Dois afegãos que estavam acampados há cerca de um mês no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, testaram positivo para covid neste domingo, 4. Voluntários que atuam no local suspeitam que pode estar havendo um surto da doença. Atualmente, 80 refugiados estão dormindo no aeroporto em busca de assistência, segundo a prefeitura da cidade.

A gestão municipal informou que os infectados foram encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento a Saúde (UPA) Cumbica, onde permanecem isolados até serem liberados para encaminhamento para um abrigo. A prefeitura reforçou ainda que acionou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre os diagnósticos, já que o aeroporto internacional é de concessão federal.

O Afeganistão vive em guerra desde o fim do ano passado, quando o grupo armado Taleban retomou o controle do país. O Brasil passou a oferecer, então, um visto humanitário para receber refugiados, encaminhando aqueles que não tinham recursos para centros de acolhimento. Com o tempo, porém, as vagas nesses espaços tornaram-se insuficientes, e os afegãos passaram a se aglomerar no aeroporto especialmente desde agosto.

Os dois refugiados diagnosticados com covid, uma mulher de 64 anos e um homem de 21, estavam assintomáticos e só foram encaminhados por voluntários para um posto de saúde porque havia suspeita de outros problemas de saúde. Um deles apresentava complicações em decorrência da diabetes e outro, suspeita de inflamação nos rins.

Neste domingo, ativistas que atuam no aeroporto já há alguns meses realizaram uma ação de saúde no aeroporto. Cerca de vinte profissionais de saúde voluntários, entre médicos e enfermeiros, prestaram atendimento no local. Dos três refugiados que foram encaminhados para uma UPA, dois testaram positivo mesmo sem apresentar sintomas gripais.

“A gente ficou em pânico”, relatou ao Estadão a ativista Swany Zenobini, uma das voluntárias que atua no aeroporto por meio do coletivo Frente Afegã. Os resultados saíram no fim da tarde de domingo. “Se de três pessoas que foram testadas, sem nem terem se queixado, porque estão assintomáticas, dois deram positivo, imagina o tanto de gente que deve estar covid naquele aeroporto.”

Swany relata que o grupo notificou ainda no domingo a prefeitura de Guarulhos, que mantém um posto de atendimento no aeroporto. A gestão municipal providenciou o isolamento dos pacientes no posto de saúde. Agora, o objetivo do coletivo Frente Afegã, continuou a voluntária, é fazer com que outros refugiados sejam testados antes de serem encaminhados para abrigos.

A prefeitura informou, em nota, que “segue as orientações do governo de São Paulo, que orienta, conforme nota técnica, a testagem apenas em pessoas sintomáticas”. “Semanalmente a Secretaria de Saúde de Guarulhos tem realizado ações de saúde no aeroporto, como vacinação, consultas médicas, além de orientações gerais sobre saúde”, informou.

A gestão municipal afirmou que já abriu dois acolhimentos na cidade: um em agosto, com 27 vagas, e um em outubro, com mais 20. “Abriríamos ainda esta semana mais 28 vagas com o recurso enviado pelo governo federal, mas estamos verificando a possibilidade de usar este espaço para acolher os que testaram positivo ontem”, afirmou. A pasta reiterou entregar café da manhã, almoço e jantar aos que aguardam acolhimento no aeroporto.

Como mostrou o Estadão em outubro, alguns dos refugiados estão sendo encaminhados para centros de acolhimento, mas o grupo acampado no aeroporto, que muda de composição a todo momento, cresce especialmente desde agosto. Segundo voluntários, o número cresceu com o aumento de voos devido à Copa do Mundo e ficou perto de 300 na última semana. Agora, conforme a prefeitura de Guarulhos, são cerca de 80.

O que dizem a Anvisa e o governo de São Paulo

Em nota, a Anvisa informou que a situação de refugiados afegãos que estão acampados no aeroporto de Guarulhos é de conhecimento da agência, que acompanha a situação desde que os primeiros grupos passaram a aguardar o encaminhamento para localidades de destino.

“A partir da observação do crescimento do grupo e do tempo de permanência, a Anvisa informou oficialmente, em 11 de outubro, o Ministério da Saúde, relativo aos riscos à Saúde de tal situação; e o Comitê Nacional Para Refugiados (Conare) do Ministério da Justiça, relativo à situação de um acolhimento para os acampados”, afirmou o órgão.

A Anvisa afirmou que executa atividades de Vigilância Epidemiológica sob orientação técnica e normativa do Ministério da Saúde. Segundo a agência, o ministério indicou a atuação da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, como órgão que faria a oferta de vacinas, a coleta de amostras de casos suspeitos e o apoio na mitigação do risco de transmissão de doenças infectocontagiosas.

Após os casos positivos identificados neste domingo, a Anvisa comunicou, então, o CVE/SP e reforçou a indicação do uso de máscaras, disponibilizando-as para todo o grupo de refugiados. “Caso novos refugiados apresentem sintomas é indicada a testagem nas unidades de saúde do município e isolamento em local fora do aeroporto”, apontou.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou ter recebido a notificação, pela Anvisa, dos dois casos ao Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). “Os dois pacientes estão em isolamento em uma unidade municipal e seguem sendo acompanhados pelas vigilâncias estadual e municipal”, afirmou o governo estadual. Até o momento, nenhum outro caso foi identificado.