Temor de violência na campanha eleitoral após assassinato de petista e ameaças sofridas por quem protege a Amazônia e os povos indígenas são destaques. Jornais associam problemas a ações de Bolsonaro.

Die Zeit – Fugindo das gangues de Bolsonaro (19/07)

Agente da Funai é ameaçado por madeireiros na Amazônia e foge para Roma, sendo obrigado a deixar para trás quem ele protegia. Ricardo Rao, ex-agente da Funai, agora se descreve como um “refugiado”. Ele deixou o Brasil porque teme por sua vida.

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“Também presenciei muita violência que esses madeireiros cometeram contra a população indígena”, diz Rao. Ameaças, ataques, assassinatos faziam parte do cotidiano. De fato, o trabalho missionário da Igreja Católica documenta há anos o número de tais ataques e, sim, o número está crescendo. “Para nós, funcionários do governo, havia pelo menos uma garantia implícita”, diz Rao. “Se algo acontecer com um de nós, os culpados devem contar com uma reação robusta, com processo por parte da polícia.” Mas isso tem sido diferente com o governo de Jair Bolsonaro. “Desde Bolsonaro, todos estão contra nós.”

O tema Amazônia era curiosamente importante para o novo presidente desde o início. Nas primeiras semanas de seu mandato, ocupou cargos importantes como o Ministério do Meio Ambiente e a Funai com indivíduos que tinham tudo na mente, menos a proteção da floresta tropical e de seus habitantes.

Agora generais, ex-policiais, grandes lobistas do agronegócio e missionários evangélicos estão no comando. Defensores dos direitos humanos e ambientalistas engajados foram transferidos dessas agências para serviço de escritório, e as verbas para fiscalizações ambientais foram cortadas. Durante a campanha eleitoral, o presidente já havia menosprezado os povos indígenas (“Vivem como num zoológico”) e feito campanha pela rápida exploração de seus habitats por mineradoras, madeireiros e pecuaristas.

Desde então, as taxas de desmatamento dispararam novamente. Rao diz que os funcionários locais dos escritórios regionais também logo perceberam como era a nova política. “Desde que Bolsonaro chegou ao poder, as ameaças dos destruidores da floresta ficaram muito mais abertas. Essas pessoas deduziram que o presidente da República lhes havia dado permissão. E então foram confrontadas conosco, representantes do Estado, que queriam detê-los. E se sentiram como no direito de nos ameaçar.”

Die Tageszeitung – O jogo de Bolsonaro com a violência (13/07)

Num comício de campanha em 2018, Bolsonaro pegou um pedestal de microfone e, imitando uma arma, gritou no microfone: “Vamos fuzilar a petralhada”. Especialistas dizem que Bolsonaro também incita esses atos por meio de sua campanha pelo relaxamento das leis sobre armas.

Na semana passada, aficionados por armas se reuniram na capital Brasília. O protesto foi liderado pelo filho do presidente Eduardo Bolsonaro. Guaranho, o assassino do petista, postou uma foto com ele no Twitter em junho de 2021.

Muitos esperam violência em torno das eleições marcadas para outubro. Não é só desde o assassinato mais recente que se discute como proteger Lula. Em aparição pública no Rio de Janeiro, o ex-sindicalista usava colete à prova de balas por questões de segurança. Apesar de toda cautela, houve vários incidentes em eventos.

Muitos esquerdistas não querem confiar apenas na polícia para proteger seu candidato, e provavelmente não sem razão. Em várias cidades, policiais teriam vazado informações confidenciais sobre eventos com Lula. Muitos policiais no Brasil apoiam Bolsonaro.

Süddeutsche Zeitung – Brasil teme campanha eleitoral violenta (15/07)

Um apoiador de Bolsonaro atira num petista, o chefe de Estado minimiza. Faltando dois meses e meio para a eleição presidencial, há preocupação crescente de que o clima tenso no país possa se tornar violento.

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Ataques físicos entre apoiadores de ambos os campos políticos estão aumentando

O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo, houve mais de 40 mil assassinatos só e, 2021, e os políticos também costumam ser vítimas da violência. Mas agora, com a campanha presidencial extremamente polarizada, muitos temem que a situação saia do controle. Os ataques verbais e físicos entre os dois campos aumentaram nos últimos dias. O assassinato do último fim de semana foi apenas mais um degrau nessa escalada, e muitos estão se perguntando o que está por vir agora.

O presidente Jair Bolsonaro tentou minimizar o caso nos últimos dias. Ele ligou para parentes [das vítimas] e os convidou até a capital Brasília. No entanto, alguns familiares dizem agora que o presidente de direita quer tirar vantagem política do ocorrido e de sua mostra pública de empatia.

Enquanto isso, a polícia investiga em Foz do Iguaçu, sul do Brasil. Um mandado de prisão foi emitido contra Jorge José da Rocha Guaranho. Ele ainda está no hospital por causa de seus ferimentos a bala. A vítima, Marcelo de Arruda, foi sepultada no início da semana. O homem de 50 anos deixa esposa e quatro filhos, o mais novo de menos de três meses.