Durante os 35 anos em que comandou a americana Cargill, o administrador de empresas mineiro Sérgio Barroso fez questão de manter os hábitos que adquiriu na época em que acordava cedo para trabalhar na fazenda de café da família, na cidade de Cipotânea, na Zona da Mata Mineira. O dia do executivo começava às 6 horas, com uma série de ligações para os produtores rurais. Isso quando não deixava o terno de lado e pegava a estrada de terra para visitar as lavouras. Mesmo com sua saída da Cargill, em 2012, Barroso não abandonou o campo.

Atualmente, ele é consultor e conselheiro da recém-criada Central Brasileira de Comercialização (CBC). Proprietário de fazendas na região de Avaré, no interior de São Paulo, onde cultiva dois milhões de pés de cafés, Barroso é um investidor aficionado pelo agronegócio. Além de possuir ações de empresas abertas, ele tem uma participação minoritária na companhia de gestão de florestas biofílicas e ainda carrega no portfólio contratos futuros de commodities, como soja, café, milho e algodão. Barroso explica sua filosofia de investimentos em poucas palavras.

“Na bolsa há empresas muito profissionais, capazes de exportar produtos com maior valor agregado em vez de apenas vender commodities, e são elas que devem estar no radar do investidor”, diz ele. Na carteira de Barroso estão ações da BRF, por exemplo. “Não recomendo comprar ativos de commodities que de uma certa forma estejam relacionados ao governo, como é o caso do etanol”, diz ele. O investidor que quiser compartilhar os bons resultados do agronegócio pode optar também por outros instrumentos, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Regulamentados há poucos anos, esses papéis de renda fixa entraram definitivamente no radar dos investidores.

No fim de outubro, o estoque das LCA registrado na Cetip alcançou R$ 36,7 bilhões, um avanço de 39% em relação a outubro de 2013. Nesse mesmo mês, uma emissão de R$ 675 milhões da Raízen fez o estoque de CRA quase dobrar, para R$ 1,7 bilhão. A decisão da Raízen de captar recursos por meio de CRA está calcada na busca por diversificação de fontes de financiamento e no interesse demonstrado pelos investidores. “Buscávamos uma oportunidade para acessar os investidores pessoa física, pois estávamos convencidos do potencial desse mercado”, diz Rafael Bergman, diretor financeiro da Raízen. Deu certo.

Mais de dois mil indivíduos participaram da oferta e, devido ao seu sucesso, a companhia decidiu elevar o valor da captação para R$ 675 milhões. “Os recursos serão destinados ao negócio sucroenergético, incluindo o programa de investimentos nos canaviais, nas usinas e em oportunidades de crescimento”, afirma Guilherme José Cerqueira, vice-presidente de finanças da Raízen. O interesse do investidor qualificado (com ao menos R$ 300 mil aplicados) se explica pelo preço unitário acessível do papel, de R$ 1.000 cada, e dos ganhos potenciais, entre 11% e 12% ao ano, isentos de imposto.

“Na época da oferta, o País envolto com o cenário eleitoral e os prognósticos para o setor de açúcar e álcool eram potencialmente negativos. Mesmo assim, a captação foi muito boa, o que mostra que existe demanda para papéis como esses”, afirma João Paulo Pacífico, presidente do Grupo Gaia, que foi responsável pela securitização dos títulos. Fernanda Mello, presidente da securitizadora concorrente Octante, avalia que as perspectivas são de um 2015 ainda mais pujante, conforme mais empresas decidam fazer esse tipo de operação. “Às vezes, a tomada de decisão demora mais de um ano”, afirma Fernanda.