22/02/2013 - 21:00
A marcha à ré dos juros vem derrubando os ganhos dos investidores na renda fixa e justificando a procura pela rota alternativa das ações. No entanto, esse caminho tem um obstáculo e tanto: a baixa rentabilidade do Índice Bovespa. Andando em marcha lenta, o principal indicador do mercado acionário vem reduzindo o torque dos fundos de ações a ele vinculados. Entre julho de 2007 e dezembro de 2012, a valorização nominal do Índice Bovespa foi de 12,5%, muito abaixo da variação acumulada de 71,2% dos juros. O problema, no entanto, para muitos investidores, é arriscar demais em um território desconhecido e cheio de surpresas como a renda variável.
Para Felipe Prata e Luis Fonseca, sócios da Nest Investimentos, a saída, nesses casos, é partir para os fundos de ações, principalmente os com gestão ativa, descolados do Índice Bovespa. “É uma alternativa para manter o nível de rentabilidade”, diz Prata. O principal diferencial desses fundos está no trabalho de análise do gestor, que tem a possibilidade de escolher papéis que apresentem oportunidades de crescimento, independentemente do índice. Outros gestores compartilham da opinião de Prata. “Apesar de ter o Ibovespa como referência, a categoria dá liberdade de escolha ao gestor, que não precisa montar seu portfólio de acordo com o índice e pode selecionar sua carteira conforme sua própria análise”, diz Patrick O´Grady, diretor da XP Gestão.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), nos últimos 12 meses, até janeiro de 2013, os fundos de ações do tipo Ibovespa ativo, que utilizam o índice como referência, mas buscam superá-lo, registram um ganho de 2,83%, enquanto os fundos indexados, que visam a acompanhar o comportamento do índice, amargam um prejuízo de 4,23%. Em cinco anos, desde o auge da crise econômica mundial em 2007 – e em meio a uma enorme volatilidade das bolsas mundiais –, esses produtos acumulam alta de 8,41%. No entanto, alguns deles tiveram retornos muito acima da média, como por exemplo o Nest Ações FIC, com ganho acumulado de 327,5% no período.
O’grady, da XP Gestão: ”Apesar de ter o ibovespa como referência,
a categoria dá liberdade de escolha ao gestor”
De acordo com Prata, o sucesso do produto se dá pela análise na escolha do portfólio e pela capacidade de ajustar rapidamente a carteira, de acordo com o cenário. “Entre 2007 e 2008, ficamos comprados no setor de commodities e vendidos nos setores ligados ao consumo interno”, diz ele. “Invertemos essa posição, em 2008, e permanecemos nela até hoje.” Prata acrescenta que, nos últimos quatro anos, a crise internacional manteve o fundo focado em setores voltados ao mercado doméstico, como consumo, construção civil, educação, shoppings e alimentos. Outro destaque da categoria no período é o Opus Ações FIA, da Opus Investimentos, que rendeu a seus clientes 98,5%, de julho de 2007 a dezembro de 2012.
Segundo Adriano Seabra, gestor de renda variável da Opus, nos últimos anos, a principal estratégia da gestora foi apostar em empresas que tenham crescido independentemente do desempenho da economia. “Por conta do cenário de incertezas globais, nosso foco foram as empresas anticíclicas, que não eram afetadas pelas crises na Europa e nos Estados Unidos e não sofriam interferência do governo”, afirma Seabra. Em 2012, as escolhas acertadas incluíram Brasil Farma, Qualicorp e empresas do setor de educação. “Antes da escolha, avaliamos o negócio, os executivos da empresa, o valor e apostamos naquelas que mais nos transmitam confiança”, diz. Para 2013, a estratégia deve ser mantida, mas com algumas novidades.
Ganhos de 327% em 5 anos: Felipe prata (à esq.) e Luis Fonseca, da Nest Investimentos, atribuem
o bom resultado do fundo à capacidade de ajustar rapidamente a carteira, de acordo com o cenário
“Neste ano, vamos retomar nossas apostas em empresas com mais liquidez, como Vale e Gerdau, que estiveram fora de nosso portfólio no ano passado”, afirma Seabra. Para ele, a mineradora e a siderúrgica já atingiram um nível mínimo com as quedas das cotações, no passado, e são boas oportunidades de compra. O´Grady, da XP, concorda com Seabra. A gestora é responsável pelo XP Investor FIA, que acumula ganhos de 68,5%em cinco anos, e incluiu Gerdau em seu portfólio recentemente. “Ao preço atual, em torno de R$ 16,40, é uma oportunidade de ganhos no longo prazo”, afirma O´Grady. Além da Gerdau, papéis da Qualicorp, Estácio Participações e Alliansce estão entre as apostas do fundo para 2013. “Focamos em empresas voltadas ao mercado interno, com potencial de crescimento e sem interferência da crise internacional”, diz.
“Além disso, em um cenário no qual a economia brasileira tem crescido pouco, a tendência é buscar setores com dinâmica própria.” Segundo Bruno de Godoy Garcia, gestor de renda variável do BNY Mellon ARX Investimentos, e responsável pelo fundo BNY Mellon ARX FIA, com retorno acumulado de 58,9% no período analisado, o segredo está em estudar as empresas de forma quantitativa e qualitativa. “É importante avaliar o preço dos papéis, mas não basta comprar barato”, diz Garcia. “É preciso analisar a qualidade da empresa e sua capacidade de gerar valor.” Para bons resultados, a importância de um gestor mais ativo é vital. “À medida que se tem mais empresas listadas e mais opções, o trabalho do gestor fica cada vez mais valorizado”, afirma Garcia.