28/08/2018 - 11:48
Recluso desde a primeira de uma série de prisões iniciada em 2013, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a 31 anos de cadeia na Operação Lava Jato, planeja uma série de aparições públicas para divulgar o primeiro volume de suas memórias (Zé Dirceu Memórias – Volume 1) com lançamento previsto para o dia 13 de setembro, no qual relata passagens de sua vida desde o golpe militar em 1964 até o escândalo do mensalão, em 2005.
Divulgar o livro tem sido a prioridade do petista. No dia 4, Dirceu participa de uma noite de autógrafos no Circo Voador, no Rio de Janeiro.
Antes, no dia 30, sua presença é esperada em um evento de sindicalistas no bairro da Liberdade, em São Paulo. Depois deve percorrer outras capitais.
Nesta semana, o livro foi colocado em pré-venda juntamente com uma página na internet que adianta trechos divididos por momentos importantes da história brasileira dos quais Dirceu participou, como o golpe militar de 1964 e a chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder em 2002, relatados quase sempre em primeira pessoa.
Na parte sobre a eleição de 1989, quando Lula perdeu no segundo turno para Fernando Collor de Mello, Dirceu questiona: “Será que não foi melhor perdermos e só ganharmos em 2002, 13 anos depois?”
Depois de relatar casos de bastidor como a relutância de Fernando Henrique Cardoso em apoiar o PT no segundo turno, o próprio Dirceu responde: “Digo que não. Teríamos evitado a tragédia dos anos Collor e o Brasil não seria o mesmo.”
Em outro trecho, Dirceu revela o papel crucial do vereador Eduardo Suplicy, candidato ao Senado pelo PT, no impeachment de Collor: “Suplicy insistiu, persistiu, quase invadiu a suíte de Pedro Collor no hotel Mofarraj, em São Paulo, até que conseguiu ser recebido pelo irmão do presidente. Eu o acompanhei e, juntos, ouvimos o impublicável. Um relato frio, sincero e impecável sobre a relação de Collor com seu tesoureiro e do papel de PC Farias no governo. Devemos a essa figura única -Eduardo Suplicy – o início da CPI.”
Dirceu também relembra a época em que foi líder estudantil nos anos 1960, a prisão em 1969, a liberdade em troca do embaixador dos EUA Charles Elbrick e os anos de exílio em Cuba.
O ex-ministro diz que era submetido a dois tipos de treinamento, militar e clandestinidade. “Fiquei interessado nessa segunda fase porque, no futuro, seria fundamental, particularmente a área de disfarces, falsificação de documentos, clandestinidade e técnicas de comunicação em rádio, códigos, senhas, tintas invisíveis etc.”
Ao relatar os anos que viveu disfarçado no interior do Paraná, Dirceu afirma que mantinha com disciplina o hábito de estudar as técnicas aprendidas em Cuba. “Nunca deixei de fazer os exercícios, treinar os códigos e limpar as armas”, diz.
No trecho divulgado sobre o mensalão, Dirceu não faz qualquer autocrítica e atribuiu o escândalo a uma vingança do ex-deputado Roberto Jefferson.