17/11/2010 - 21:00
Eles não inventaram a roda, mas ajudam o carro a andar. E não dão só um empurrãozinho. Assim são os novos consultores do mercado de moda. Eles se enfronham nos bastidores do negócio e escolhem da modelagem da saia à modelo que irá vesti-la na campanha publicitária, bisbilhotam (com autorização, claro) o livro-caixa e dão conselhos de onde instalar os pontos de venda.
Tudo bem pelo bem do negócio. A tendência veio do mercado europeu, que identificou a necessidade de se criar uma nova comunicação e um novo conceito para marcas já consolidadas. Grifes tradicionais começaram a convocar jovens estilistas para imprimir frescor aos seus empoeirados ateliês, como fez a Gucci, em 1990, ao contratar o americano Tom Ford.
“O importante é aproveitar o histórico de uma marca estabelecida e torná-la novamente desejável aos olhos do seu público”, ensina o CEO criativo do portal inglês de tendências Stylus, Ryan Ross. No Brasil, Animale, Colcci e Fórum, entre outras grifes, já se valeram dos préstimos desses profissionais, que não se dedicam só ao mundo fashion – passeiam até pela indústria farmacêutica.
Senhor da criação: Luis Fiod, sócio da Mint, uma “reposicionadora” de marcas de moda, como a Animale, que
ganhou um ar mais sofisticado e glamouroso com o trabalho da agência. Acima, o “antes” (à esquerda) e o “depois” da Mint
Luis Fiod, um paulistano que cursou administração na PUC, comuni–cação na Faap e fez pós-graduação em marketing na ESPM, é representante dessa nova classe profissional. Em 2000, ele e mais dois sócios tiveram a ideia de fundar a Mint, uma agência de comunicação focada no mercado de moda.
A grife carioca Animale, que fatura mais de R$ 100 milhões por ano, foi uma de suas primeiras clientes. “Trabalhamos corpo a corpo com a estilista da marca, sugerindo até cores e padronagens de tecidos. Com o nosso trabalho de reposicionamento, ajudamos a Animale a entrar na programação da São Paulo Fashion Week”, diz Fiod.
Com 27 anos no mercado, a Alphorria, sua mais recente cliente, desembolsou 5% de seu faturamento para contratar a empresa para reciclar a comunicação da coleção, que chegou às lojas em agosto. “O resultado foi imediato. Já sentimos um crescimento de 7% nas vendas”, diz Wanessa Cabidelli, diretora de marketing da grife mineira.
Proprietário da agência Consultive, também em São Paulo, Edson Daguano já modernizou grifes como Colcci e Reinaldo Lourenço e explica que sua empresa realiza programas de lançamento, recomposição e reposicionamento de marcas. “Levamos até um ano para elaborar o diagnóstico de uma empresa.
Reciclagem fashion: as sócias Letícia Abrahan Malta e Andréa Bisker,
da Mindset, dão cara nova as grifes que querem atualizar sua imagem
Cerca de 90% delas têm solução e conseguem passar da UTI para a enfermaria. Para isso, montamos planos de restauração e crescimento com novos segmentos”, diz Daguano. Ele garante que, após a repaginação, as empresas podem
crescer até 15% ao ano.
A publicitária e cientista social Andréa Bisker comanda o escritório brasileiro de um dos maiores institutos de pesquisa de tendência e comportamento de moda do mundo, o inglês WGSN. O trânsito livre no seleto mundo fashion deu a ela credenciais de sobra para montar, em janeiro, a sua própria empresa de consultoria e reposicionamento de imagem, a MindSet.
“Mantemos uma rede de 60 consumidoras e, a partir dessa amostragem, deciframos o modelo mental de compra das pessoas e sugerimos um mote para a coleção”, diz Andréa, que tem entre seus clientes a grife UMA. O que anda na cabeça e na boca desses novos consultores são, basicamente, duas palavras: diferencial e identidade.
“A única maneira de atrair o consumidor brasileiro, que é louco por novidade, é promover o diferencial do produto e da marca”, acredita o consultor Jocimar Silva, da PR Com. Sua empresa já remodelou as marcas Fórum e Rosa Chá, depois que deixaram as mãos de seus fundadores e foram compradas por grupos de investimento.