14/02/2014 - 6:30
Em um antigo prédio onde funcionava uma subestação de energia da Light, construído na década de 1920, na Praça das Bandeiras, na região central da capital paulista, seis artistas fazem uma espécie de residência desde novembro do ano passado. No espaço de cinco andares, eles contam com um grande salão para mostras, ateliê e até um estúdio de música. Entre os residentes do local está a artista plástica gaúcha Fabiana Faleiros. Mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo, ela se notabilizou no cenário da cultura alternativa por suas performances musicais, que mesclam poesia e funk.
Dietrich Mateschitz, CEO mundial: “Não levamos o produto para o consumidor,
trazemos o consumidor para o produto”
Em seu trabalho, Fabiana faz releituras de músicas conhecidas usando o ritmo consagrado nos morros cariocas. O objetivo é questionar o machismo da sociedade e também a arte como algo institucional. Seu primeiro CD, ?Lady Incentivo?, de 2012, é claro nesse aspecto. O clima vanguardista do espaço e a liberdade artística que ali impera, além do fato de estar localizado em uma área degradada da cidade, dão ao lugar um ar de submundo das artes. A iniciativa, no entanto, é patrocinada por uma das maiores empresas de bebidas do mundo, a austríaca Red Bull, líder mundial na produção de energéticos, com um faturamento de ? 5 bilhões em 2013.
Vanguarda: a artista gaúcha Fabiana Faleiros é uma das residentes
do centro cultural mantido pela Red Bull em São Paulo
Ela também lidera o setor no Brasil, com quase 50% do mercado, segundo dados da consultoria Nielsen. Chamado de Red Bull Station, o centro cultural foi inaugurado em novembro do ano passado. Trata-se do primeiro empreendimento artístico permanente da empresa no mundo. O inusitado é que o objetivo do projeto não é trazer mais reconhecimento para a marca. Na verdade, o que ela quer é tirar o nome Red Bull do chamado mainstream. Ao se associar à arte de vanguarda, a fabricante de energéticos busca fugir do rótulo de ?bebida de balada? e evitar que seus consumidores apreciem a famosa mistura de uísque com energético, considerada nociva à saúde. ?O consumo de bebidas energéticas com álcool não é recomendado?, afirmou a Red Bull, em nota. A preocupação é legítima.
No Brasil, não apenas o consumo de energético está associado ao de bebidas alcoólicas, como o de uísque está intimamente ligado ao de energéticos. Segundo dados da consultoria britânica Mintel, 30% dos consumidores brasileiros da bebida destilada costumam misturar os dois drinques. Apenas 26% afirmam apreciar o malte escocês puro ou on the rocks. ?O brasileiro está trocando a caipirinha pelo uísque com energético?, afirma David Turner, diretor de pesquisa da Mintel no Brasil. Os altos investimentos em marketing, que chegam a 35% do faturamento, sempre foram a marca da Red Bull, desde sua criação, em 1987. ?Não levamos o produto para o consumidor?, diz o bilionário austríaco Dietrich Mateschitz, criador da bebida. ?Nós trazemos o consumidor para a bebida.?
Com a bola toda: Fabiano Eller, ex-zagueiro de Palmeiras
e Vasco, atua pelo Red Bull Brasil
Dessa forma, a companhia, cujo slogan é ?Red Bull te dá asas?, se tornou uma das maiores patrocinadoras esportivas do mundo, estampando sua marca em modalidades diversas, como a Fórmula 1, o Circuito Mundial de Surfe e até a Segunda Divisão do Campeonato Paulista de Futebol. Mas, quando esses mesmos consumidores resolvem utilizar o produto de forma perigosa, o jeito é intensificar os investimentos e associar seu nome a atividades mais saudáveis do que as baladas, em especial o esporte e as artes. É o que a empresa tem feito. Além do centro cultural, a Red Bull está apostando forte no futebol. Ela criou um time, o Red Bull Brasil, que atualmente é o terceiro colocado da Série A2 do Paulistão.
Os touros vermelhos não têm poupado esforços para chegar à Primeira Divisão. Seu centro de treinamento, por exemplo, não deve nada ao de grandes clubes brasileiros ou mesmo europeus. ?Os campos, a academia, o departamento médico e de fisioterapia estão no mesmo nível dos grandes clubes?, afirma o zagueiro Fabiano Eller, que já atuou por times como Palmeiras, Vasco e Santos, do Brasil, e Atlético de Madrid, da Espanha. ?Eu já havia ouvido muitos jogadores falarem bem do Red Bull Brasil e por isso aceitei vir jogar aqui.? Antes e depois dos jogos, claro, os atletas têm à sua disposição latinhas da bebida.