26/05/2022 - 10:50
O governo britânico anunciou, nesta quinta-feira (26), um pacote de 15 bilhões de libras (19 bilhões de dólares) para ajudar as famílias mais desfavorecidas a enfrentar a crise do custo da vida, parcialmente financiado por um imposto excepcional aos gigantes energéticos.
Sob efeito da reativação econômica após os confinamentos e a disparada nos preços da energia pela guerra na Ucrânia, o Reino Unido registra uma inflação recorde nos últimos 40 anos e de 9% em abril e que deve superar em muito os 10% no final do ano.
Ao mesmo tempo, a disparada nos preços do petróleo e gás impulsionou consideravelmente os lucros de gigantes como BP e Shell.
Neste contexto, a oposição trabalhista pedia há semanas ao Executivo conservador de Boris Johnson que aplicasse um imposto excepcional ao setor para ajudar as famílias a enfrentar as faturas energéticas.
Depois de subir quase 55% em abril, o teto legal para as tarifas deve voltar a subir em outubro e a autoridade britânica de eletricidade, a Ofgem, alertou na terça-feira que seria em torno de 42%, ou seja, 800 libras (1.000 dólares, 930 euros) a mais por ano por família.
No entanto, Johnson e seus ministros se opuseram à aplicação desse imposto excepcional, argumentando, como os próprios gigantes da energia, que isso poderia prejudicar o investimento em energia renovável e a transição para a neutralidade de carbono.
Eles argumentaram que o governo já destinou 22 bilhões de libras para ajudar os mais desfavorecidos a lidar com a inflação, uma quantia que sindicatos e organizações de combate à pobreza denunciam como insuficientes.
– Giro de 180º –
No entanto, nesta quinta-feira, um dia depois da publicação de um relatório que responsabilizou as autoridades britânicas pelo “partygate” – a celebração de inúmeras festas ilegais em dependências do governo durante os confinamentos – Johnson, que se recusa a renunciar, deu um giro de 180 graus.
Num discurso perante o Parlamento, o ministro das Finanças, Rishi Sunak, assegurou que este pacote de ajuda vai permitir aos britânicos mais desfavorecidos “sentir que o peso da inflação está diminuindo”.
“Quase uma em cada oito famílias entre as mais vulneráveis do Reino Unido receberá ao menos 1.200 libras este ano, incluindo uma ajuda única contra o custo de vida de 650 libras, um aumento dos subsídios de 400 libras e a duplicação do desconto nas contas de luz” em outubro, afirmou seu ministério.
Todas as famílias, independentemente de sua renda, receberão um auxílio de 400 libras.
Essas medidas serão financiadas parcialmente com um “imposto temporário de 25% sobre os lucros energéticos das empresas de petróleo e gás, que reflete seus lucros extraordinários”, explicou o Tesouro, estimando que arrecadará cerca de 5 bilhões de libras no próximo ano.
Em troca, as empresas de energia se beneficiarão de uma redução fiscal quase dobrada para seus investimentos. “Quanto mais uma empresa investe, menos impostos ela paga”, disse Sunak a deputados.
– Mero “remendo” –
Stephen Barclay, um alto funcionário do governo, negou nesta quinta-feira, em declarações ao canal Sky News, que o momento desses anúncios tenha a intenção de silenciar o escândalo do “partygate” e assegurou que o Tesouro os fez coincidir com os anúncios da Ofgem.
A medida foi bem recebida por ONGs como a Oxfam, cujo chefe Sam Nadel considerou “justo que as empresas de combustíveis fósseis que obtêm lucros excessivos sejam solicitadas a contribuir mais em um momento em que tantas famílias no Reino Unido ficaram sem opções”.
De acordo com uma pesquisa do YouGov com 1.755 adultos, um em cada cinco britânicos (22%) diz que luta ou não consegue sobreviver, um aumento de 12 pontos percentuais em relação a maio de 2021.
No entanto, Ami McCarthy, do Greenpeace, chamou o imposto excepcional de mero “remendo”, criticando que as empresas de energia são tributadas em apenas 25% de seus lucros em vez de 70%, o que “poderia ter sido usado para fornecer a curto prazo às famílias e também melhorar suas casas para garantir que usem e desperdicem menos energia e mantenham as contas baixas nos próximos anos”.