25/10/2019 - 11:30
O Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, encontro convocado pelo papa Francisco e que ocorre na Cidade do Vaticano neste mês de outubro, está na reta final. No fim da tarde deste sábado, 26, o relatório formulado pelos padres sinodais será encaminhado para a apreciação do papa.
Cabe ao sumo pontífice a decisão de tornar o documento final público ou não – a expectativa é que Francisco mantenha a tradição e libere o texto ainda no início da noite de sábado. Antes, contudo, há um longo processo de aprovação de cada um dos itens do relatório, por meio de votação dos participantes do encontro.
“O documento final é apresentado hoje (sexta-feira, 25) e entregue aos padres sinodais. Eles têm a manhã de sábado para lerem e estudarem tudo. À tarde, começa a votação”, explica a antropóloga Moema Miranda, professora do Instituto Teológico Franciscano e assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). “Depois, o texto é entregue para o papa, que decide o destino.”
Participam do Sínodo sobre a Amazônia 185 bispos com direito a voto, os chamados padres sinodais, dos quais 58 são do Brasil. Mas cientistas, como a antropóloga Moema e o climatologista Carlos Nobre, representantes de diversas organizações, membros de outros credos religiosos e de grupos indígenas também foram convidados e ouvidos na assembleia.
Conforme balanço realizado pelo teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), poucos dos convocados faltaram – um notável caso foi o do ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas Ban Kin Moon, que não pôde comparecer.
“A assembleia sinodal foi porta-voz explícita e coerente das centenas de povos da Amazônia assumindo com vigor e profecia suas vidas, seu território e sobretudo a fé viva. A alegria visível do papa Francisco confirmou na fé aos 45.263.387 habitantes em toda Região Pan-Amazônica, vivendo em nove países do bioma e em seus 8.377.731 quilômetros quadrados, com cerca de 2,8 milhões de aborígenes reunidos em 390 povos belos e distintos e falando 240 idiomas oriundos da rica matriz de 49 ramos linguísticos, tendo 103 dioceses e prelazias à serviço da pregação e da compaixão no meio dos povos”, pontuou o acadêmico. “Houve reação de muitos integristas e gente de coração de pedra.”
Segundo Altemeyer, “a primeira versão do documento final recebeu as emendas dias 21 e 22 de outubro. “Nesta sexta, sai a versão que vai para votação no sábado, dia 26, quando será entregue nas mãos do papa Francisco para ser a farinha, matéria-prima do pão que se come na forma de uma exortação apostólica”, compara ele – tradicionalmente, algum tempo após o sínodo, o papa publica um documento oficial com orientações gerais sobre o tema, chamado de exortação apostólica.
Procedimentos
Na tarde desta sexta-feira será realizada a 15ª congregação geral, com a presença do papa. Ali serão eleitos 15 membros para o Conselho Especial para a Amazônia, organismo criado com a função de colocar as propostas do sínodo em prática a partir de então. Em seguida, o relatório final será lido a todos os participantes. O relator-geral do Sínodo sobre a Amazônia, nomeado pelo papa Francisco, é o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo.
Os padres sinodais têm até a manhã de sábado para ler e estudar o teor do documento, como de praxe, dividido em parágrafos numerados. A 16ª congregação geral, marcada para a tarde de sábado, é a que define a versão final. Ali, todos os religiosos com direito a voto marcam com “placet” ou “non placet” – respectivamente, aprovando ou não aprovando – cada um dos números do texto.
É preciso aprovação de dois terços da assembleia para que o parágrafo seja mantido. Dos 185 religiosos com direito a voto, 113 são bispos da região Pan-Amazônica. O papa não vota, já que a ideia é que o documento seja uma mensagem dos bispos, endereçada ao sumo pontífice.
Quando a votação for concluída, o texto final será lido internamente dentro da assembleia. Há discursos finais de alguns presentes e a entoação do hino do Te Deum, de ação de graças. Francisco deve receber o documento final ainda no início da noite de sábado – e ele decide se mantém a tradição de divulgar o material ou se mantém em sigilo.
O encerramento oficial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia ocorre na missa dominical na Basílica de São Pedro. Conforme a praxe, dentro de alguns meses espera-se que Francisco publique uma exortação apostólica com considerações gerais a partir do relatório produzido pelos bispos.