27/10/2010 - 21:00
Negociado em julho de 1944, quando já era possível prever o fim da Segunda Guerra Mundial, o acordo de Bretton Woods foi o pacto mais importante da história monetária internacional. Ele garantiu três décadas de previsibilidade nos mercados de câmbio e só deixou de funcionar quando os Estados Unidos, para reaquecer a economia, desvincularam o dólar do padrão-ouro. Bretton Woods teve a participação de John Maynard Keynes, mas não sua bênção: os resultados foram diferentes do que ele defendia.
Quase sete décadas depois, a tarefa que o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, tem pela frente é bem mais espinhosa do que a de Keynes. O congressistas de Bretton Woods sabiam que o objetivo das conversas do pós-guerra era garantir uma paz duradoura e sustentável.
Já os líderes que vão se reunir na Coreia do Sul no dia 11 de novembro dificilmente conseguirão impedir a guerra. A diferença com relação a 1944 é que os campos de batalha são os mercados monetários e as tropas são lideradas pelos banqueiros centrais.
A reunião de cúpula do G-20, o grupo das 20 maiores e mais importantes economias do mundo que vai se encontrar em Seul, tem de impedir que a guerra cambial frustre os esforços governamentais para recolocar a economia nos trilhos após a crise de 2008. Há poucas probabilidades de que isso ocorra.
A genialidade de Keynes criou um sistema de elegância invejável. Os países signatários comprometiam-se a manter suas moedas estáveis em relação ao preço do ouro, o que reduziria os riscos e garantiria a retomada do comércio e dos investimentos internacionais.
O recém-criado Fundo Monetário Internacional (FMI) corrigiria eventuais desequilíbrios. O acordo durou até 1971, quando o presidente americano Richard Nixon desvalorizou sua moeda, para tentar conter o desemprego que afetava os Estados Unidos, garantir o crescimento da economia e seu futuro político.
Geithner tentará repetir o feito de Nixon, com as desvantagens de não haver um padrão para ser rompido e de os Estados Unidos terem passado da ofensiva às estratégias de defesa.
A maioria dos países relevantes, o Brasil entre eles, quer impedir a excessiva apreciação de suas moedas em relação ao dólar. As medidas de contenção, que passam por medidas fiscais, cambiais e eventualmente comerciais, podem tornar muito mais longa e dolorida a recuperação da economia americana. O ponto mais importante, o pleito americano para que a China permita a valorização do renminbi em relação ao dólar, deverá continuar sem solução.
Não é do interesse chinês alterar o esquema de coisas que vem garantindo o crescimento econômico de dois dígitos, ainda mais agora que Pequim está iniciando mais um de seus imprevisíveis processos de sucessão.
Na última reunião do FMI em Washington, os chineses suportaram as pressões americanas sem perder a calma oriental. A China até admite desvalorizar sua moeda em relação ao dólar, mas a flexibilização cambial será no ritmo da abertura política – milimetricamente calculada e executada. Ou seja, o encontro de Seul não terá, nem de longe, a importância de Bretton Woods, algo que não ocorreria nem com a participação de Keynes.