Você já viu esse filme. Os mercados estão receosos. A possibilidade de a crise na Grécia, na Itália e em Portugal contaminar outros países dentro e fora da Europa e a indefinição sobre a situação fiscal americana, que envolve a renegociação no Senado do aumento do teto da dívida dos Estados Unidos, estão enchendo os investidores de incertezas. Os tempos são difíceis: bolsa, câmbio e juros seguem sem tendência definida. Os gestores de fundos de investimentos têm suado a camisa para obter algum ganho para seus clientes. Os analistas se esquivam de falar sobre o momento da recuperação dos mercados acionários.

No entanto, ainda existem boas possibilidades de lucros, especialmente para os investidores mais arrojados e com fôlego financeiro. Quem tem R$ 1 milhão para aplicar pode diversificar os investimentos e obter rentabilidades elevadas. Na ponta do lápis, os especialistas preveem remuneração de até 60% em um ano. DINHEIRO ouviu alguns dos mais renomados ases do mercado, que elegeram cinco investimentos mais ou menos agressivos para você colocar o seu dinheiro. Antes de tomar qualquer decisão, lembre-se: é preciso conhecer seu perfil de investimento, o prazo que  está disposto a deixar seu dinheiro aplicado e quanta volatilidade seu coração aguenta.

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“Quem não suporta esse cenário de turbulência deve ficar fora dessas aplicações e investir em um bom produto de renda fixa”, diz Rogério Bastos, diretor da consultoria financeira paulista Finplan Investimentos.Mesmo quem está inclinado a encarar a fera  não pode sair na base do deixa que eu chuto: para evitar arrependimento futuro, é preciso analisar detidamente as oportunidades e conversar antes com seu consultor de investimentos. “O investidor tem de ter uma estratégia para entrar e para sair, e não pode tentar especular com o momento do mercado”, diz Sinara Polycarpo,  a superintendente de investimentos do banco Santander. A seguir, cinco recomendações para fazer render mais seu precioso R$ 1 milhão. 

 


Comprar Ouro

 

O bordão do apresentador de tevê Silvio Santos “barras de ouro valem mais que dinheiro” vem fazendo sentido para alguns investidores neste momento turbulento dos mercados. Não é verdade – dinheiro rende juros e ouro é uma reserva de valor. No entanto, o nobre metal sempre serviu para proteção em momentos de crise e por isso seus preços sobem mais que os de outras commodities. É o que vem ocorrendo nos últimos tempos. Na segunda-feira 18, o ouro atingiu um recorde histórico e fechou cotado a US$ 1.600 a onça-troy (31,1 gramas) em Nova York.

 

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“Com a instabilidade na Europa, o ciclo de alta das commodities e do ouro pode se prolongar por mais tempo”, diz André Nunes, diretor da empresa de serviços financeiros paulista Reserva Metais, especializada no mercado de ouro. “Alguns analistas preveem um máximo de US$ 2 mil a onça. ”Outros especialistas advertem, porém, que essa é uma aposta muito arriscada. A alta do metal tem sido bastante especulativa, por isso os preços podem desabar se o sentimento do mercado mudar. “Quanto mais caro o ouro, maior a probabilidade de reversão e menor o prêmio que o investidor recebe para correr esse risco”, diz Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos.

 

 

Apostar na baixa do Índice Bovespa

 

O Ibovespa, principal indicador do mercado acionário brasileiro, vem caindo há um ano e meio. No início de 2010, ele oscilava na casa dos 70 mil pontos e atualmente está em 59 mil pontos, uma queda de 15,7%. Mesmo assim, há quem esteja pessimista e acredite que as maiores quedas ainda não aconteceram, pois o mercado ainda poderá sofrer com algum evento na Europa. A confirmação de uma inadimplência na Grécia ou em Portugal, por exemplo, pode lançar a bolsa em uma nova onda de baixa. Para se proteger desse cenário sombrio, quem tem apetite por operações mais arrojadas pode assumir posições vendidas no mercado futuro do Índice Bovespa.

 

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Esses contratos proporcionam ao investidor uma  compensação financeira diária cada vez que o mercado cai e podem defender o investidor de possíveis perdas. O risco, aqui, é elevado. Não há certeza sobre o comportamento futuro do mercado e o tombo pode ser doloroso. “Se houver uma recuperação dos mercados, as perdas com esse tipo de operação podem ser muito grandes”, diz Rodrigo Menon, sócio da Beta Advisors. Mas atenção, não tente fazer isso em casa. Investir com derivativos requer a assessoria de um profissional especializado.

 

 

 

Apostar na alta do dólar

 

A moeda americana vem perdendo força ao longo dos últimos anos. Desde a crise financeira nos Estados Unidos, em 2008, o dólar perdeu sua condição de moeda forte na comparação com uma cesta de moedas na qual está incluído o real, que também se valorizou por conta da melhora e do crescimento da economia brasileira. No ano, até o dia 20 de julho, o dólar caiu 5,8% em relação à moeda brasileira. Em 12 meses, a queda é de quase 11%, mas uma possível piora do cenário externo pode reverter essa trajetória do câmbio e fazer o dólar subir, ainda que brevemente.

 

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Os especialistas afirmam que esse movimento de ajuste das cotações será rápido e, por isso, uma posição comprada em dólar futuro pode render ganhos. Nessa aplicação, o investidor ganha compensações financeiras diárias se o dólar sobe no mercado à vista. Essa aposta é para quem gosta de fortes emoções. É preciso ter estômago para aguentar mais alguns meses de baixa e, mesmo assim, não é certo que essa alta vai ocorrer. De todas as alternativas, esta é a mais arriscada.

 

 

 

Aproveitar A liquidação da Bolsa

 

Os analistas do mercado e consultores financeiros se esquivam de fazer previsões sobre o rumo do mercado acionário, mas todos são unânimes em afirmar que os papéis de diversas empresas sólidas e com bom fundamento estão baratos. Setores como bancos, siderurgia e varejo podem oferecer boas oportunidades. A dica é fazer compras pontuais à medida que surgirem novas liquidações no pregão. Não é recomendado fazer um aporte grande de uma só vez, porque ainda não é possível determinar se o preço das ações atingiu o fundo do poço.

 

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“É uma alternativa para quem tem visão de longo prazo, mas ainda assim deve-se acompanhar muito de perto sua carteira de ações”, diz o consultor financeiro paulista Erasmo Vieira. Paciência e sangue frio são, mais do que nunca, fundamentais. Para quem possui menos estômago para suportar o sobe e desce, a sugestão é ficar atento e aguardar uma melhor definição sobre o risco de default de algumas economias europeias e sobre a negociação do aumento do teto da dívida americana.

 

 

 

Investir em private equity

 

Os fundos de private equity no Brasil são voltados aos investidores individuais com muito dinheiro disponível – em geral, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabelece aplicações mínimas de R$ 300 mil ou até de R$ 1 milhão. Esses fundos são a melhor maneira de o investidor pessoa física ter acesso a uma carteira diversificada de empresas de capital fechado, mas com grande potencial de crescimento. O setor nunca esteve tão robusto no Brasil e os retornos podem ser elevados. “Em média, nos últimos anos, o retorno tem sido de mais de 30% ao ano em dólar”, diz o gestor Leonardo Ribeiro, da Ocroma Investimentos, de São Paulo.

 

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As taxas de administração são baixas, entre 1,5% e 2% ao ano, mas é preciso paciência – e muita – para alcançar os retornos pretendidos. “O retorno pode demorar de cinco a sete anos, que é o tempo de maturação de uma empresa que recebe esses recursos”, diz Menon, da Beta Advisors. Além disso, a liquidez desses fundos é muito baixa, por isso a maior probabilidade é de que o investidor tenha de carregar sua posição até a data de liquidação do fundo.