O Brasil completou seus 200 anos de independência na última quarta-feira (7). No entanto, a palavra independência ainda não faz parte da vida de muitos brasileiros, principalmente quando falamos sobre dinheiro. De acordo com os dados do Banco Mundial, apenas 1% da população do Brasil possui independência financeira. Ou seja, a capacidade de pagar as contas sem precisar trabalhar, apenas com a rentabilidade do seu patrimônio. Esse número tão baixo deve-se à necessidade de acumular um patrimônio financeiro significativo. Segundo analistas ouvidos por DINHEIRO, para ter uma renda passiva de R$ 5 mil, o dobro da renda média do brasileiro, é preciso ter pelo menos R$ 1 milhão investido.

Não é um objetivo fácil. “Para chegar lá, o primeiro passo é criar um espaço no orçamento atual para investir em qualquer modalidade, seja renda fixa ou variável”, disse o sócio-diretor da Méthode consultoria, Adriano Gomes. Ele é mais conservador que a média dos analistas. Gomes afirmou que é preciso ter cerca de R$ 1,7 milhão para obter esse resultado. “Isso garante a rentabilidade mesmo em momentos de baixa do mercado”, disse. Outra coisa é usar os juros só a seu favor. O sócio e head de renda variável da Levante Ideias de Investimentos, Enrico Cozzolino, afirmou que “o investidor deve evitar fazer dívidas, como as de cartões de crédito, isso é terrível para quem quiser montar um patrimônio”.

As duas estratégias, a renda fixa e as ações, ou renda variável, permitem táticas variadas. O momento está favorável para a renda fixa. Com a taxa Selic a 13,75% ao ano, os juros estão no maior patamar desde dezembro de 2016. No entanto, táticas para a renda fixa, especialmente as que pretendem acumular capital no longo prazo, precisam de boas defesas contra a inflação. Esse é um problema persistente no Brasil. Desde julho de 1994, início do Plano Real, a inflação medida pelo IPCA acumula assustadores 648%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, quem tivesse investido R$ 100 mil há 28 anos e possuísse R$ 748 mil atualmente teria tido um ganho zero em termos reais. O remédio, segundo o economista Denis Medina, é “o investidor buscar aplicações que rendam pelo menos 0,5% ao mês acima da inflação”.

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“A saída é evitar as dívidas e preferir investimentos isentos de imposto, como as debêntures de infraestrutura” Enrico Cozzolino sócio da Levante Ideias de Investimentos.

Quais? Para Felipe Vella, analista da Ativa Investimentos, “títulos de renda fixa atrelados ao IPCA mais uma rentabilidade de 6% ao ano é uma ótima escolha”. Cozzolino, da Levante, afirmou que as debêntures, especialmente as de infraestrutura, são uma boa alternativa. “Seus rendimentos são isentos de imposto de renda e podem proporcionar bons resultados para o investidor que começar agora”, afirmou. Quem preferir aproveitar a Selic elevada pode optar por títulos prefixados do Tesouro Direto.

RENDA VARIÁVEL As companhias com ações negociadas em bolsa podem ser uma alternativa vantajosa para quem procura lucros no longo prazo. Quem está em busca de uma remuneração estável deve optar por empresas sólidas e maduras, que não precisam realizar grandes investimentos e cujas atividades garantem fluxo de caixa previsível. Sócio da empresa de educação financeira Ações Garantem Futuro, Jean Melo afirmou que “normalmente essas companhias pagam bons dividendos”.

Além do perfil da empresa, seu setor de atuação é determinante na remuneração para o investidor. A Toro Investimentos detectou as melhores pagadoras de dividendos no primeiro semestre deste ano. A líder foi a Petrobras. Os acionistas obtiveram uma rentabilidade de 23,4% em seis meses. Em seguida vieram as empresas de eletricidade. Os retornos foram polpudos: CPFL Energia rendeu 12,1%, Energias do Brasil rendeu 10,5% e Copel rendeu 9,9%.

No entanto, vale ressaltar que ganhos passados não garantem ganhos futuros. A liderança da Petrobras deveu-se à alta dos preços do petróleo, que começou a desacelerar. Por isso, os especialistas disseram acreditar que a estatal perca essa liderança em 2023. O especialista da Valor Investimentos Gabriel Meira disse que há expectativa de que o petróleo possa cair para US$ 70 no próximo ano. “Com isso, o pagamento de dividendos da Petrobras pode cair para 12% ao ano”, afirmou. Sendo assim, a Petrobras não é vista como um ativo que garante a preservação do capital e a rentabilidade no longo prazo. Por isso, o consenso dos analistas é o setor elétrico, pois as receitas e os lucros são praticamente garantidos. “Todos pagamos a conta de luz, mesmo quando viajamos ou ficamos desempregados”, disse Melo.