Instalada no País desde a década de 1970, a norueguesa Yara, maior fabricante global de nutrientes agrícolas, com um faturamento anual de US$ 15 bilhões, é uma testemunha ocular e sobrevivente dos altos e baixos da economia brasileira. Do “milagre econômico” do regime militar, à falência do modelo que resultou na hiperinflação e à chamada “década perdida” dos anos 1980, passando pelo desastre do governo Collor, pela recuperação da economia trazida pelo Plano Real e pela bonança dos anos recentes, até chegar à crise atual. “Já vimos quase tudo por aqui”, afirma Lair Hanzen, presidente da operação brasileira e vice-presidente da Yara Internacional. “As crises chegam e podem assustar, mas o Brasil é maior do que elas.”

Não se trata de mero jogo de palavras e isso significa que a relação com o País foi feita para durar.  A despeito da recessão, Hanzen, catarinense de Itapiranga, município localizado na fronteira com a Argentina, formado em administração de empresas, anunciou, na primeira quinzena de abril, um mega-investimento de R$ 1 bilhão na ampliação e modernização do polo industrial da Yara, em Rio Grande, no litoral gaúcho. Esse dinheiro faz parte de um pacote que totaliza R$ 5 bilhões e inclui o projeto Serra do Salitre, que prevê a produção de 1 milhão de toneladas de concentrado fosfático por ano e fertilizantes, no município de Serra do Salitre, na região do Cerrado de Minas Gerais, e outro similar em Santa Quitéria, no Ceará.

O executivo tem uma explicação na ponta da língua, para a decisão de continuar apostando no País, na contramão do senso comum: o potencial do agronegócio. “O Brasil logo substituirá os Estados Unidos como o celeiro do mundo”, afirma. “E não existe agricultura sem fertilizantes.” Segundo ele, nenhum outro player no mercado internacional reúne tantos atributos quanto o País: a maior reserva de terras agricultáveis( 152, 2 milhões de hectares, dos quais apenas 61 milhões já são cultivados) e de água doce, o clima tropical e a possibilidade da colheita de duas safras por ano. “Não por acaso, somos os maiores ou estamos entre os maiores na produção de café, soja, laranja e carnes”, diz. 

Hanzen acredita que o apoio e os recursos governamentais para financiar os próximos Plano de Safra, que cresceram  exponencialmente nos últimos 15 anos, não serão sacrificados por conta do ajuste na economia. “A bancada parlamentar da agricultura é forte, pluripartidária e saberá defender o setor”, diz. “Além disso, nenhum  governo deixará de incentivar o agronegócio, o grande responsável pelos saldos positivos na balança comercial brasileira.”  

Quase cinquentenária no Brasil, a presença da Yara intensificou-se sobretudo nos últimos 10 anos, mediante a aquisição de concorrentes. Um primeiro passo foi a compra da Adubos Trevo, do Rio Grande do Sul, na qual Henze trabalhava, que estava em concordata, em 2006. Em 2013, foi a vez da divisão de Fertilizantes do grupo Bunge, por US$ 750 milhões, operação que colocou a empresa norueguesa na liderança do mercado nacional de nutrientes agrícolas.  

No ano seguinte, a Yara adquiriu, ainda, a brasileira Galvani, por US$ 318 milhões.   Com essas compras, a subsidiária brasileira  assumiu a liderança do mercado nacional de nutrientes agrícolas, ao mesmo tempo em que se consolidou como a maior base do grupo norueguês, responsável por um terço de sua produção, no mundo.