23/05/2022 - 17:04
O ex-governador de São Paulo João Doria anunciou nesta segunda-feira (23) que desistiu de sua candidatura à Presidência da República.
A desistência ocorre após seu próprio partido, o PSDB, pressioná-lo a desistir da candidatura.
Doria anuncia que não será candidato à presidência pelo PSDB
No discurso, ele afirma que se retira da disputa “com o coração ferido, mas com a alma leve” e ressalta que não é a escolha da cúpula do PSDB para a candidatura.
Além disso, afirmou que o país “precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não querem aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção e nem aquele que não deu conta de salvar vidas, não deu conta de salvar a economia e que envergonha nosso país em todo mundo.”
Leia a íntegra do discurso de João Doria desistindo de sua candidatura à Presidência:
Boa tarde a todos.
Esse é um pronunciamento importante. Hoje é um dia de respostas, mas também um dia de perguntas. As pessoas sempre me perguntam por que eu deixei uma vida de conforto à frente das minhas empresas bem-sucedidas para entrar na política?
Sou filho de um político cassado pelo golpe militar de 64. Meu pai, tal como eu, começou a vida pobre, mas lutou, trabalhou e alcançou uma vida confortável, dono de uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Até o dia que decidiu lutar por um Brasil melhor, inspirado por Franco Montoro.
Nele, era urgente a necessidade de servir ao povo brasileiro, de combater a desigualdade e a injustiça social. Doria, meu pai, foi eleito deputado federal e, em abril de 64, foi cassado pelo golpe militar. Perdeu seus direitos políticos, todos os seus bens e foi obrigado a viver no exílio. Dois desses 10 anos de exílio, eu, meu irmão, Raul, e minha mãe, Maria Silvia, estivemos ao lado do nosso pai.
Inspirado pelos seus ideais e também motivado por Franco Montoro colaborei desde cedo com a vida pública. Com Mário Covas, fui Secretário de Turismo de São Paulo. Por conta de uma gestão bem sucedida, fui convidado a presidir a Embratur, emblematicamente criada por um projeto de lei de autoria de meu pai na Câmara. Como militante e ativista, organizei, a pedido de Franco Montoro, o histórico comício das Diretas Já em 25 janeiro de 1984, aqui em São Paulo.
Em 2015, marcava o auge de uma recessão brutal que dizimou empregos, levou a inflação às alturas e destruiu sonhos. Nada muito diferente do que enfrentamos hoje. Inconformado, acompanhava as medidas econômicas de um governo incompetente e o desvio de dinheiro público.
Em 2016, seguindo os passos de meu pai, decidi disputar uma eleição. No PSDB, participei de três prévias: para prefeito, para governador e para presidente da República. As três únicas prévias na história do partido. Venci as prévias em 2016. E, logo depois, venci as eleições para a prefeitura da maior cidade do país em primeiro turno. Fato inédito na história política de São Paulo.
Guardo as melhores lembranças da prefeitura e guardo as melhores lembranças do meu amigo Bruno Covas.
Tenho orgulho de ter zerado a fila de exames nos postos de saúde, com o inédito Corujão da Saúde. Atendemos a população em situação de rua com os Centros de Acolhimento, recuperamos praças, avenidas e ruas. Promovemos a maior inclusão de crianças desassistidas no redimensionamento das creches e escolas municipais. Lançamos os programas de concessão do Parque do Ibirapuera, do Pacaembu e do Anhembi, entre outras conquistas importantes para a cidade.
Tenho orgulho de ter feito uma gestão transformadora no estado, reconhecida até mesmo por adversários. Diante do desafio histórico da pandemia, me empenhei pessoalmente para trazer ao Brasil 124 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. Procurei fazer o certo. Salvamos vidas e a economia.
Na pandemia, São Paulo cresceu 5 vezes mais do que o Brasil, gerando um terço de todos os novos empregos do país. Por todo o território nacional, a vacina foi sinal de esperança, salvando milhões de brasileiros. Vencemos com a ciência, os discursos do ódio, das fake news e o negacionismo.
Assim como na saída da prefeitura, quando deixei o comando da cidade nas mãos do saudoso Bruno Covas, desta vez também deixei o governo de São Paulo em boas mãos. Rodrigo Garcia está levando em frente um trabalho que começou com uma equipe de craques . E que, certamente, lhe renderá a vitória nas eleições desse ano. Rodrigo será reeleito governador de São Paulo.
Em dezembro do ano passado disputei as prévias do partido para ser candidato a presidente da República e, mais uma vez, as venci.
Agradeço também aos mais de 6 milhões de brasileiros que, nas pesquisas de opinião pública, já se manifestaram a intenção de votar no meu nome para presidente antes mesmo do começo da campanha eleitoral.
O Brasil precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não querem aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção e nem aquele que não deu conta de salvar vidas. Não deu conta de salvar a economia e que envergonha nosso país em todo mundo.
Para esta missão, coloquei meu nome à disposição do partido. Hoje, nesse 23 de maio, serenamente entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o consenso , o diálogo, o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal.
O PSDB saberá tomar a melhor decisão do seu posicionamento para as eleições desse ano. Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido, de missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção.
Peço desculpas pelos erros. Se me excedi foi por vontade de acertar. Se exagerei foi pela pressa em fazer com perfeição. Se acelerei foi pela urgência que as ações públicas exigem. Os acertos foram frutos do trabalho em equipe. Da ousadia e da coragem e do propósito que sinto em perseguir. Sempre, sempre fazer bem feito o que tem que ser feito. Respeito e trabalho. Fazer do possível o impossível. Esse é meu mantra e levo por onde eu for.
Agradeço a minha equipe aguerrida, aos membros do partido que sempre me defenderam, aos que lutaram ao meu lado, que foram leais e defenderam a democracia interna do partido e defendem como eu a liberdade e igualdade no Brasil.
Agradeço também aos colaboradores que estiveram comigo na prefeitura e no governo do estado. Que se empenharam pelos resultados históricos. Que juntos alcançamos. Agradeço também aos militantes do PSDB, extraordinários guerreiros que nunca me abandonaram. Agradeço a Deus pela disposição que sempre me deu. Pela capacidade de trabalho, senso de justiça e paz no coração.
Agradeço também a todos os verdadeiros amigos que sempre me apoiaram em todas, em todas as minhas decisões. Por fim, relembro aqui o belo poema atribuído a Cora Coralina: ‘Tem mais chão os meus olhos do que o cansaço das minhas pernas. Mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros. Mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça’.
Seguirei. Seguirei como observador sereno do meu país. Sempre à disposição para lutar a guerra para a qual eu for chamado. Na vida pública ou na vida privada. Que Deus proteja o Brasil.
Muito obrigado. Até breve.