Arroubos protecionistas da Argentina são lugar comum em suas relações comerciais com o mundo. Mas a nova barreira imposta às importações acendeu a luz amarela no governo brasileiro já nas primeiras semanas de existência. Desde 1º de fevereiro, mercadorias importadas precisam de uma autorização prévia das autoridades argentinas para entrar no país. Se a antiga burocracia levava ao acúmulo de produtos na fronteira, a regra recém-criada barra a venda na origem. O governo da presidenta Dilma Rousseff, que ainda aguarda o fechamento dos números do mês, está preocupado com os efeitos para a indústria nacional. 

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Cristina e Dilma, em brasília: política da boa vizinhança para garantir mercado 

 

Embora não pretenda retaliar, como fez no ano passado, quando respondeu na mesma moeda às restrições do governo de Cristina Kirchner à entrada de carros brasileiros no país, o governo vai entrar com uma queixa formal no Mercosul se constatar uma queda forte nas exportações. Os números justificam a “política da boa vizinhança”. Com a Argentina, o Brasil tem conseguido garantir superávits comerciais sem depender das commodities, um fato raro em suas relações comerciais com o restante do mundo. Dos US$ 22,7 bilhões exportados ao vizinho, no ano passado, US$ 20,9 bilhões foram em produtos industrializados, como carros e autopeças. No total, o superávit é de US$ 5,8 bilhões. 

 

“A Argentina é o nosso melhor mercado de manufaturados e não se pode tratar mal um cliente”, diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que tem participado das negociações bilaterais e incentivado as empresas brasileiras a investir no país vizinho. Mas elas têm penado nas mãos do “bom cliente”. Um estudo da própria Fiesp mostra que empresas dos setores calçadista, de máquinas, têxteis e linha branca sofrem com atrasos de até 250 dias na liberação de licenças de importação – pelas regras vigentes, deveriam sair em até 60 dias. “A Argentina está preocupada com a balança de pagamentos, mas acaba complicando a chegada de insumos para sua própria indústria”, afirma Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento e sócio da BarralMJorge Consultores. 

 

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