O rei Abdullah II da Jordânia declarou nesta quarta-feira (7) que chegou ao fim “a sedição” supostamente liderada por seu meio-irmão, o príncipe Hamza, que se encontra “sob sua proteção”, no Palácio Real.

“Posso garantir que a sedição foi cortada pela raiz. O desafio desses últimos dias não foi o mais perigoso para a estabilidade do país, mas foi o mais doloroso para mim”, disse em uma mensagem lida em seu nome na televisão pública.

“(O príncipe Hamza) se comprometeu com a família (hachemita) a seguir o caminho de seus pais e avós, a ser fiel à sua mensagem e colocar o interesse de Jordânia, sua Constituição e suas leis acima de qualquer outra consideração”, diz a mensagem.

O confuso incidente gerou surpresa e especulação dentro e fora da Jordânia, um país excepcionalmente tranquilo na problemática região do Oriente Médio.

Hamza disse no sábado que foi colocado em prisão domiciliar. Em seguida, vazou uma gravação com uma suposta discussão com o chefe das Forças Armadas, o general Youssef Huneiti, que o ordenou que ficasse em casa, sem acesso a redes sociais.

Hamza foi declarado príncipe herdeiro em 1999 por desejo de seu pai, mas Abdullah o despojou desse título em 2004 e nomeou seu filho mais velho em seu lugar.

– Como se nada tivesse acontecido –

A suposta conspiração desapareceu completamente da imprensa local, após uma proibição estrita de publicação de informações relacionadas à investigação.

Em uma tentativa de acabar com este episódio sem precedentes no reino Hachemita, o procurador de Amã, Hasan Al Abdullah, decretou na terça-feira o fim da investigação “pelos serviços de segurança sobre o príncipe Hamza e outros”.

Nesta quarta-feira, ele especificou que a proibição se referia “à condução da investigação, sua confidencialidade, sua integridade, as provas e os acusados”.

Em vez disso, acrescentou que “a proibição exclui a liberdade de opinião e expressão, bem como declarações emitidas por autoridades oficiais”.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou em nota “este novo entrave ao direito à informação”.

Depois de ocupar as manchetes por três dias, os jornais não publicaram nada nesta quarta-feira sobre o “complô” para desestabilizar o trono nem fizeram qualquer referência sobre tentativa de abalar a segurança do reino. Tampouco mencionaram a detenção dos supostos conspiradores.

Para Mustafah al-Riyalat, chefe de redação do jornal estatal Ad-Dustour, o silêncio da imprensa se justifica porque o assuntou “chegou ao fim”. “Graças a Deus as coisas voltaram ao normal”, declarou à AFP.

“Todos os jordanianos agora estão tranquilos, como se nada tivesse acontecido”, completou, embora admita que esta não é a única razão.

“Existe a decisão do procurador de proibir a publicação de qualquer assunto relacionado com o príncipe Hamza”, disse.

“Também de publicar sobre os detidos. Devemos esperar um anúncio oficial sobre o tema antes de publicar”, explicou o jornalista.

Cerca de vinte pessoas estão presas, entre elas Basem Awadallah, ex-chefe do gabinete real, apreciado por grande parte da população, e Cherif Hasan Bin Zaid, que foi emissário especial do rei na Arábia Saudita.

O príncipe Hamza negou as acusações. Muitos jordanianos entrevistados pela AFP expressaram seu alívio com o desfecho da crise.

Alguns postaram fotos de Hamza nas redes sociais na segunda-feira, parabenizando-o, enquanto outros prestaram homenagem ao rei Abdullah II e ao príncipe herdeiro Hussein.

Para Ahmed Awad, que dirige o Centro Phenix de Estudos de Economia e Informática, “embora se tenha encontrado uma solução no seio da família real, a verdadeira crise política não acabou e vai continuar (…) enquanto não houver mais reformas democráticas”.