29/11/2006 - 8:00
Discretamente, sem alarde no mercado, a Redecard está abrindo sua rede. Ao seu negócio principal, de transações com cartões de crédito e débito, a empresa responsável por fazer a ponte entre a bandeira MasterCard e os estabelecimentos a ela credenciados está incorporando outros produtos e serviços. A começar pelos cartões de convênio ou benefício. Seus terminais instalados no varejo já foram reprogramados para aceitar vales da Sodexho, da Ticket e da VR. ?Estamos maximizando o uso da rede que nós já temos e dando oportunidade a outros setores da economia que teriam que investir muito em infra-estrutura?, diz Anastácio Ramos, presidente da Redecard. Esta é a parte visível de um iceberg que, no limite, deverá soterrar a atual divisão entre as redes da MasterCard, da Visa (Visanet), American Express e demais meios de pagamento.
Parte da infra-estrutura dos caixas das grandes redes varejistas já é compartilhada. Ou seja, os cartões entregues à operadora de caixa, sejam eles Visa ou Master, são lidos por um mesmo computador. Uma vez implantado, esse sistema permite redução de custos. Para que isso ocorra, no entanto, é necessário um investimento em software ainda considerado proibitivo pelos varejistas de menor porte. De acordo com a Redecard, 36% dos pagamentos hoje são ?capturados? desse modo. A maioria das transações (64%), porém, ainda é feita por meio daquelas maquininhas portáteis tecnicamente chamadas terminais POS. E essas são exclusivas de cada rede credenciadora.
Ocorre que, com a proliferação dos cartões de bandeira própria dos varejistas e daqueles que unem a marca da loja à da Visa ou MasterCard (conhecidos como co-branded), a manutenção de redes independentes começa a ser questionada. Os sistemas de captura de pagamentos tornam-se mais complexos. Em certas transações, a receita é dividida entre o varejista e a empresa de cartão. Em outras, é encaminhada para apenas uma delas. Diante desse quadro, a Redecard calcula que, com a rede aberta, amplia sua capacidade de conquistar bons negócios.
É um alargamento de horizontes bem-vindo para uma empresa que está completando dez anos em um setor em permanente reinvenção. Quase ao mesmo tempo, entre outubro e novembro de 1996, Redecard e Visanet surgiram no mercado, criando a figura da rede credenciadora de estabelecimentos. Foi um primeiro passo na abertura desse mercado. Até então, os próprios emissores de cartões eram os responsáveis pela afiliação dos varejistas. E havia rígida exclusividade de bandeiras. Ou seja, o banco que emitia Visa não podia trabalhar com MasterCard, e vice-versa. A aquisição do Banco Nacional pelo Unibanco pôs esse modelo em xeque. O primeiro emitia Visa e o segundo, MasterCard. Com a fusão, abriu-se um precedente. Se um banco podia ter duas bandeiras na carteira, os demais também deveriam ter o direito de emitir plásticos das duas marcas.
Agora, o mercado está diante de nova ruptura. Ao comprar boa parte das operações da American Express no Brasil, o Bradesco estendeu este movimento de abertura das bandeiras para as credenciadoras. O banco é um dos sócios-fundadores da Visanet. A Amex tem uma rede independente. Fundidas as estruturas, tem-se nova quebra de fronteiras. E, em tese, ruma-se para um modelo que permitirá a captura das transações tanto da Master como da Visa.
Ramos reconhece a necessidade de racionalizar o negócio de pagamentos eletrônicos, sobretudo através do compartilhamento e da abertura das redes. Mas é cauteloso ao falar de uma integração completa. ?Até a dualidade das credenciadoras se concretizar, ainda vamos caminhar bastante dentro do modelo atual, com ajustes acontecendo gradualmente?, acredita.
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360 milhões de cartões de crédito e débito estão em circulação no Brasil, contra 1,5 bilhão nos Estados Unidos, sendo 700 milhões de crédito |