No domingo, 29 de julho, último dia dos Jogos Pan-Americanos, Marcelo de Carvalho, vice-presidente e sócio da emissora RedeTV!, vibrou de alegria. Ele não estava feliz com a audiência de seu canal, mas sim com o programa que tinha acabado de assistir na Rede Globo. Era final do basquete e a equipe brasileira havia conquistado o ouro diante de Porto Rico. Na comemoração, os jogadores se agacharam, ergueram as mãos e começaram a andar de um lado para o outro. Galvão Bueno, o locutor da Globo, gritou. ?Olha a dança do siri!?, disse referindo-se à dança inventada pelos humoristas do programa Pânico na TV, a principal atração da RedeTV!. Para Carvalho, que nos anos 80 atuava como gerente de merchandising da Globo, não poderia existir propaganda melhor. ?Esse é o resultado da repercussão da RedeTV! junto aos milhões de telespectadores do Brasil?, disse Carvalho, eufórico, logo após o evento. Em menos de sete anos de atuação, a empresa passou de um faturamento de R$ 9 milhões, em 1999, para R$ 250 milhões, em 2006.

Grande parte do incremento nas receitas se deve, principalmente, ao aumento de audiência. Nos primeiros meses do ano, de acordo com medições do Ibope, a RedeTV! apresentou uma média de 4,8 pontos contra 4,4 pontos da Bandeirantes. Trata-se de um empate técnico, mas diante da tradição da Band é uma vitória. ?Temos uma programação alternativa?, diz Amilcare Dallevo Júnior, presidente e sócio da emissora. ?Oferecemos o oposto da concorrência.? É, de certa forma, uma maneira inteligente de disputar o mercado sem bater de frente com Globo e Record, cujas grades de programação são muito parecidas. Ou seja, a RedeTV! faz o inverso dos rivais. Quando a Globo transmite o Jornal Nacional, às 20 horas, a RedeTV! passa o programa TV Fama, uma espécie de revista de fofocas eletrônica. Pela manhã, quando a concorrência passa programas infantis, ela aposta em produções voltadas para o público feminino. Nos domingos de Gugu e Faustão, a rede vem com o Pânico na TV. Isso, garantem os donos da RedeTV!, tem colocado a emissora entre as redes com maior penetração nas classes A e B na televisão aberta.

?Os clientes geralmente duvidam, mas as pesquisas mostram que é verdade?, Luciana Schwarpz, diretora geral de mídia da agência de publicidade Young & Rubicam. ?Mas não é o mesmo público que assiste televisão a cabo.?

Para se manter nesse nicho, além de programas como a coluna social de Amaury Junior, a empresa ampliou os investimentos em novos programas. Tirou do bolso US$ 5 milhões para lançar, em parceria com a Disney, a série Donas de Casa Desesperadas, a versão brasileira de Desperate Housewives, um dos maiores sucessos da televisão americana. Também contratou o jornalista Rodolfo Gamberini para iniciar um jornal que entrará no ar das 18h até as 19h. ?Investimos US$ 100 milhões nos últimos anos?, afirma Dallevo. ?Eles estão fazendo um bom trabalho?, diz Ângelo Franzão, vice-presidente de mídia da McCann Erickson. ?Os índices da RedeTV! se destacam pela qualidade e não pela quantidade.?

Apesar do sucesso, a empresa é vista com ressalvas. Hoje, quase sete anos depois de sua fundação, a RedeTV! ainda sofre com problemas de imagem derivados de dois fatores: a origem dos sócios e a herança da TV Manchete. Os sócios, Amilcare Dallevo Júnior e Marcelo de Carvalho, fizeram fortuna com uma empresa chamada Tecnet. Ela foi a primeira a usar a televisão de forma interativa com o público. Usava o sistema 0900 e vendia o produto para as emissoras. O negócio começou com os telespectadores dando notas para as escolas de samba do Rio de Janeiro, no Carnaval de 1993, e daí por diante não parou de crescer. Todas as emissoras passaram a usar o 0900 e cobrar pelas ligações e todas eram clientes da Tecnet. Estima-se que só a Globo, na Copa de 1998, tenha arrecadado R$ 480 milhões. Na época, o negócio foi visto como um caça-níquel e a Justiça decretou a proibição do sistema como forma de arrecadação. Depois que a mina de ouro chegou ao fim, Carvalho e Dallevo, que compravam horário da TV Manchete, decidiram entrar no leilão da emissora que estava afundada em dívidas. Eles conseguiram comprar as concessões, mas, até hoje, sofrem com processos trabalhistas. São, em sua maioria, de ex-funcionários da Rede Manchete. ?Nós só compramos a concessão?, diz Carvalho. ?Não ficamos com um único ativo da Manchete, nem os arquivos de imagens.? É uma discussão que ainda deve render muito pano para manga.