A Rede Record de Televisão cedeu, enfim, às tentações do mercado e saiu em busca de sócios. Sob o manto do silêncio, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, e esposa, Ester Eunice Macedo Bezerra, controladores da emissora paulista, deram a bênção para o início das negociações. A missão de encontrar o parceiro ideal foi confiada a Denis Munhoz, vice-presidente executivo. ?A decisão foi tomada. Estamos ouvindo as propostas?, disse Munhoz à DINHEIRO. Pelo menos dois grupos ? mantidos no anonimato pelo executivo ? já estiveram na sede da Record. A terceira rede de tevê do País, com média de 5% de audiência e faturamento perto de R$ 180 milhões em 2001,
vê o novo sócio como um importante aliado no processo de
migração para a tevê digital. ?Não precisamos de dinheiro para
tocar o dia-a-dia da empresa. O que importa é estar preparado
para o volume de investimentos que vem por aí?, explica o executivo. Especialistas estimam que o total de investimentos do setor deve chegar a R$ 10 bilhões.

A Record decidiu se adaptar às novas regras do artigo 222 da Constituição Federal, que permitiu o ingresso do capital estrangeiro no setor de comunicação. Em junho, as Organizações Globo anunciaram a criação da Globo S/A, holding que vai abrigar as empresas do maior grupo de mídia do País e deve servir de porta de entrada para um sócio estratégico no reino dos Marinhos. A Record não vai criar uma holding para abrigar as 63 afiliadas que abrangem 92% do território nacional. Munhoz explica que essas retransmissoras possuem sócios diferentes e que abrigá-las em uma única empresa seria muito trabalhoso. O projeto prevê o ingresso do sócio na TV Record de São Paulo, empresa existente há 49 anos e que em 1991 foi vendida pelo empresário Sílvio Santos para Macedo e sua esposa. Após o ingresso do sócio, a empresa estuda abrir capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

A estratégia de profissionalizar os quadros vem em boa hora. Segundo analistas que acompanham o mercado de tevê, a forte influência da Igreja Universal na gestão da emissora representava um entrave aos interesses de potenciais investidores. Munhoz admite que o assunto sobre as relações da Record com a Igreja sempre vem à tona nas negociações. ?Digo a eles que temos liberdade para gerir o negócio. A Igreja é um cliente que paga pelos horários que utiliza?, afirma. Dentro do novo formato desenhado pela Record, a maior parte dos bispos foi reunida no conselho de administração. Até mesmo a área comercial foi profissionalizada, com a contratação de Walter Zagari, ex-SBT. O mercado publicitário reagiu bem às mudanças. Mas a missão do novo executivo é hercúlea. A Globo continua com a maior fatia dos investimentos publicitários, R$ 2,5 bilhões. Em segundo vem o SBT, com cerca de R$ 380 milhões. Com seus R$ 180 milhões, a Record está longe e conta com o novo sócio para tomar do grupo de Sílvio Santos o segundo lugar do ranking. ?Isto deve acontecer num período de dois anos?, profetiza Munhoz.