Quando o empreendedor americano Reid Hoffman criou a sua primeira rede social, a Socialnet, em agosto de 1997, seu compatriota Mark Zuckerberg ainda era um adolescente. Nos 15 anos que se passaram desde então, o negócio de internet se transformou radicalmente e ninguém mais ouviu falar da Socialnet, que Hoffman encerrou melancolicamente, em 2000, à época do estouro da bolha. Zuckerberg, por sua vez, montou o Facebook e hoje é um popstar da tecnologia. Mas Hoffman – ainda que não tenha sido retratado nos cinemas, como Zuck no filme A rede social, de 2010 – também alcançou o sucesso internacional. Mestre em filosofia formado em Oxford, ele tem permanecido na vanguarda dos mais bem-sucedidos negócios online surgidos na década passada. 

 

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Um bom exemplo é o próprio Facebook, do amigo Zuckerberg. Hoffman foi um dos primeiros investidores do site, o homem que deu o empurrão vital para que o garoto de cabelos encaracolados pudesse brilhar no mercado digital, posteriormente. Os tentáculos de Hoffman, no entanto, se espalharam de tal forma pelo mundo online que ele já investiu em mais de 100 empresas digitais iniciantes. São iniciativas nos mais diferentes setores, como meios de pagamento, recrutamento e seleção, jogos, comércio local e mídias sociais. Seu negócio mais conhecido é o Linkedin, fundado em 2003 e hoje a maior rede social profissional do mundo. Além disso, foi um dos primeiros investidores da desenvolvedora de games Zynga, hoje uma potência. 

 

Outra empresa apoiada por ele é o site de compras coletivas Groupon. Com credenciais como essas no currículo, Hoffman se tornou o todo-poderoso do Vale do Silício e o empresário mais conectado do mundo, conforme já foi descrito por publicações como Wired, Time e The Wall Street Journal. Em sua valiosa rede de relacionamentos estão pessoas como o próprio Zuckerberg; Peter Thiel, criador do PayPal; Michael Moritz, investidor na Sequoia Capital; Andrew Mason, CEO do Groupon; Matt Cohler, investidor na Benchmark Capital; Mark Pincus, CEO da Zynga; Jim Breyer, investidor na Accel Partners; e Sean Parker, idealizador do Napster e ex-presidente do Facebook, entre outros. 

 

“Busco empresas que podem chegar a centenas de milhões de pessoas e que tenham um forte efeito de rede”, afirmou Hoffman em entrevista exclusiva à DINHEIRO, de seu escritório em Menlo Park, na Califórnia. Atualmente, entre suas principais apostas está o Airbnb, site de aluguel de acomodações para viagens ao redor do mundo, a Edmodo, comunidade online para professores e estudantes, e a Wrapp, aplicativo para presentear amigos nas redes sociais. O Greylock Partners, fundo de capital de risco do qual é sócio desde 2009, também investe em algumas das start-ups mais promissoras da atualidade, como o aplicativo para compartilhamento de fotos Instagram, a plataforma de blogs Tumblr e o serviço de armazenamento de arquivos na nuvem Dropbox. 

 

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São todos negócios multimilionários e, exceção feita à sueca Wrapp, nascidos nos Estados Unidos. Muitas dessas empresas têm conexões com o Vale do Silício, o tradicional berço de empresas de tecnologia e internet. Nos últimos anos, no entanto, outras regiões começaram a atrair as atenções dos investidores, como Nova York e Londres. Mas não só. Um estudo da consultoria americana Startup Compass, por exemplo, apontou São Paulo como o oitavo principal polo de start-ups do mundo. E Hoffman está atento a esse movimento. “A inovação está se descentralizando”, afirma. “Ela virá cada vez mais de outros lugares dos EUA e também de outros países, como o Brasil.” 

 

DE OLHO NO PAÍS O mercado brasileiro é um dos que ele tem observado com lupa, o que o faz planejar uma visita ao País em breve para ver de perto as oportunidades de negócios. “O Brasil é, sem dúvida, um mercado prioritário para as empresas e os investidores do Vale do Silício”, afirma. O empresário sabe disso por experiência própria. O Brasil é o quarto maior mercado para o Linkedin, com mais de nove milhões de usuários. No mundo, o site já tem 175 milhões de perfis – e dois novos são criados a cada segundo. E, enquanto o Facebook vive um momento difícil pós-abertura de capital, os papéis do Linkedin dispararam desde o IPO, em abril do ano passado. 

 

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Operação latina: Osvaldo Barbosa de Oliveira tem a missão de rentabilizar

o Linkedin na América Latina

 

Mais: avaliada em US$ 12,5 bilhões, a rede social profissional foi apontada em um levantamento da revista americana Forbes como a empresa de tecnologia de crescimento mais rápido do mundo, à frente, inclusive, da todo-poderosa Apple, que ficou em segundo. De acordo com o banco Barclays Capital, a receita do Linkedin, em 2012, deve crescer 71% e o lucro, 100%. São números notáveis, ainda mais para uma empresa que nasceu na sala de estar da casa de Hoffman, em Palo Alto, na Califórnia. “Comandar uma companhia de crescimento superacelerado é como lançar um foguete”, disse Jeff Weiner, um veterano do Yahoo!, escolhido por Hoffman para liderar o Linkedin. “Se hoje você estiver alguns centímetros longe do seu alvo, estará a quilômetros de distância no futuro.” 

 

A empresa mantém, desde novembro de 2011, um escritório em São Paulo, que funciona como quartel-general para as operações na América Latina. De acordo com Osvaldo Barbosa de Oliveira, ex-diretor geral da divisão online da Microsoft Brasil e atual presidente do Linkedin no País, já há mais de 120 empresas, como Pfizer, General Electric, Dell e Itaú, que usam os serviços de recursos humanos do Linkedin, como o Recruiter, para caçar profissionais qualificados no País. “Esse é o futuro do recrutamento para a nossa companhia”, disse John Campagnino, diretor global de recrutamento da consultoria Accenture, em entrevista à revista Fortune. Ele espera que cerca de 40% das suas contratações nos próximos anos sejam feitas por meio do Linkedin.

 

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IPO bilionário: Hoffman e Jeffrey Weiner (à dir.), CEO do Linkedin, festejam a abertura

de capital em abril do ano passado

 

O PODER DA REDE Para reinar nesse filão, o maior trunfo do Linkedin é ser uma rede social. Por não se tratar de um mero classificado de empregos, a empresa possibilita que as áreas de RH das companhias entrem em contato com o tipo de profissional mais cobiçado do mercado: aquele que está empregado, segundo Barbosa. A maior parte da receita do Linkedin vem justamente desses casos. Assim, o site, diferentemente do Facebook, gera receita com as informações postadas pelos seus usuários, e não com o tempo em que a pessoa permanece conectada. A baixa dependência da publicidade faz com que a migração dos usuários para os smartphones e tablets não seja vista como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade. “Aumentar a nossa base de profissionais cadastrados é a prioridade, mas há ainda outras oportunidades para explorar no País”, afirma Barbosa. 

 

Reid Hoffman também acredita na existência dessas oportunidades e por isso já fincou bandeira em outros segmentos do mercado brasileiro. Ele revelou à DINHEIRO que, no País, o fundo Greylock já investe há algum tempo na brasileira Peixe Urbano. Além disso, também fez aportes em empresas internacionais com atuação local, como o site de delivery Just-Eat, que atua no Brasil sob a marca RestauranteWeb. “Reid é um dos verdadeiros visionários do Vale”, afirma Julio Vasconcellos, fundador e CEO do Peixe Urbano. “Poucos entendem o mundo social da web como ele e conseguem ver o que será tendência.” O fundador do Linkedin não esconde seu entusiasmo pelo mercado nacional. “Tenho escutado coisas maravilhosas sobre as start-ups brasileiras”, diz Hoffman. “Esperamos fazer novos investimentos no Brasil no futuro.” 

 

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Conexão Brasil: o Peixe Urbano, de Julio Vasconcellos, é a única

empresa nacional na qual Hoffman investe

 

NOVA JORNADA Em meio ao vasto leque de realizações, esse empresário americano de 45 anos parece estar sempre disposto a começar. E não só no que se refere à abertura de empresas. Mesmo com uma imensa variedade de projetos sob seu comando, ele encontrou tempo para redigir, em parceria com o jovem empreendedor e escritor americano Ben Casnocha, seu primeiro livro. Em Comece por você – Adapte-se ao futuro, invista em si mesmo e transforme sua carreira (editora Campus Elsevier), Hoffman afirma que “as pessoas devem ser os CEOs das suas carreiras”. Diz também que todos devem ser “os empreendedores da sua vida profissional” e que “cada indivíduo precisa agir como uma start-up”. 

 

Para ele, as habilidades necessárias para gerenciar carreiras são parecidas com as competências dos empresários. Hoffman defende, por exemplo, que os melhores empreendedores podem ser persistentes em um momento e flexíveis em outro, variando conforme as circunstâncias. É como disse recentemente Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, em comentário sobre a obra: “Empreender não é mais apenas abrir um negócio, é um novo modo de ver o mundo.” Essa ideia ajuda a entender os propósitos do livro, que tenta ser um grande guia – no estilo como fazer – para quem deseja criar e se beneficiar de uma boa rede de relacionamentos. 

 

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“Não importam quais sejam as suas aspirações”, diz Hoffman. “O mais importante é pensar muito seriamente sobre como investir em si mesmo e na sua rede.” É fácil entender por que Hoffman diz isso. Afinal, ele não é o criador da maior rede social profissional do mundo por acaso.“Vivemos em uma cultura obcecada por heróis, raramente destacamos as pessoas que contribuíram para o sucesso de um grande empresário, artista ou atleta”, diz. “As boas relações e alianças construídas definem nossa capacidade de ser efetivo.” Isso equivale a dizer que são as pessoas que possibilitam a conexão com os melhores recursos, oportunidades e informações disponíveis. 

 

No caso de Hoffman, um exemplo é a amizade de longa data, iniciada na Universidade Stanford, com Peter Thiel, do PayPal. “Eu não sei qual é a palavra que define o contrário de um sociopata”, afirmou Thiel à revista Wired. “Mas Reid está no extremo oposto desse espectro.” O convívio com Thiel está no centro da formação da maior rede social do mundo, o Facebook. Foi ele que Hoffman sugeriu a Sean Parker, então presidente do Facebook, como uma das fontes de financiamento para o site que Mark Zuckerberg havia fundado meses antes nos dormitórios de Harvard. 

 

Conhecer em detalhes a história de um dos principais empresários deste início de século 21 pode funcionar como inspiração para quem deseja se aventurar por uma jornada empreendedora. E, nessa busca, provavelmente surgirá a pergunta: qual o grande segredo de Hoffman? Resposta: sua vasta rede de relacionamentos – em todos os níveis. Não é por acaso que, apesar da fortuna que possui, ele leva uma vida sem luxos ou ostentação (até recentemente, circulava a bordo de um Acura, veterano de mais de dez anos) e está sempre disponível para a família e para os amigos, que recebe em sua casa. “Meu maior prazer é sentar com as pessoas e conversar sobre algo interessante”, afirma.

 

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Você é o CEO da sua carreira”

 

O empresário Reid Hoffman não fez fama e fortuna apenas com o Linkedin, a sua rede social profissional. Ele também é investidor em algumas das empresas digitais mais bem-sucedidas da última década, como Facebook, Zynga e Groupon. Nesta entrevista exclusiva ao repórter Bruno Galo, da DINHEIRO, ele fala de sua trajetória e sobre seu primeiro livro Comece por você (editora Campus Elsevier): 

 

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Por que o sr. decidiu escrever um livro?

Queria ajudar as pessoas a entender que a forma como construímos nossas carreiras mudou e mostrar a importância de se construir uma boa rede de relacionamentos. No passado, as pessoas ingressavam numa empresa e, com o passar dos anos, caso fizessem um bom trabalho, era certo que atingiriam um bom posto dentro da hierarquia. Mas a internet, a tecnologia e a globalização mudaram tudo.

 

Como se adaptar a essa nova realidade da qual o sr. fala?

É necessário pensar sua vida profissional com a mente de um empreendedor. Escrevi esse livro para dar as ferramentas para as pessoas conseguirem se adaptar. Não importa quais sejam as suas aspirações. O mais importante é pensar seriamente sobre como investir em si mesmo e na sua rede. Não importa se você trabalha para uma corporação multinacional ou para uma pequena empresa local. Tenha a noção de que você é o CEO de sua própria carreira. 

 

Qual a relevância do mercado brasileiro de tecnologia no cenário global?

É um mercado incrível. A penetração de uma série de aplicações online e móveis é bastante relevante. A economia por si só é forte e tem ido bem. É sem dúvida um dos mercados nos quais tenho prestado mais atenção.

 

Como o sr. avalia as oportunidades de negócios no Brasil?

O Brasil é um mercado prioritário para as empresas e os investidores do Vale do Silício. Nós, do Greylock, já investimos em uma empresa brasileira – no caso, o Peixe Urbano. E esperamos fazer novos investimentos no futuro. Há uma grande chance neste sentido. O crescimento econômico – aliado a um engajamento online tão forte e à população prosperando, como vemos no Brasil – cria um ambiente repleto de oportunidades.

 

Como o sr. compara o Brasil a países como China e Rússia?

Cada um desses mercados tem uma característica preponderante. Na China, deve-se estar atento às demandas do governo. A Rússia é um mercado isolado. O que faz sucesso lá geralmente não tem repercussão no restante do mundo. Já o Brasil tende a estar em sintonia com as principais tendências globais. 

 

Qual a principal lição que o sr. aprendeu ao longo da sua carreira?

Diria que há três lições e que, de certa forma, estão interligadas: ataque um grande problema e crie uma empresa capaz de resolvê-lo; construa a melhor rede de relacionamentos em torno de você, pois são essas pessoas que vão ajudá-lo nos momentos mais difíceis; e não tenha medo do risco, mas assuma-os de forma inteligente.

 

Algumas empresas apoiadas pelo sr., como Groupon, Zynga e Facebook, estão indo mal no mercado de ações.

Como investidor, busco empresas que podem chegar a centenas de milhões de pessoas e que tenham um forte efeito de rede. É este exatamente o caso dessas companhias. Eu, particularmente, ainda confio no impacto que elas possam gerar nos próximos três ou cinco anos. Algumas estão enfrentando uma tempestade agora, mas possuem equipes capazes de mudar esse quadro. Você pode não acreditar, mas não olho o valor das ações do Linkedin diariamente. Há formas melhores para gastar o meu tempo. O mercado define o preço da ação, mas isso não tira o valor real que essas empresas geram para os seus usuários e outras companhias.

 

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