10/01/2007 - 8:00

Há movimentos em sentidos opostos na categoria de fundos multimercados. Um deles é a popularização. Os principais bancos de varejo do País já lançaram, ou estão lançando, fundos dessa modalidade com limite mínimo de aplicação de até R$ 50 mil e controles de risco que reduzem ao mínimo a possibilidade de perda do patrimônio investido. São opções interessantes para o pequeno investidor que deseja dar seus primeiros passos fora do mundo superprotegido da renda fixa, em busca de retornos um pouco mais polpudos. Qualquer gerente de banco hoje deve estar preparado para orientar a escolha de um desses fundos. No entanto, as taxas de administração da maioria dessas aplicações são altas o bastante para praticamente anular as perspectivas de ganho. Por isso, mais do que nunca, é muito importante comparar as tarifas vigentes no mercado e verificar se há também taxa de performance na aplicação escolhida. ?Se antes essas taxas não faziam cócegas, hoje machucam muito?, observa Cristiano Pardi, sócio da Arsenal Investimentos. Com tarifas de 4%, 4,5%, como é comum nos multimercados populares, muitos fundos rendem menos até mesmo do que as cadernetas de poupança.
O outro movimento importante dessa indústria é uma sofisticação crescente, no que diz respeito a estratégias de gestão. Ao lado dos tradicionais multimercados ?macro?, que apóiam suas apostas na tentativa de antecipar cenários macroeconômicos, crescem no mercado modalidades de fundo nas quais o feeling do gestor tem pouco ou nenhum peso. Há novos gestores, novos segmentos, como fundos quantitativos (que usam teoria quântica) ou de arbitragem (que ganham dinheiro apostando nas diferenças entre preços de ativos em diferentes mercados) e fundos de prazo mais longo (com 30 ou 60 dias de carência para resgate). ?O mercado está se sofisticando muito, numa velocidade superior à nossa expectativa?, diz Pardi.
O cenário de relativa estabilidade sugere boa oportunidade nos fundos ?direcionais? ou ?macro?, sem perder de vista a meta primordial da preservação do capital, que só se atinge com a diversificação. ?Se eu pudesse dar um conselho só para o investidor, eu diria: monte uma carteira diversificada. Você não precisa ?fazer a vida? em 2007?, diz Pardi. Sua dica para o investidor que não conhece multimercados e quer ter acesso a esse segmento é pegar uma pequena parte do seu capital e investir em um fundo de fundos ? não por acaso, a especialidade da Arsenal. A vantagem é a diversificação da gestão. ?É uma boa opção para quem quer investir, por exemplo, R$ 20 mil?, sugere Pardi. Os próprios bancos hoje oferecem essa opção para investidores de qualquer porte.
Marcello Paixão, sócio da Principia Capital Management, que tem no uso intensivo de análise quantitativa seu principal diferencial, nota que, dentro da categoria multimercados, ainda há muita concentração em fundos macro, que dependem basicamente de cenários. Por isso, levando em conta o conceito de diversificação de risco, ou seja, a técnica de investir em categorias de ativos com baixa correlação uns com os outros, ele avalia que os fundos de arbitragem são boa alternativa, porque dependem pouco do cenário macroeconômico. Paixão sugere a aplicação de quatro critérios para a escolha de um fundo: 1) custo (?quanto estão me cobrando para gerir a aplicação??); 2) retorno; 3) segurança (?quanto estou correndo de risco??); 4) diversificação (?qual o grau de conexão com os outros ativos da carteira??).
Popularização e sofisticação são ambos movimentos desejáveis. Mas, mesmo com eles, os ganhos dos multimercados em 2006 nem sempre compensaram o risco corrido pelo investidor. No acumulado do ano passado, os multimercados sem renda variável tiveram rendimento inferior ao proporcionado pela Bolsa de Valores e mesmo por alguns fundos de renda fixa. A expectativa é de uma virada neste jogo em 2007, à medida que os juros continuem a cair. Mas não há garantia de que isso aconteça. ![]()
R$ 248 bilhões foi o valor total aplicado em fundos multimercados em 2006 |