Os cortes na taxa de juros, é consenso no mercado, estão apenas começando. Devem, aliás, ganhar força a partir deste mês, levando a Selic para menos de 15% até o fim do ano. Com este cenário, pela primeira vez em anos, os fundos de renda fixa não são exatamente uma promessa de ganhos fáceis. Mesmo os títulos pré-fixados, que na teoria se beneficiam da redução da Selic, não devem apresentar, na prática, rendimentos tão atraentes. Afinal, boa parte dessa trajetória de corte dos juros já está embutida no preço dos papéis negociados no mercado futuro. Mesmo assim, o investidor conservador pode obter ganhos generosos na renda fixa se souber escolher com cuidado as aplicações. O fator decisivo a se observar em 2006 são as taxas de administração.

Em gestoras independentes e bancos de investimento, normalmente voltados para modalidades de aplicação mais sofisticadas, já é possível encontrar os tradicionais fundos DI com taxas anuais de administração de menos de 1% – enquanto no varejo elas variam de 2% a 4%. É o caso do GAP DI, lançado em 2005 pela GAP Asset Management. Ele exige uma aplicação inicial de R$ 20 mil e cobra uma taxa de administração de 0,5%. ?Esse tipo de fundo não será, obviamente, nosso carro-chefe, mas lançamos o produto porque os clientes sempre precisam ter parte da carteira em um investimento de curto prazo?, explica Emanuel Pereira da Silva, sócio da GAP Asset Management. Prover liqüidez imediata foi também a principal preocupação da Mellon Global Investments ao colocar no mercado o Mellon Cash FI Curto, fundo que não exige um valor mínimo de aplicação e tem taxa de administração de 0,5%.

Com a exceção dos investimentos que carregam títulos privados (com risco de crédito) ou papéis atrelados à inflação, os fundos de renda fixa aplicam em títulos do governo ? que oferecem o mesmo retorno para todos. Por isso, a diferença de rentabilidade está, justamente, nas taxas cobradas. Suponha, por exemplo, que um investidor aplicou R$ 20 mil em um fundo que rendeu 18% ao longo de 2005. Sua valorização bruta, ao fim do ano, é de R$ 3.600,00. Com taxa de administração de 0,5%, o rendimento líquido seria de R$ 3.582,00. Se o ?pedágio? fosse de 1%, o rendimento seria de R$ 3.564,00. E, em fundo de varejo que cobrasse taxa de administração de 2,5%, a valorização cairia para R$ 3.510,00. ?A taxa de administração cobrada pelas instituições fará cada vez mais diferença na rentabilidade dos fundos à medida em que os juros caiam?, resume Mauro Bergstein, responsável pela área de gestão de recursos de terceiros do Credit Suisse First Boston.

Mesmo com a vantagem de uma rentabilidade mais gorda, muitos investidores ainda sentem receio de aplicar seus recursos em bancos menos conhecidos ou gestoras independentes. ?Mas praticamente não existe risco?, opina Pedro Paulo Bartolomei da Silva, economista-chefe da Global Invest. ?As instituições que estão por trás dessas gestoras, fazendo a custódia dos títulos e cuidando da administração das carteiras, são todas de grande porte.?

Dentro da categoria renda fixa, há outra alternativa de rentabilidade atraente, sem taxa de administração. É a compra de títulos públicos federais pela internet, o chamado Tesouro Direto. Com apenas R$ 200, o investidor já está habilitado a comprar esses papéis pelo mesmo preço que um banco de primeira linha. Para isso, basta que ele se cadastre no programa Tesouro Direto por meio de uma corretora de valores. Os custos da aplicação, fora o Imposto de Renda, resumem-se à taxa de custódia de 0,4% sobre o valor investido.