13/03/2002 - 7:00
O peradores profissionais detestam ouvir leigos compararem o mercado financeiro a um cassino. Tentam dar verniz científico ao ofício. O mais bem-pago administrador de recursos do mundo, porém, discorda deles. Bill Gross, dono de um salário de US$ 40 milhões por ano, gosta de dizer que jogar em Las Vegas e administrar dinheiro são a mesma coisa. Seu estilo de operar, conta, foi desenvolvido nas mesas de blackjack dos cassinos americanos. E deu muito certo. Gross começou em 1973 e conquistou no mercado o título incontestado de ?rei dos bonds?. A empresa que comanda, a Pimco, administra sozinha 2,5% do mercado mundial de títulos de países e empresas. São US$ 350 bilhões em suas mãos, de um bolo total de US$ 14 trilhões. Sua especialidade é antever onde seus concorrentes vão errar. Operando ? ou jogando ? dessa forma, Gross conseguiu se antecipar à queda da Argentina e à recessão dos Estados Unidos. Ganhou dinheiro com os dois eventos. Agora ele acredita ter descoberto um outro filão: o Brasil. ?Estou aumentando nossa posição de títulos públicos brasileiros atrelados ao dólar. As reformas tornaram o País menos vulnerável?, disse à DINHEIRO. Leia destaques da entrevista.
A Pimco já adquiriu US$ 1,5 bilhão em títulos públicos de Brasil e México. Bom sinal para os países: as últimas apostas de Gross foram vencedoras. Com a recessão americana, embolsou US$ 500 milhões ao trocar títulos de empresas de sua carteira por papéis públicos. Na Argentina, ganhou US$ 250 milhões apostando contra o governo. Sua carteira de mercados emergentes rendeu 28% no ano passado. No Brasil, ele vislumbrou mais uma oportunidade de chegar na frente. Gross lê relatórios sobre o País e conversa com consultores e analistas. Manda periodicamente um de seus funcionários ver o País de perto. Movimentos seus, porém, não passam despercebidos. Concorrentes costumam tentar pegar carona em suas operações.
Seus resultados justificam o título de ?rei dos bonds?. Gross faz o patrimônio de seus fundos crescer ao ritmo de 10,6% ao ano desde 1973, superando em 1,5 ponto percentual a média do mercado. Seus fundos de renda fixa, de risco obviamente mais baixo que o mercado de ações, por pouco não alcançaram o rendimento do mais importante índice da Bolsa de Nova York, o S&P 500, que cresceu 13% ao ano, nos mesmos 29 anos. Só em três vezes fechou um ano com rentabilidade no vermelho. São feitos como esse que levaram a alemã Allianz a comprar há dois anos 70% da Pimco, que pertenciam a Gross e outros sócios. A venda de suas ações rendeu a Gross
US$ 266 milhões. Mas a Allianz sabia que a Pimco só sobreviveria se Gross ficasse e fechou com ele um contrato de cinco anos. Nele, compromete-se a pagar o salário recorde de US$ 40 milhões por ano. A cada hora ele ganha US$ 4,5 mil, mesmo dormindo.
Gross gosta de dizer, porém, que dinheiro não é sua motivação. ?Eu gosto mesmo é do jogo?, afirma. Gross habita uma mansão em um bairro sofisticado de Laguna Beach, na Califórnia, mas parece não se convencer de que é riquíssimo. Sempre que leva o filho Nick,
de 11 anos, ao Canadá, para participar de torneios de hóquei, eles se hospedam em um Holiday Inn, com diária de US$ 50. Com a mulher, em 2000, comemorou a venda da Pimco para a Allianz com um modesto champanhe de sete anos. E não gostou. ?Preferiria cerveja e almôndegas?, diz.
Sua técnica heterodoxa nasceu de um acidente de carro aos
22 anos. Gross passou seis meses em um hospital e, nesse período, leu um livro que prometia um método infalível para jogadores de blackjack. Quando saiu do hospital, passou à prática. Foi a Las Vegas, hospedou-se em um hotel de US$ 5 a diária e, durante seis meses, dedicou 16 horas por dia ao carteado. Transformou
US$ 200 em US$ 10 mil, que pagaram seu MBA na Universidade da Califórnia. Em nenhum momento, diz, deixou-se levar pela tentação de fazer apostas ousadas.
O QUE PENSA O HOMEM DE US$ 350 BI: |
BRASIL ? ?Estou aumentando nossa posição em títulos brasileiros em dólar nos últimos meses. É a nossa maior carteira de mercados emergentes. Isso reflete o aprofundamento e a institucionalização da política econômica? EMERGENTES ? ?A Argentina não vai puxar uma crise generalizada. Muitos países, liderados por México e Brasil, fortaleceram o controle da economia? FMI ? ?Os organismos financeiros internacionais (FMI e Banco Mundial) estão a postos para dar crédito a países com políticas econômicas sustentáveis? DESCOLAMENTO ? ?Os investidores aprenderam a diferenciar os emergentes. Os países e o FMI deram informações amplas e no momento certo? ESTABILIDADE ? ?Há um consenso (no Brasil) sobre a |