Os afegãos que trabalharam para veículos de comunicação britânicos durante a guerra, cujas vidas estão ameaçadas pelo avanço dos talibãs em seu país, poderão solicitar visto para se instalarem no Reino Unido – noticiou o jornal The Times nesta sexta-feira (6).

Depois de uma campanha promovida pela imprensa britânica, o Reino Unido incluirá estes profissionais em seu programa de transferência de tradutores e de funcionários afegãos que trabalharam para seu Exército.

Esta decisão foi tomada um dia depois da publicação de uma carta assinada nesse sentido pelos principais jornais britânicos e pelas emissoras de televisão Sky News e ITN.

“Reconhecemos a coragem dos jornalistas afegãos e daqueles que trabalharam, sem cessar, para apoiá-los em sua defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos”, afirmou o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, segundo o Times.

“A dinâmica imprensa afegã é uma das grandes conquistas do Afeganistão nos últimos 19 anos e deve ser celebrada e protegida”, acrescentou.

Procurado pela AFP, a Chancelaria britânica não quis fazer comentários.

Divulgada ontem, a carta se dirigiu, diretamente, ao primeiro-ministro Boris Johnson e ao ministro Dominic Raab.

“Precisamos agir urgentemente. A ameaça que pesa sobre suas vidas é grande e se agrava”, afirmou a missiva.

“Se nós os deixarmos para trás, jornalistas e profissionais da imprensa afegãos que desempenharam um papel essencial para informar o público, colaborando com a mídia britânica, estarão expostos a possíveis perseguições, atentados contra sua integridade física, prisão, tortura, ou morte”, advertem os signatários.

O Afeganistão é, há tempos, um dos países mais perigosos para os profissionais da imprensa.

Está na 122ª posição em termos de liberdade de imprensa, de um total de 180 países, no “ranking” publicado em maio pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Em 17 de julho, o fotógrafo indiano Danish Siddiqui, que trabalhava para a agência de notícias Reuters, foi morto durante a cobertura dos combates entre os talibãs e as forças afegãs no distrito de Spin Boldak.

Em maio passado, um famoso apresentador de televisão afegão, Nemat Rawan, foi assassinado, depois de ameaças dos talibãs a veículos que fazem, segundo eles, uma “cobertura tendenciosa” da atualidade. Os talibãs negaram qualquer envolvimento no homicídio.

Depois da retirada dos soldados da missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) do país, o governo britânico lançou um amplo programa de realocação de tradutores e funcionários afegãos que trabalhavam com seu Exército.

Em uma nota divulgada na última terça (3), o ministro da Defesa, Ben Wallace, e a ministra do Interior, Priti Patel, reafirmaram seu compromisso de acolher “o mais rápido possível” 500 ex-trabalhadores locais e suas famílias.

Cerca de 2.500 pessoas serão atendidas e se juntarão a outras 3.000 já beneficiadas por este programa de realocação.