Especial Onde investir em 2024

Brasil soma 60 milhões de investidores em todas as classes de ativos, segundo estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Apenas na B3, até setembro de 2023, 16,6 milhões de investidores colocaram seu dinheiro em renda fixa. Três vezes mais do que os 4,6 milhões que investiram em renda variável. Os muitos conservadores da renda fixa não se arrependeram das suas apostas em 2023.

Foi como apostar na compra de um ingresso para ver um jogo de vôlei na Olimpíada: é tradição, dificilmente será uma partida ruim e a chance de arrependimento é mínima. Com as incertezas que pairavam sob o novo governo, os problemas com as varejistas (caso Americanas, por exemplo) e a Selic em dois dígitos durante todo o ano (13,75% em janeiro e 11,75% em dezembro), a rentabilidade de algumas aplicações beirou os 15%. Segundo o indicador IRF-M (Índice de Renda Fixa do Mercado), que reflete o retorno da carteira de títulos públicos prefixados marcados a mercado (LTN e NTN-F) e serve como parâmetro para medir o desempenho de aplicações prefixadas, a rentabilidade acumulada entre janeiro e novembro foi de 14,81%, o maior retorno do ano no mercado de renda fixa. Mais do que o dobro do percentual observado no mesmo período de 2022 (7,24%).

Outros indicadores registraram bons retornos no período, segundo especialistas:
• O IMA-B, de títulos indexados à inflação (NTN-B), registrou 12,95%;
• O IMA-S, de títulos indexados à Selic (LFT), 12,21%;
• Depósitos Interbancários (DI) renderam 12,04% de janeiro a novembro;
• Certificados de Depósitos Bancários (CDB), 11,08%;
• e a poupança, 7,41%.

De maneira geral, o cenário da renda fixa foi positivo. Mas vai continuar assim para este ano? Os especialistas respondem.

Para Alex Nery, professor da FIA Business School, 2024 deve apresentar taxas de remuneração dos títulos de renda fixa menores do que as observadas em 2023, tendo em vista a redução gradual da Selic e a melhora do ambiente macroeconômico, com menor risco fiscal, inflação sob controle e retomada dos investimentos.

“Isso deve provocar uma migração de recursos para ativos com mais risco. Contudo, as taxas de juros ainda permanecerão elevadas, com apostas em torno de 9%, segundo o último relatório Focus, favorecendo os retornos da renda fixa, de maneira que não deve ocorrer um enfraquecimento muito intenso desse mercado.”

Segundo Nery, uma tendência de curto prazo no mercado de renda fixa é o aumento das emissões dos títulos de dívida corporativa. Ele alerta, porém, que alguns eventos atuais podem prejudicar esse crescimento, na medida em que aumentem a aversão dos agentes ao risco.

“Os efeitos nos mercados globais decorrentes da continuidade das guerras entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio estão entre esses fatores, na medida em que pressionam os preços de bens essenciais como energia e combustíveis.”

Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, diz que a renda fixa deve perder o seu protagonismo com a trajetória de queda da Selic, mas os ativos pré-fixados e híbridos ao IPCA devem ganhar ainda mais força, pois o momento é ideal para manter o retorno em taxas ainda elevadas.

“É sempre importante o investidor adotar uma postura condizente com o seu perfil de risco. Caso o investidor não aceite alta volatilidade e risco de perda de capital, o ideal é seguir uma postura mais conservadora.”

Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, afirma que a renda fixa deve continuar atraente neste ano, com alguns cuidados por parte dos investidores. “Fica menos óbvio colocar em Certificado de Depósito Interbancário [CDI] e esquecer. Quando o cenário econômico melhora, é preciso movimentar [a aplicação] para obter taxas melhores.”

E isso envolve alguns fatores:
• o perfil de risco do investidor,
• metas financeiras,
• situação patrimonial de momento,
• horizonte temporal dos investimentos.

Alex Nery, da FIA Business School, corrobora e sugere análise cuidadosa. “O comportamento mais ou menos conservador vai ser diferente para cada investidor, dependendo do seu contexto.”