Na pequena cidade de Lins, no interior paulista, uma família de cinco irmãos comemora com churrasco cada nova notícia sobre a doença da vaca louca, que já provocou o sacrifício de 4,5 milhões de cabeças só na Inglaterra e condenou à morte rebanhos inteiros em todo o continente europeu. Afinal, para os Bertin o desastre sanitário do outro lado do Atlântico apresenta uma oportunidade única. Verdadeiros reis dos abatedouros e dos frigoríficos no Brasil, eles ficaram com US$ 150 milhões dos US$ 750 milhões exportados em carne pelo País no ano passado. Com a doença da vaca louca e a erradicação da febre aftosa em vários Estados brasileiros, a previsão é que as exportações de carne chegarão a US$ 1 bilhão em 2001, fazendo a festa do setor pecuário e aumentando ainda mais a fortuna da família, que possui 10 frigoríficos e 12 curtumes ? o último deles inaugurado no início do ano na cidade de Cacoal, em Rondônia.

O império Bertin começou a ser construído após a morte trágica do irmão mais velho. Os outros cinco irmãos se juntaram e teriam passado a adquirir frigoríficos quebrados, endividados principalmente com o Banco do Brasil. A última dessas aquisições, feita em meados do ano passado, teve grande repercussão: os Bertin assumiram os frigoríficos Swift-Armour, do Grupo Bordon, o terceiro maior exportador de carne do País, faturando mais de US$ 40 milhões ao ano apenas com vendas no exterior. Hoje, a rede de frigoríficos Bertin abate, por mês, 180 mil bois, ou seis mil por dia. Dos seus abatedouros a carne segue para Europa, Oriente Médio, Ásia e América do Norte. Avessos à imprensa, os Bertin se recusam a dar entrevista. Reinaldo Bertin, que toca a parte industrial, afirmou à DINHEIRO que a família não gosta de aparecer por ter medo de seqüestro.

Dono do maior rebanho do mundo, com 160 milhões de cabeças, o Brasil produziu no ano passado 6,5 milhões de toneladas de carne. Desse total, no entanto, menos de 10% são vendidos para 70 países em todos os continentes, o que coloca o Brasil em quarto lugar na exportação, atrás da Austrália, Estados Unidos e Europa. Além da vaca louca e da erradicação da febre aftosa, outras notícias indicam que o Brasil pode subir no pódio dos maiores exportadores. De 22 a 26 de janeiro, em Paris, a comissão veterinária da Organização Internacional de Epizootia (doença contagiosa entre animais) examina o pleito para que o Brasil seja considerado território livre de doenças na pecuária. Em maio deste ano esse mesmo pleito será colocado em votação na assembléia geral que irá reunir os 155 países filiados à OIE. Na semana passada, a Associação Brasileira das Indústrias de Carnes Industrializadas (Abiec) reuniu os donos dos maiores frigoríficos do País, entre eles Fernando Bertin, com marqueteiros e técnicos do Ministério da Agricultura para discutir a estratégia que será usada para avançar ainda mais sobre o mercado exterior. Se for considerada a exportação de sapatos e de outros produtos de carne industrializada e couro, a agropecuária trouxe para o Brasil em 2000 cerca de US$ 3 bilhões, pouco menos que a indústria automotiva, que exportou US$ 3,9 bilhões. E tem tudo para trazer muito mais .