Eis o cenário: oitos meses consecutivos de aumentos da Selic, mais uma elevação possivelmente a caminho e incertezas nas frentes nacional e internacional que comprometem o retorno das aplicações em Bolsa. Resultado: raras vezes foi tão conveniente investir em renda fixa, com a certeza de aliar bom rendimento e baixo risco. Em abril, os investimentos mais conservadores do mercado foram também os mais rentáveis. Ou melhor, os únicos com resultados positivos no mês. O destaque foram as aplicações que usam o CDI como referência. Por exemplo, os fundos DI e os CDBs, que tiveram rendimento de 1,4%. A expectativa dos especialistas é de que esta categoria feche o ano com retorno médio de 18,9% – um belo resultado para investimentos de baixíssimo risco. ?Esta longa série de aumentos na taxa básica de juros adiou a esperada migração de recursos para outros segmentos, como renda variável e multimercados?, observa Eduardo Castro, superintendente de Renda Fixa da ABN Amro Asset Management. Dito de uma maneira mais crua, é difícil convencer o investidor a correr mais riscos se ele ainda pode fazer um bom dinheiro na segurança dos títulos públicos. O juro real da economia (descontada a inflação) aproxima-se da casa dos 13% ao ano. E não há perspectiva de mudanças bruscas. Dado o comportamento da inflação, o mercado começa a trabalhar com cortes na Selic somente a partir de outubro. ?Pessoalmente, imagino juros reais na casa dos 10% por pelo menos mais dois anos?, afirma Castro.

Que não se leve a sério, porém, a máxima do ?põe o dinheiro em um fundo DI e esquece que ele está lá?. É importante reavaliar temporariamente o objetivo e o horizonte de tempo por trás de qualquer investimento. ?Uma vez por mês olhe onde está o seu dinheiro e observe como ele está rendendo?, sugere Castro. ?Com a conta investimento, pode valer a pena mudar de aplicação ou mesmo de gestor.? É bom levar em consideração que o mercado prevê um período de cinco a seis meses de estabilidade na taxa de juros a partir do momento em que o BC encerrar a atual seqüência de aumentos. E fundos de renda fixa costumam se dar mal nestes momentos de calmaria. ?Você vai ganhar dinheiro fácil nos fundos DI enquanto os juros estiverem subindo e pode mudar para os fundos prefixados quando se convencer de que as taxas vão começar a cair. O ruim para a renda fixa é quando a taxa se mantém estável?, ensina Paulo de Sá Pereira, estrategista-chefe da SulAmérica Investimentos.

Também não é interessante pensar na renda fixa como um segmento feijão com arroz, sem muitas variações. Uma das categorias que mais crescem no mercado é a dos fundos com risco de crédito. São aplicações de renda fixa que compram debêntures e outros papéis de empresas privadas. Eles normalmente pagam um bom prêmio em cima do retorno dos títulos públicos. Mas ouve-se muita gente dizer que o risco, no caso de papéis privados, é maior. Trata-se de uma meia verdade, com uma dose de preconceito. Tudo depende da composição da carteira de cada fundo ? e é fundamental saber o que há dentro dela. Títulos de companhias de primeira linha, que vêm ao mercado pensando em melhorar o perfil da sua dívida, são perfeitamente aceitáveis mesmo para o investidor conservador. Ao passo que papéis de firmas menos sólidas, em busca de capital de giro, tendem a ser uma alternativa para poucos. A advertência que cabe aqui é que avaliar risco de crédito é complicado. Portanto, o retorno e o risco destes fundos dependem inteiramente da capacidade de análise de cada gestor. Mas, como regra geral, eles surgem como uma boa opção de diversificação ? e, na média, estão entre os que apresentam melhores retornos neste semestre.

Outra alternativa são os fundos renda fixa multiíndice que incorporam em sua carteira títulos indexados à inflação. ?Vale a pena apostar neles quando há pressão inflacionária, como no ano passado?, ensina Pereira. Em geral, o índice de inflação escolhido é o IGPM. Isto, porque ele pode subir sem provocar reação do BC, que se baliza pelo IPCA. Ao se procurar opções mais apimentadas no cardápio da renda fixa, no entanto, é importante ter claro que a promessa de maior rentabilidade vem acompanhada de um aumento no risco. Na chamada renda fixa com alavancagem (onde estão os fundos mais agressivos da categoria), o investidor pode perder todo o dinheiro aplicado e ainda ser convocado a por mais recursos no fundo para cobrir os prejuízos. Por isso, é essencial buscar algum tipo de consultoria financeira antes de se decidir por algo mais sofisticado.

CDB
A vez dos papéis emitidos pelos bancos

Ao lado dos fundos de renda fixa, os CDBs aparecem no topo dos rankings de rentabilidade destes primeiros meses de 2005. Por isso, e por estarem na moda desde o ano passado, os Certificados de Depósito Bancário têm atraído um volume recorde de investidores. Só em 2004, a captação líquida da categoria superou os R$ 40 bilhões ? o que conferiu a estes papéis um indevido caráter de novidade. Velhos conhecidos do mercado, os CDBs nada mais são do que títulos de renda fixa emitidos pelos bancos para captar dinheiro na praça. Tradicionalmente, esta é uma aplicação bastante conservadora, para quem procura mais segurança do que rentabilidade. Mas, com os juros na estratosfera e a Bolsa numa gangorra de perdas e ganhos, os CDBs para grandes valores terminaram o primeiro trimestre como a aplicação mais rentável do País: 4,29% de rendimento bruto. Ao mesmo tempo, precisando captar mais para fazer frente ao aumento da demanda por crédito, os bancos lançaram-se em uma campanha de popularização dos certificados.

Até então, este era um produto financeiro disponível apenas para grandes investidores. Pesava contra ele, por exemplo, a necessidade de recompra a cada 12 meses ? agora eliminada, com a disseminação de papéis válidos por 5 anos, com renovação automática. O maior obstáculo, porém, eram os elevados valores exigidos para aplicação. ?O investidor médio até hoje acha que só se consegue bom retorno com CDBs se o investimento for muito alto?, nota Edinardo Figueiredo Júnior, superintendente de produtos de investimento do Banco Real. Hoje, a aplicação mínima gira em torno dos mil reais. Mas a taxa de retorno varia de acordo com a quantia aplicada. Há margem para negociação, e já é possível fazer bons negócios com quantias relativamente modestas. Mas, para aplicações inferiores a R$ 20 mil, o melhor, quase sempre, é optar por um fundo.