02/10/2002 - 7:00
Tudo certo, chegou a hora de abandonar a rotina de trabalho e curtir a aposentadoria. Você seguiu à risca os seus projetos profissionais e formou um belo patrimônio. Porém, deixou de lado os planos de previdência. Mas dinheiro hoje não é problema. As suas aplicações rendem bons lucros. No entanto, paira uma dúvida. Os recursos vão resistir às altas e baixas do mercado financeiro pelos próximos 20, 30 anos ou pelo resto da sua vida? Para se livrar das incertezas econômicas, há uma opção pouco conhecida. Comprar com parte dessa verba acumulada uma apólice de seguro que garanta uma renda mensal vitalícia. Assim, não vai precisar nem mesmo se preocupar com os indicadores econômicos, taxas de juros e câmbio. Essa tarefa ficará por conta da seguradora e independentemente das variações, ela pagará a sua renda corrigida pela taxa de inflação. Em geral o índice utilizado é o IGPM, que atualmente está em cerca de 4% ao ano. O atrativo não é o ganho financeiro, mas a comodidade.
Se gostou da estratégia, pondere apenas um risco dessa aplicação: se a seguradora quebrar levará a sua aposentadoria junto e adeus à vida financeira tranqüila na maturidade. Por isso, antes de contratar uma renda vitalícia é preciso pesquisar bem sobre a saúde financeira das empresas do setor. O problema, na opinião do diretor comercial da Sul América Seguros, Toni Lotar, não elimina a eficiência do produto. ?Afinal, o dinheiro guardado num fundo também está sujeito ao risco de falência do banco. Os imóveis podem ser depreciados e o dólar trancado no cofre fica à mercê da violência?, afirma Lotar. Diante do inevitável, a aplicação, cada vez mais, é indicada para os investidores que não juntaram dinheiro para a aposentadoria pelo sistema convencional de planos privados. Na lista estão executivos que recebem bônus ao sair da companhia, os investidores do mercado imobiliário e de ações.
Idade. Qualquer ativo financeiro pode ser transformado num seguro de renda vitalícia da manhã para tarde. ?O cliente assina o contrato às 10 horas, paga a apólice e às 14 horas saca a primeira parcela mensal do benefício?, explica o diretor da ABN Seguros e Previdência, Flávio Peronde. Assim como nos planos de aposentadoria, a idade também é o fator determinante. Porém, a lógica é inversa da utilizada nas aplicações para acumular recursos para a aposentadoria (PGBL e VGBL). No seguro, quanto maior a soma dos anos vividos, menor o valor do seguro. Um executivo de 60 anos, por exemplo, recebeu R$ 1 milhão em ações e bônus, resultado da negociação da sua despedida da empresa. Se ele transformar esse dinheiro num seguro de renda vitalícia, terá mensalmente R$ 10 mil nos próximos 20 anos. Um outro colega, de 65 anos, tomou a mesma decisão. Só que ficará com ganhos de
R$ 20 mil por mês. O cálculo é feito pela estimativa da expectativa de vida e análises atuariais, que definem quanto o seu dinheiro irá render para a seguradora e a quantia que será repassada para você.
Agora, outra questão: se o investidor viver mais tempo do que o previsto na apólice? Não tem problema. Pelo contrário, ele estará no lucro. Continuará a receber o benefício por toda a vida. ?Essa é uma das vantagens. O valor a receber e o tempo da aposentadoria são calculados pela média do grupo de clientes?, diz Peronde. Ainda pode ocorrer o inverso: o executivo falecer antes do prazo. Neste caso, há duas opções. Na assinatura do contrato, determinar o repasse do dinheiro para um sucessor até encerrar o período definido no contrato. É claro, há um custo. Se deixar a renda para a esposa que está na mesma faixa etária, a diferença é pequena. Pagará pelo seguro cerca de 10% a mais. Quando é um jovem, o negócio fica caro. O aumento no preço pode chegar a 50%. Senão, a única alternativa é deixar a sua herança para a seguradora.
Lembre-se ainda que a mordida do leão também irá levar uma parcela da sua aposentadoria. Para amenizar essas perdas, Peronde revela uma dica certeira. Antes de comprar uma apólice, coloque o dinheiro das aplicações acumuladas ao longo dos anos num VGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres), no qual o imposto de renda é descontado apenas no momento da aplicação. Depois, transfira os recursos para o seguro de renda vitalícia. Dessa forma, a renda mensal recebida não será mais tributada, você terá direito a usufruir do benefício fiscal concedido para os investidores dos planos convencionais de previdência privada (onde iniciou o investimento). A transferência de uma aplicação para outra pode ser feita no mesmo dia.