12/01/2006 - 8:00
Os fundos multimercado ? aqueles que investem em ativos diversos, de títulos públicos a ações ? puseram a competência e a habilidade dos gestores a duras provas em 2005. ?Foi um ano terrível para o segmento?, diz Fernando Meibak, CEO da asset management do banco HSBC. ?Alguns sequer conseguiram superar o índice CDI no ano. Os eventos imprevistos na economia tornaram difícil a vida dos administradores?, avalia Meibak. A conseqüência das dificuldades foi a diminuição do ritmo de captação do segmento, já que muitos investidores decidiram migrar para aplicações mais conservadoras, como a renda fixa. As aplicações multimercado também tiveram perdas devido à reclassificação da indústria de fundos determinada por uma instrução da Comissão de Valores Mobiliários, que passou a valer no ano passado ? por meio dela, alguns fundos de multimercado passaram a figurar na categoria de renda fixa. Depois de tanta turbulência, para 2006 a recomendação em relação a esses fundos é de cautela. ?Não é fácil acertar a direção que seguirão os diferentes mercados, por isso é sempre bom lembrar que esses são fundos para quem tem maior apetite por risco?, aconselha Meibak.
O desempenho do início do ano passado serve de retrato da dificuldade dos gestores para acertar os rumos dos mercados em 2006. ?Quando os administradores acreditavam que os juros começariam a cair, a taxa subiu e surpreendeu a todos?, lembra Meibak. ?Depois, veio a crise política e ficou ainda mais complicado saber como o mercado reagiria aos escândalos ?, comenta. O resultado: a participação do segmento no patrimônio líquido da indústria de fundos passou de 25,9% em janeiro de 2005 para 17,9% em junho do mesmo ano. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), os multimercado registraram redução líquida de R$ 69,4 bilhões em 2005, o equivalente à perda de 39,6% em relação a 2004. A partir do segundo semestre, no entanto, os gestores conseguiram conter a ?vazão? e os multimercado encerraram 2005 com participação de 17,6% no total da indústria. A melhor performance ficou com os fundos que apostaram na alta da Bolsa, que terminou 2005 em alta de 27%.
Em 2006, o segmento pode ser favorecido pela política de redução de juros sinalizada pelo Banco Central. Uma prova disso já vem sendo dada desde setembro passado, quando houve o primeiro corte da Selic. Na ocasião, houve uma migração das aplicações em fundos referenciados DI ? formados por títulos atrelados aos juros ? para os de ações e multimercados, que carregam títulos públicos e privados. Com a mudança da política monetária, apenas em setembro os multimercados obtiveram captação de R$ 1,8 bilhão no mês. ?Num cenário de queda dos juros, os ativos de risco tendem a ganhar aportes?, diz Marcello Siniscalchi, superintendente de derivativos do Itaú. ?A previsão é de que a Selic termine 2006 entre 15% e 16%, o que pode favorecer fundos de ações e multimercado em geral?, avalia.