01/06/2011 - 21:00
Mesmo que não o diferenciem pelo nome, quase todos os brasileiros nascidos no último século reconhecem um baralho 139, quando o têm nas mãos. O fundo azul ou vermelho e o símbolo de uma taça prata, com o cavaleiro empunhando uma lança nas cartas da marca Copag, preencheram horas de lazer de gerações e gerações ao longo das décadas. A fabricante do modelo, fundada há 103 anos pelo imigrante português Albino Gonçalves, em São Paulo, atravessou a era dos cassinos e sobreviveu à sua proibição pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1946.
Agora a Copag, que detém cerca de 90% de participação no mercado brasileiro, colhe os frutos de uma bem-sucedida estratégia de internacionalização. Em 2005, ela se associou com a belga Cartamundi, maior grupo de jogos de cartas do planeta. Após essa jogada, a família Gonçalves passou a deter 50% de um grupo que deve faturar US$ 250 milhões no mundo em 2011 e vende a sua produção anual de 200 milhões de baralhos para mais de 120 países.
Gonçalves Filho: ele faz parte da quarta geração da família a comandar a Copag.
“Não dá para depender só das vendas internas”
Nos últimos três anos, o Cartamundi adquiriu o controle de empresas no México e na Índia. “Provavelmente, o próximo lugar onde vamos chegar é a China”, diz Ricardo Gonçalves Filho, CEO da empresa e representante da quarta geração da família, no comando da Copag. “Não dá para depender só das vendas internas.” A internacionalização dos negócios pode ser explicada pelo tamanho do mercado brasileiro. O Brasil representa apenas 2% do mercado global de baralhos, que produziu 1,5 bilhão de unidades em 2010.
O País não está entre os 15 maiores consumidores per capita do produto do mundo. Atualmente, a fábrica de Manaus da Copag, que tem capacidade de produzir 30 milhões de baralhos por ano, exporta 15% de sua produção. A cartada de mestre da Copag para ganhar espaço lá fora foi aproveitar-se da febre mundial pelo pôquer. A empresa é a fornecedora oficial para a World Series of Poker, a copa do mundo do pôquer, e para os torneios organizados pela Poker Stars, uma liga de jogadores profissionais.
Símbolo: Cavaleiro empunhando uma lança é marca registrada da Copag
A fusão com a Cartamundi, que possui fábricas em oito países, permitiu também que baralhos da Copag fossem manipulados por crupiês de cassinos americanos, argentinos, franceses e do território chinês de Macau, considerada a Las Vegas asiática. “O nome Copag é muito forte lá fora”, diz Sérgio Prado, gerente de conteúdo da Poker Stars no Brasil e comentarista de pôquer na ESPN Brasil. “O baralho deles já é considerado o melhor do mundo.”
O desafio, nesse processo de internacionalização, será replicar a abrangência que a Copag conquistou no mercado brasileiro. Por aqui, é possível encontrar os baralhos da empresa em pontos de venda, que vão de bancas de revistas e padarias a supermercados e até postos de combustível. Apesar do velho modelo 139 ser ainda o carro-chefe, a companhia distribui outros 100 produtos, como os baralhos de personagens de animações licenciadas pela Disney.
Cartada centenária: De uma papelaria paulistana a um grupo internacional
Um dos maiores destaques recentes são os jogos de troca de cartas, como os baseados na animação japonesa Pokémon. Prestes a completar 40 anos de atuação na empresa, Gonçalves Filho, 58 anos, já se prepara para a entrada da quinta geração da família no comando da Copag. “Adotamos a política de limite de idade de 65 anos, mas com 60 anos pretendo ficar apenas no conselho de administração”, afirma. “Hoje, eles já conduzem o negócio.”
Gonçalves Filho refere-se ao diretor de operações Gelber Abe, 32 anos, que chegou à empresa como office-boy, e aos filhos Ricardo Gonçalves Neto, 28 anos, que dirige a área de projetos especiais, e Ana Carolina Gonçalves, 27 anos, responsável por pesquisa e desenvolvimento. Apesar do aspecto familiar da empresa, a companhia não está para brincadeiras. A Copag vive do entretenimento, mas leva a sério o negócio do baralho.