pela Tetra Pak.
Segundo especialistas em gerenciamento de crise, a Nestlé agiu bem ao colocar o presidente da empresa dando declarações públicas do episódio. Também acertou ao retirar os produtos das prateleiras assim que teve conhecimento do problema. A única questão que pode pegas mal, aos olhos do consumidor, é o jogo de empurra com a Tetra Pak. ?Assumir a responsabilidade neste momento é vital. Briga corporativa resolve-se, em silêncio, nos tribunais?, diz um consultor.
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? 2,5 milhões foi o prejuízo com a operação de retirada |